Encontro de Lexicografia «Os novos vocabulários ortográficos»
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No dia 21 de julho realizou-se na Casa da Língua Comum, em Santiago de Compostela, o Encontro de Lexicografia, subordinado ao título «Os novos vocabulários ortográficos», com a participação de Ana Salgado, da Academia das Ciências de Lisboa, e de Carlos Durão e Isaac Estraviz, da AGLP.
O professor Estraviz realizou um percurso vivencial explicando os condicionamentos organizativos e dificuldades técnicas em que desenvolveu o Dicionário Estraviz, contributo que atravessou diversas etapas na sua impressão em papel, até chegar à sua versão em linha, com mais de 137 000 palavras definidas, dos verbetes mais populares ao vocabulário técnico e científico.
Este dicionário está a ser atualizado diariamente, incluindo não só os termos de uso frequente no português europeu (essencialmente Galiza e Portugal) como também os de uso corrente no Brasil, convertendo-o num instrumento de consulta mais abrangente.
Salientou também o orador que a adaptação ao Acordo Ortográfico, especialmente no que se refere à manutenção ou supressão das sequências consonânticas, e ao uso do traço de união, nos casos em que pode oferecer dúvidas interpretativas, está a ser realizada e em conformidade com as soluções adotadas para o português europeu do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa. Junta-se assim o valor da abrangência geográfica do dicionário à certeza da correção das formas gráficas, evitando os riscos que implica a multiplicidade de soluções adotadas como consequência de decisões unilaterais de cada país.
Por sua parte, Carlos Durão pôs a ênfase nas dificuldades que a comunidade linguística galega atravessa, situação que a AGLP pretende contribuir a ultrapassar com os instrumentos que elabora, entre os quais o Vocabulário Ortográfico da Galiza, contributo da sua Comissão de Lexicologia e Lexicografia, de que ele é coordenador.
Apresentado em 2014, com mais de 154 000 entradas, é disponibilizado desde essa data para consulta e descarga gratuita na página da Academia. Este número de entradas considerou-se um termo médio razoável no qual coubesse aquele vocabulário propriamente galego (incluindo por exemplo a fauna e flora galegas, bem como os topónimos, antropónimos, gentílicos, etc., os vocábulos mais peculiares da Galiza, nela incluída a Galiza estremeira) junto com o corpus geral da língua, num amplo Vocabulário patrimonial, naturalmente partilhado na sua quase totalidade com toda a Lusofonia.
A Dra. Ana Salgado, da Academia das Ciências de Lisboa, apresentou o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa on-line, primeira obra da Academia na internet.
Os precedentes deste trabalho remontam ao primeiro Vocabulário oficial académico, publicado em 1940, com base na reforma de 1911, prefaciado por Francisco Rebelo Gonçalves. Também ao Vocabulário Ortográfico Resumido da Língua Portuguesa de 1947, com cerca de 40 000 entradas, elaborado pelos filólogos Francisco Rebelo Gonçalves e José de Sá Nunes, e revisto pela Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras, surgindo em 1970 uma reedição desta mesma obra, sob a chancela da ACL. Também como precedente citou o importante Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves de 1966, publicado pela Coimbra Editora, que incluiu regionalismos portugueses e brasileirismos, e ainda hoje continua a ser uma obra de referência.
Teve de chegar o século XXI para que a ACL editasse o Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa, na sequência das obras anteriores, e que surge com a necessidade de adaptação ao novo Acordo Ortográfico. Foi uma obra da Comissão de Lexicologia e Lexicografia da Língua Portuguesa de 2012, com a coordenação de Aníbal Pinto de Castro, Maria Helena da Rocha Pereira e Telmo Verdelho. Chegando às 70 000 entradas. Referiu ainda, Ana Salgado, o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, outra obra de muita importância para a lexicografia, sob a coordenação de João Malaca Casteleiro, indicando que atualmente a ACL está trabalhando sobre uma nova versão do dicionário, que poderá, em qualquer momento, estar acessível ao público, não acabada mas em atualização permanente.
Todos estes precedentes conduziram ao Vocabulário Ortográfico da ACL em suporte digital, disponível de forma gratuita, elaborado conforme à norma europeia da língua no endereço www.volp-acl.pt. A página do Vocabulário já apresenta um número considerável de visitas, além do previsível, com pesquisa de conteúdos de diversa ordem. Referiu Ana Salgado que os critérios de apresentação das palavras pesquisas ser objeto de revisão, com o intuito de melhorar a resposta às necessidades do utilizador. O repositório digital admite a pesquisa de termos com a ortografia de 1945, que remetem para a forma atual.
Os corpora de referência foram os seguintes: o Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves, organizado e reintegrado nesta nova base de dados digital, o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, publicado em 2001, os contributos académicos das distintas áreas de especialidade da ACL, o contributo galego que Academia Galega da Língua Portuguesa enviou, que ainda tem de ser revisto em alguns aspetos, e o Vocabulário Ortográfico Comum do Instituto Internacional da Língua Portuguesa. Foi feito também um cruzamento com a nomenclatura de todos estes corpora, criando uma base de dados totalmente independente.
O trabalho agora apresentado regista o léxico da língua comum e o onomástico, mas não ainda os elementos de formação, o que está a ser realizado e será disponibilizado em breve. Como documentos anexos, pretende incluir-se documentos informativos e complementares das regras ortográficas como, por exemplo, o emprego do hífen.
O léxico de base do Vocabulário agora apresentado é o do português europeu, e inclui palavras do Brasil, cujas entradas são validadas pela consulta do Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras. Também de Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Macau, Timor-Leste e Galiza. Os visitantes podem enviar consultas e sugestões à Comissão de Lexicologia e Lexicografia da ACL, de modo que se está a produzir um contacto mais assíduo com o público, o que melhora as expectativas futuras.
O contributo da Galiza inclui variantes galegas, na maior parte recolhidas no Dicionário Estraviz, e também de outros dicionários, como o de Eladio Rodriguez e Aníbal Otero, sempre conforme à nova ortografia, tendo por base o Vocabulário Ortográfico da Galiza da AGLP, publicado em 27 de junho de 2015, indicando que o tratamento de determinadas entradas, aproximadamente 30 a 40 ocorrências, deverá ser discutida futuramente. Pesquisando, já se irão encontrar palavras com a indicação “Galiza”.
Por último, Ana Salgado indicou que a página do Vocabulário inclui também recomendações académicas, como pareceres sobre subtilezas e particularidades da língua, como, por exemplo, o texto relativo à forma recomendada de grafar os novos elementos químicos, acrescentados recentemente à Tabela Periódica dos Elementos.
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https://www.academiagalega.gal/academia/info-atualidade/item/1888.html#sigProIda946d3d10b