Edição galega da Estilística de Rodrigues Lapa, o português que estudava escritores da Galiza como modelos de língua, com o apoio da AGLP

 

Paulo Mirás, numerário da AGLP, é o diretor editorial da publicação, que sai do prelo da Através com um “Prólogo” do professor José Luís Rodríguez

 

AGLP 01/03/2025

Texto: J. Rodrigues Gomes; Produção: Xico Paradelo.


A Estilística da Língua Portuguesa, do filólogo, ensaísta e professor português Manuel Rodrigues Lapa (Anadia, 1897-1989) “mantém características únicas que a tornam especial e insubstituível. A sua abordagem à língua e ao estilo continua a ser um marco, oferecendo detalhes valiosos que não se encontram noutros trabalhos. Esta reedição é uma homenagem ao seu legado e uma oportunidade para as novas gerações descobrirem uma obra que moldou o estudo da língua portuguesa”, afirma o professor Paulo Mirás, numerário da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP) e diretor editorial da primeira edição galega desta obra clássica. A publicação sai agora do prelo da editora Através, de Santiago de Compostela, coincidindo com o 80 º aniversário da primeira edição na Seara Nova de Lisboa no ano 1945. Esta é uma edição que promove a AGLP.

Em vida de Rodrigues Lapa contou com até onze edições, em Portugal e no Brasil. Esta nova edição galega acompanha-se de um prólogo de José Luís Rodríguez, professor catedrático da Universidade de Santiago de Compostela, quem o conheceu e colaborou estreitamente com ele. Rodríguez põe em destaque os trabalhos de Rodrigues Lapa sobre a Galiza e lembra como, já desde 1933, aborda a política do idioma, em que “vê três modalidades: a galega, a lusitana e a brasileira, às quais muito mais tarde haverá de acrescentar pelo menos a africana ou africanas, após a independência das antigas colónias. E propõe avançar na unificação ortográfica, sempre que possível, tanto com o Brasil como com a Galiza”.

O livro editado pela Através tem 230 páginas, incluído um “Índice analítico” de autores, matérias e palavras. Para além do antes citado “Prólogo”, o volume consta de 15 capítulos: quatro deles dedicados ao vocabulário português, e outros sobre a fraseologia, a formação das palavras, o artigo e os pronomes, o adjectivo e os nomes, os pronomes, dois capítulos sobre o verbo, um específico sobre a concordância, e os três últimos sobre palavras invariáveis. 

Os dois primeiros lançamentos do livro estão agendados para o 7 de março, no Porto, na UNICEPE, cooperativa livreira de estudantes do Porto [na Praça de Carlos Alberto 128 A] às 18.00 horas, com a intervenção de Joana Matos Gomes, da Universidade do Porto, e Paulo Mirás; e o 4 de abril na livraria Centéssima Página, de Braga, pelas 18.30 horas, com a presença de Álvaro Iriarte Sanromán, professor da Universidade do Minho,  com José Luís Rodríguez e Paulo Mirás.

 

Literatura galega em diálogo com as literaturas lusófonas

Na Estilística da Língua Portuguesa, para além de estudar o estilo de grandes nomes das literaturas lusófonas (Eça de Queirós, Machado de Assis, Camões, Guimarães Rosa, Camilo Castelo Branco, Mário de Andrade, Monteiro Lobato e mais), Rodrigues Lapa também se ocupa do estilo de escritores da Galiza, como Castelao, Carvalho Calero, Novoneyra, Otero Pedrayo, Cabanillas, Blanco Amor, Fole ou Xavier Alcalá.

Como exemplificação do tratamento de autores da Galiza, no segundo dos capítulos que dedica ao vocabulário, ao falar do eufemismo, após citar o caso do conselheiro Acácio, famoso personagem de Eça de Queirós, acrescenta Rodrigues Lapa (p. 33): “Até os ladrões entre si usam o eufemismo, como aquele ratoneiro duma novela de Castelao, que suavizou o termo roubar em apanhar”, acrescentando um trecho de Os dous de sempre.

Devemos valorizar o interesse e o esforço de Rodrigues Lapa como um trabalho visionário que construía pontes além das nossas fronteiras, tanto dentro como fora da Europa. A sua obra serve para nos abrir os olhos e mostrar que não estamos sós no mundo: partilhamos uma língua comum que deve ser dignificada e celebrada. Para Lapa, os nossos escritores fazem parte de um universo linguístico e cultural mais amplo, onde o galego e o português se complementam e enriquecem mutuamente”, afirma Paulo Mirás.

Ele via a língua como um instrumento vivo, cheio de recursos e estilo, capaz de crescer e evoluir com os seus utilizadores. A sua defesa da ortografia portuguesa como algo tão nosso quanto deles deixa claro o seu ponto de vista: a língua é um património partilhado, que transcende fronteiras e se fortalece na sua diversidade. Rodrigues Lapa não só nos ensinou a valorizar a nossa língua, mas também a vê-la como um elo de união e identidade no mundo lusófono”, acrescenta o diretor editorial do volume.

 

Um referente incontornável”

Paulo Mirás frisa que, para a Galiza atual “Rodrigues Lapa continua a ser um referente incontornável sobre como escrever bem na nossa língua. O professor português sempre considerou os autores galegos como exemplares para Portugal e o Brasil, vendo o galego como uma extensão natural da língua portuguesa. A Galiza ocupava um lugar especial no seu coração, algo que fica evidente nas suas inúmeras viagens à nossa terra e na sua dedicação ao estudo e promoção da cultura galega. Esta relação profunda com a Galiza materializou-se em obras como os Estudos Galego-Portugueses. Rodrigues Lapa não só valorizou a nossa língua, mas também a integrou num contexto mais amplo, reforçando a sua importância como património partilhado e vivo”.

Página da obra no site da Através editora.

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