É bem sabido que a Galiza constitui parte do território lusófono atual –e, ademais, uma parte, juntamente com a zona setentrional de Portugal, do território em que a língua portuguesa nasceu.
Avatares de índole política fizeram, no entanto, que a história linguística da Galiza fosse anormal desde os fins da Idade Média, por causa da colonização linguístico-cultural castelhana que o país vem sofrendo desde então. E essa história –que o professor Carvalho Calero definiu acertadamente como «uma história clínica»– determinou negativamente, como é natural, o desenvolvimento da produção literária na língua portuguesa da Galiza durante toda a época moderna e contemporânea.
Isolados socialmente do resto do mundo literário lusófono, os escritores galegos viram-se forçados a usar de modo precário uma língua da qual desconheciam não só uma norma padrão de uso ortográfico ou morfológico mas também exemplos de obras literárias do passado ou do presente que, realizadas num ambiente cultural de normalidade linguística, pudessem servir-lhes de modelo literário.
Compreende-se bem que, nessa situação, as produções literárias galegas fossem redigidas na ortografia castelhana (pois era a única que conheciam tanto os autores como os mais próximos leitores) e com uma morfologia oscilante. Recuperar para a língua portuguesa toda essa produção exige corrigir esses aspetos, provocados pela anormalidade histórica em que os textos nasceram.
A essa ideia corresponde o projeto da coleção «Clássicos da Galiza» que a Academia Galega da Língua Portuguesa iniciou em colaboração com «Edições da Galiza», na sua tarefa de recolocar a Galiza como membro pleno da Lusofonia. Apresenta os mais importantes textos literários galegos numa versão linguística que –sem deixar de ser fiel idiomaticamente aos textos originais– esteja em sintonia com o que é a língua portuguesa atual (nomeadamente nos campos da ortografia e da morfologia).
Desse modo, será possível, esperamos, que as obras literárias galegas possam ser lidas pelos lusófonos de qualquer lugar sem estorvos tão artificiosos como pode ser um sistema ortográfico alheio.
Coleção Clássicos da Galiza: