Contributos de Galiza, Brasil, EUA, Canadá e Valência num livro-homenagem
- Escrito por: AdminWeb
A música de seis poemas universais de Ernesto Guerra da Cal
implica a 5 entidades e instituições e a 9 especialistas
Por Joám Manuel Araújo (*)
Em maio deste ano, um grupo de docentes e estudantes do Conservatório Profissional de Música de Santiago de Compostela organizaram um concerto alicerçado em música para poemas de Ernesto Guerra da Cal. Contaram com a ajuda de Joám Trillo como director, e frutificou aquela iniciativa com duas atuações, uma no próprio centro, e outra no Conservatório de Música de Ferrol. Aquelas atividades foram apresentadas como homenagem para Ernesto da Cal (Ferrol, 19 de dezembro de 1911; Lisboa, 28 de julho de 1994) pelo centenário do seu nascimento, na sequência das comemorações das Letras Galegas. Já na altura se anunciou a intenção de uma edição comemorativa, em que se trabalhava, e que prosperou no final do ano. É essa publicação A música de seis poemas universais de Ernesto Guerra da Cal1, que chega ao mercado em forma de um belo produto literário-musical, pela implicação de cinco entidades e instituições e nove especialistas, de Galiza, Brasil, EUA, Canadá e Valência.
As partituras de quatro desses poemas (“Desespero”, “Cantiga antiga”, “Instante” e “Mais uma vez”) encontram-se na reedição de Lua de Além-Mar e Rio de Sonho e Tempo, realizada pela Associação Galega da Língua em 1991; que inclui a versão definitiva desses poemas realizada pelo próprio Ernesto da Cal. Os organizadores do livro-homenagem encontraram alguma variante a maiores, da música, em arquivos de Valência, de que informam. Os conhecidos compositores valencianos Vicente Asencio, Matilde Salvador e José Evangelista foram os autores da música, na década de 1960.
O texto de “Colóquio” tem também versão definitiva –mas existem variantes antecedentes– de Da Cal no livro Futuro Imemorial. Manual de Velhice para Principiantes (Sá da Costa, Lisboa, 1985), e a partitura foi conseguida a través de Tânia Camargo Guarnieri, filha do eminente compositor brasileiro Mozart Camargo Guarnieri, autor da música para esse poema, estreada num concerto na Universidade Federal da Bahia em agosto de 1959.
Finalmente, oferece-se uma versão de “Cantiga do neno da tenda”, um dos Seis Poemas Galegos de Federico Garcia Lorca, após contrastar o texto conhecido com o autógrafo redigido por Ernesto da Cal, conservado na Deputação Provincial de Ourense e difundido por vez primeira por José Landeira Yrago em 1985. Esta “Cantiga”, segundo consta também nesse autógrafo (e em trabalhos e edições da obra de Garcia Lorca, desde que Eduardo Blanco Amor fez revelação do fato na revista Ínsula, em 1959) tem dedicatória para o próprio Da Cal. Aqui a música utilizada é do compositor galego Xoán Rubia, com arranjos de Isabel Rei, professora do Conservatório Profissional de Música de Santiago, quem transcreveu o texto.
Neste belo produto implicaram-se a editora Dos Acordes, especializada em publicações musicais; e a Academia Galega da Língua Portuguesa, que promoveu esta “edição comemorativa do centenário do nascimento” de Da Cal.
As nove pessoas especialistas são: Isabel Rei Samartim, José Luís do Pico Orjais e Joám Trillo, como editores. Orjais assina assim mesmo uma bem informada “Nota breve à música dos Seis Poemas Universais de Ernesto Guerra da Cal” (pp. 12-17), com dados valiosos a respeito da gênese deste produto.
Do Professor Doutor José-Martinho Montero Santalha, presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa, é o artigo que abre o volume, “Guerra da Cal ‘lírico’” (pp. 9-11), um bem interessante trabalho, em que por sua vez se vale de Carvalho Calero para documentar a tradição de acompanhamento musical na literatura galega.
Após a publicação dos seis poemas (pp. 20-24) deparamos com as partituras, introduzidas por três breves textos: a música brasileira Tânia Camargo Guarnieri (p. 26) refere-se a “Colóquio”, e analisa essa “Cantata para soprano, coro (ad libitum), quinteto de sopros, piano e percussão” elaborada por seu pai; José Evangelista (p. 42), residente no Canadá, esclarece como ele, Matilde Salvador e Vicente Asencio decidiram compor música para quatro poemas de Da Cal, em 1966, e como ele próprio as interpretou na própria morada de Ernesto da Cal em Long Island (EUA) anos depois; e Xoán Rubia (p. 56) dá conta de como musicou a “Cantiga do neno da tenda”, e afirma ser Ernesto da Cal “peça fundamental da cultura galega”.
As outras duas pessoas –e as correspondentes instituições– implicadas são Rosa Castell, do Institut Valencià de la Música, por facilitar documentação a respeito de uma variante da música de “Cantiga antiga”, diferente da até agora mais conhecida; e John O’Neill, da Hispanic Society of America de Nova Iorque, por colaborar para a edição de “Colóquio”, de que guardam uma versão oferecida por Ernesto da Cal.
Magnífico volume, pois, em que se deve parabenizar o acertado trabalho de colaboração assinalado, e a brilhante iniciativa, uma das mais felizes realizadas nos últimos meses na Galiza para honrar o centenário do nascimento de Ernesto da Cal.
Nota:
1 Rei Samartim, Isabel / Pico Orjais, José Luís do / Trillo, Joám, (2012), A música de seis poemas universais de Ernesto Guerra da Cal, Baiona (Pontevedra), Dos Acordes (ed. promovida pela Academia Galega da Língua Portuguesa).
Pode solicitar o A Música de Seis Poemas Universais de Ernesto Guerra da Cal escrevendo para pro[@]academiagalega.org ou comprando diretamente na loja Imperdível
(*) Publicado também no Portal Galego da Língua.