Info Atualidade (440)

Pró Academia na Festa da Alegria 2008, em Braga

Cartaz Festa da Alegria«Nós fazemos a festa, tragam todos a alegria!»

PGL Portugal - Assinala-se este ano o 30º aniversário da primeira edição da Festa da Alegria, em Braga. A Festa da Alegria é uma festa organizada pela concelhia de Braga do Partido Comunista Português PCP, mas é uma festa para todos, aberta a todos os que nela queiram participar.

A novidade deste ano é que o reintegracionismo vai participar na Festa, sendo representado por dois eventos: uma palestra – com Alexandre Banhos e Ângelo Cristóvão – e um recital poético com acompanhamento musical – com Belém de Andrade, Concha Rousia e Isabel Rei.

Esta XVª edição decorre a 19 e 20 de Julho e tal como todas as anteriores conjuga a festa popular, profundamente ligada às tradições e costumes minhotos, que tem no convívio alegre e caloroso o seu maior atractivo, e a festa de combate contra as injustiças sociais, de luta e de resistência, de amizade e de solidariedade.

Galiza na Festa da Alegria

Assim, no Domingo, dia 20, com inicio às 14.30h, no Auditório da Festa, está prevista a palestra sobre o tema «A Lusofonia da Galiza como Movimento Transformador», tendo como oradores Alexandre Banhos, presidente da Associação Galega da Língua, Ângelo Cristóvão, presidente da Pró-Academia Galega da Língua Portuguesa e de um representante do Movimento Defesa da Língua, ainda não definido. Seguir-se-á um recital poético com Belém de Andrade e Concha Rousia, com a participação/acompanhamento musical da guitarrista Isabel Rei.

A Festa da Alegria tem variadíssimos de assuntos de interesse espalhados pelo fim-de-semana em que se realiza, como música - Rock, Musica Popular e Tradicional, Jazz e Folk- Artes de Rua, Folclore, Gaiteiros, Zés Pereiras, Teatro, Marionetas, Poesia, uma Feira do Livro e do Disco, um Espaço internet, Software Livre, Exposições, Debates, Tertúlias, Gastronomia, Artesanato.

A Organização define a Festa do seguinte modo, muito apelativo:

«Aqueles que já participaram em anteriores edições conhecem bem o espírito de amizade e fraternidade que tanto caracteriza este momento, e certamente não faltarão a esta Festa que é também sua. Aqueles para quem esta será a primeira Festa terão à sua espera uma experiência completamente nova, com características únicas e marcantes, capaz de revolucionar todos os sentidos. Uma festa diferente de qualquer outra por onde já tenham passado.»

Será certamente um óptimo pretexto para um passeio às terras bracarenses.

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Assembleia da República portuguesa aprova Acordo Ortográfico

 Guia Prático Acordo Ortográfico

Diploma estabelece um período de transiçom de seis anos

PGL - PS, PSD, Bloco de Esquerda e sete deputados do CDS fizérom com que a votaçom do Acordo Ortográfico na Assembleia da República portuguesa decorresse ontem sem supresas de última hora.

Os deputados do PCP e Verdes optárom pela abstençom, bem como três deputados do PP. Na contra apenas houvo votos individuais, embora significativos, como o caso de Manuel Alegre. Alguns outros deputados pedírom escusa da votaçom.

O protocolo aprovado ontem prevê a inclusom de Timor-Leste no âmbito do Acordo, e define um período de seis anos para a entrada em vigor em todos os países de língua oficial portuguesa desde que três o tenham ratificado (bem como este novo protocolo adicional).

O ministro da Cultura, Pinto Ribeiro, mostrou-se muito contente ao final da votaçom, rejeitando que o Governo tivesse feito «ouvidos de mercador» às mais de 33 mil assinaturas do abaixo-assinado contra o Acordo, salientando que o novo Acordo vai ajudar a afirmar a língua portuguesa no mundo.

Só resto agora a assinatura por parte do presidente da República para terminar a ratificaçom do mesmo.

Porto Editora lança dicionário com 'dupla grafia'

Entretanto esse diploma era aprovado na Assembleia da República portuguesa, a Porto Editora lançava um novidoso dicionário com 'dupla grafia', em que recolhe «o que havia antes e o que vem depois do novo Acordo».

A obra opta por manter a grafia actual com a remissom para a nova naquelas palavras que se alteram conforme o Acordo Ortográfico de 1990.

A acompanhar o novo dicionário vem um Guia Prático, que explica com exemplos as diversas alteraçons introduzidas pela nova reforma ortográfica.

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[Atualização a 29 de Julho de 2008]

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Evanildo Bechara promove texto a favor do Acordo

 Professor Evanildo Bechara

Foi apresentado durante o 3º Encontro Açoriano da Lusofonia

PGL Portugal - Na sequência do recentemente realizado 3º Encontro Açoriano da Lusofonia (8-11 Maio) na Lagoa, Ilha de São Miguel, o professor Evanildo Bechara (tesoureiro da Academia Brasileira de Letras), apresentou um manifesto a favor do Acordo em que também realiza umas interessantes considerações em torno do manifesto-petição contrário ao mesmo.

Bechara é autor, entre outros textos relevantes, da Moderna Gramática Portuguesa, a mais utilizada no Brasil. Já vai pela 37ª edição. O manifesto promovido por ele é também assinado pelo académico João Malaca Casteleiro e outros 34 professores participantes no encontro açoriano.

Para já, e mesmo no dia em que a Assembleia da República portuguesa debate o texto do Acordo, no PGL achamos de interesse divulgar o manifesto Bechara:

Considerações em torno do MANIFESTO-PETIÇÃO dirigido ao senhor Presidente da República e aos Membros da Assembléia da República contra o Novo Acordo Ortográfico de 1990

O noticiário da imprensa portuguesa veicula as razões que levaram numerosas personalidades da cultura do país a assinar o Manifesto-Petição contra o Acordo Ortográfico de 1990, a ser examinado pela Assembléia da República, provavelmente no dia 15 de Maio de 2008, pelo qual se propõe a unificação ortográfica nos países de expressão oficial de Língua Portuguesa.

É incontestável o peso e o prestígio, justamente alcançados, dos signatários do Manifesto-Petição; o que vamos tentar mostrar é o peso e autenticidade das críticas feitas ao texto do Acordo em discussão segundo as declarações, que se dizem extraídas do referido Manifesto-Petição e divulgadas pela imprensa. O primeiro conjunto de críticas atribuídas à proposta de reforma ortográfica diz que ela é “mal concebida” e “desconchavada”.

Ora quem faz a história crítica das diversas propostas da reforma ortográfica em Portugal percebe claramente que elas construíram um macrotexto a partir do estudo inicial de Gonçalves Viana e Vasconcelos Abreu, entre 1885 e 1886, passando pelo livro seminal ortografia Nacional, de Gonçalves Viana, saído em 1904, referendada pelo governo português, consoante proposta assinada por um grupo dos mais conceituados filólogos da época, onde luziam os nomes de J. Leite de Vasconcelos, Gonçalves Viana, Carolina Michaëlllis de Vasconcelos, A. G. Ribeiro de Vasconcelos, entre outros.

De então a esta parte, as bases das reformas ortográficas que se sucederam, independentemente ou em conjunto, em Portugal e no Brasil, vieram tecendo um texto matriz ora reduzido ora ampliado em aspectos necessários, mas na essência, as linhas mestras garantiam o ideário e a concepção dos ortógrafos que, a partir de 1911, pensaram o problema da reforma ortográfica no trilho da ciência lingüístico-filológica.

As bases que orientaram a proposta de 1943 e, principalmente, de 1945 são filhas diletas dessa tradição do macrotexto; nesta última, ressalte-se a erudição e a competência do saudoso ortógrafo Rebelo Gonçalves.

O Acordo Ortográfico de 1986, melhorado na proposta de 1990, graças às críticas e sugestões recebidas, pertencem inexoravelmente, a esta tradição cultural, e, portanto, custa atribuir-lhes os qualificativos de “mal concebido” e “desconchavados”. Aceitá-los, sem um exame aturado como está a exigir um Manifesto-Petição da natureza e propósito dirigido à Assembléia da República, representa no mínimo, desmerecer o trabalho dos que, em Portugal, melhor fizeram para o estabelecimento e progresso das ciências da linguagem.

Pelas mesmas razões até aqui exaradas, não se há de aceitar a crítica, segundo a qual a reforma peca por apresentar-se “sem critério de rigor”. Pode dizer-se, em sã consciência de uma reforma que não se caracteriza pelo critério de rigor, quando essa mesma reforma, publicado o texto de 1986, acolhe as críticas e sugestões que lhe chegaram ao conhecimento, e as incorpora, quando possíveis, à nova redação de 1990?

Diz também o Manifesto-Petição que a proposta é “perniciosa, e de custos financeiros não calculados”. Ora, a crítica não se aplica, em rigor, só à reforma em discussão; mas a toda a série de reformas que, se propuseram – e não foram poucas! – desde 1911 até aos nossos dias. Um inteligente e razoável prazo fixado pelas autoridades e editoras tem minorado os custos financeiros de quem se considera prejudicado.

Toda a motivação que tem justificado as sucessivas reformas ortográficas insiste em que elas pretendem garantir a defesa da língua e facilitar o estudo e ensino do idioma. Por isso, também parece não caber à presente proposta a declaração exarada no Manifesto-Petição de que ela é, “nas suas prescrições, atentatória da defesa da língua”.

Só num ponto concordamos, em parte, com os termos do Manifesto-Petição quando declara que o Acordo não tem condições para servir de base a uma proposta normativa, contendo imprecisões, erros e ambigüidades”. Os doutos lingüistas da Universidade de Lisboa e professores de ambas as margens do Atlântico e especialistas das línguas africanas já apontaram falhas e sugestões. Mas isso tem ocorrido com todas as propostas de reforma, e elas são aceitas e adotadas mesmo assim, com promessas de melhorias no futuro. A mesma reforma de 1911, que tem sido considerada a mais feliz de todas, tão logo foi oficialmente aprovada, mereceu pareceres de elogio, mas também de receio de boa solução para alguns problemas da rica fonologia das vogais e da flexão verbal. E essas partiam do alto saber de D. Carolina Michaëlllis, signatária do texto da reforma.

As falhas que se podem apontar no Acordo Ortográfico, facilmente sanáveis, não devem impedir que a língua escrita portuguesa perca a oportunidade de se inscrever no rol daquelas que conseguiram unificação no seu sistema de grafar as palavras, numa demonstração de consciência da política do idioma e de maturidade na defesa, difusão e ilustração da língua da lusofonia.

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Acordo ortográfico para a lusofonia

José Paz Rodrigues

José Paz Rodrigues (*)

O passado dia 7 do presente mês de Abril é já umha data histórica para todo o mundo lusófono. A que por língua e cultura também pertence Galiza. Na Assembleia da República de Portugal, em Lisboa, tivo lugar umha Conferência Internacional sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, com participaçom de representantes dos diferentes países que no mundo têm como oficial a nossa língua.

Pola primeira vez, de maneira oficial, os portugueses convidaram a participar a directivos galegos da entidade reintegracionista AGAL. A que, com verdadeiro altruísmo, abriu a representaçom a outras entidades, como a Associaçom Cultural Pró-Academia Galega da Língua Portuguesa, recentemente constituída, a Associaçom de Amizade Galiza-Portugal, o Movimento Defesa da Língua e a ASPGP, criada no ano 1978 e presidida por quem subscreve este artigo.

Entre outros ali estivérom Alexandre Banhos e Isaac Estraviz, presidente e vice-presidente, respectivamente, da Associaçom Galega da Língua. Também Ângelo Cristóvão, Xavier Vilhar Trilho, José-Martinho Montero Santalha, Margarida Martins, Concha Roussia e Manuela Ribeira. Banhos e Cristóvão apresentárom cadanseu relatório sobre a importância que tem a presença da Galiza, berço da lusofonia, na conferência, comunicando a adesom de todas as entidades reintegracionistas ao futuro acordo ortográfico. Que se espera será aprovado no parlamento português a princípios de Maio e para o que se organizou esta conferência preparatória.

Estamos, portanto, num momento histórico para a nossa língua, que daqui a pouco será também de uso habitual na ONU. A hispanofonia tem desde há muito tempo umha norma comum para a escrita do castelhano, embora os falares sejam diferentes em cada lugar. As diferentes academias do castelhano que há no mundo som um verdadeiro exemplo do que deve fazer-se para a promoçom e sobrevivência dum idioma. Em poucos anos o castelhano superará mesmo ao inglês. O galego-português, outra língua muito importante, presente em todos os continentes, necessita como água de Maio um acordo ortográfico. Depois de muitos anos parece que Portugal da um passo à frente somando-se a este acordo. Com polémica e debate, também necessários.

A primeira pedra para este acordo já se colocou no Encontro de Rio de Janeiro, celebrado de 6 a 12 de Maio de 1986 na Academia Brasileira de Letras, que presidia Antônio Houais. Naquela altura já estivera presente no encontro de unificaçom ortográfica para a lusofonia Isaac Estraviz, entre outros galegos. Quem subscreve fazia parte da comissom galega para trabalhar pola integraçom do idioma galego no acordo.

Os galegos fomos os primeiros, e quase os únicos, em publicar com a ortografia do chamado Acordo de Rio. Quatro anos mais tarde, esta vez em Lisboa, na Academia das Ciências, presidida por Jacinto Nunes, de 6 a 12 de Outubro de 1990, houve outro encontro com presença de umha delegaçom galega. Pode que o prédio iniciado em Rio se termine de construir agora com o apoio do parlamento português. Para efectivar este acordo há umha moratória de seis anos.

Entre outras cousas, este acordo ortográfico para toda a lusofonia, representa a desapariçom dos grupos cultos ct, cc e pt, como no português do Brasil. Também a simplificaçom do acento, a desapariçom de c e p nas palavras em que estes fonemas nom som pronunciados, e do hífen e o acento circunflexo em bastantes palavras. Ao incorporar k, w e y, o alfabeto passa de 23 a 26 letras.

Mas o que a nós nos preocupa é o que vai fazer o governinho galego e a Academia corunhesa. Até hoje infelizmente de costas viradas a toda a lusofonia. Continuando ademais com aquele antidemocrático decreto normativo do ano 1983. Data desde a que, como vem de assinalar acertadamente o escritor Caneiro, a política lingüística seguida foi todo um erro e um horror na Nossa Terra. Acrescentamos nós que Galiza ou é lusófona ou nom é nada. Tal como também pensava Carvalho Calero e actualmente Diaz Pardo e o empresário Adolfo Domínguez.

(*) Professor da Faculdade de Educaçom de Ourense.

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Umha experiência inesquecível

Alexandre Banhos
Alexandre Banhos

Para Lisboa

Na viagem para Lisboa o carro Daewoo dera-nos alguns problemas. Numha das paragens houvo que empurrá-lo para que o motor acabasse puxando dele. Ao chegar a Lisboa, parámos diante do nosso hotel, o American Diamonds (em lugar onde era proibido deixar o carro) e negou-se nesse momento a voltar a acender.

O Hotel fora procurado com cuidado, estava perto da Praça do Marquês de Pombal, era antigo mas fora renovado totalmente havia pouco mais dum ano, e a valoraçom dos clientes que aparecia na Internet levava um 8,5 sobre 10. Aliás, o preço era do mais interessante, pois os demais hotéis que encontrámos estavam todos por cima e os mais baratos tinham muitos inconvenientes. E além disso a estaçom do metro estava mesmo na porta.

Os quartos eram novos e estavam perfeitamente acondicionados, além de serem todos diferentes. Fiquei contente da escolha, era ali que íamos passar duas noites os dez membros da delegaçom galega que nos deslocámos a Lisboa. (onze membros se somarmos o jornalista e amigo de La Voz Joel Gomes, ainda que nom parava no nosso hotel) .

Como chegáramos umhas horas antes do grupo no que conduzia Cristóvão, saimos de passeata por Lisboa e fomos cear ao Bairro Alto na mais antiga cervejaria de Lisboa A Trindade; um bom acerto a recomendaçom do Estraviz e a Manuela.

De volta ao hotel encontrámo-nos com os outros cinco expedicionários, umha grande alegria acho que nos dominava a todos.

Foto-reportagem em Lisboa
(07-08 de Abril de 2008 | Fotografias: Ângelo Cristóvão)

Para a Assembleia da República

No carro vinhera uma pesada caixa de livros da AGAL, e era objectivo nosso leva-la até a Assembleia da República onde pensávamos fazer o reparto deles, e estando o carro parado em lugar proibido, e vendo que já esquecera isso de nom acender, só girar a chave funcionou óptimo, acordámos repartir-nos e uns ir de metro e os outros de carro até Sam Bento.

O acto começava às 10h30 e ainda nom eram as 9h30 e já estávamos todos ali, sendo os primeiros em chegar. De seguida comprovámos, que no livro do registo de admissões à A.R., figuravam todos os nossos nomes. Ao pouco chegou um catedrático da Universidade de Lisboa, Fernando Cristóvão, bom amigo de Estraviz e rapidamente se encheu com um bom pacote de livros que o fijo felicíssimo (rápido tirou um saco de plástico dum bolso do casaco), foi o começo duma rápida e amável pressom de diversos intervenientes interessando-se polas publicações da AGAL, a tentarem todos apanhar algum livro, até que o pacote se acabou, salvo meia dúzia de exemplares que previsoramente ainda ficavam no carro (eram para a CPLP); ali estavam os nossos congressos internacionais, o dicionário quadrilíngue de Carlos Garrido, os Estudos Galego Portuguesas, da Fala e Escrita de Carvalho Calero etc etc. O Estudo Crítico e o Prontuário. Pola sua parte Cristóvão levava vários exemplares de dous interessantes livros, o de António Gil 25 anos de sociolinguística e literatura e A influência da Obra de Lluis Aracil nas Políticas Linguísticas que corrêrom sorte parelha.

O carro nom ficara bem situado e foi-se mudar de sítio. Infelizmente tinha umha roda já travada e houvo que largar sessenta euros para poder fazer-se com ele. Depois foi deixado na área de autoridades do estacionamento da AR onde, ao sermos convidados, estava autorizado e sob o controlo da GNR.

Às 10h10 já estávamos dentro da AR, na sala do Senado (hoje nom existe senado mas é uma relíquia da sala dos pares do século XIX e do senado que existiu na Primeira República em 1911).

À entrada do acto entregou-se-nos umha pasta em que estavam as nossas comunicações e diversa informaçom, entre ela umha fotocópia do Diário da República de 23-8-91 em que se publicou o texto do acordo ortográfico de 1990, e onde se cita a existência da delegaçom de observadores da Galiza.

O Presidente da AR Jaime Gama abriu o acto, eram já passadas as 11h00. O Presidente da Comisão de Ética, Sociedade e Cultura Luís Marques, enquadrou o feito da Conferência e Audição, que de acordo com o Regulamento da Câmara ia ter lugar esse dia, passando logo a palavra aos intervenientes:

Adriano Moreira, Presidente da Academia de Ciências de Lisboa, numa breve intervençom que ao dia seguinte achei num jornal de distribuiçom gratuita, insistiu nas bondades do Acordo ainda que segundo ele era lástima que o Acordo seja um tratado e nom umha simples declaraçom de vontade dos estados, pois para ele isso é algo muito mais simples e efectivo.

Evanildo Bechara, Presidente da Academia de Letras do Brasil, fijo umha bela comunicaçom onde debulhou as questões a ver com o Acordo, com esse jeito dele formoso e preciso.

Albertino Bragança quem é escritor e umha das personalidades mais importantes de São Tomé e Príncipe (Estado assinante do protocolo adicional do Acordo), país em que preside ao Partido Democrático, e em que ocupou todo o tipo de postos, incluídos ministeriais. Apresentou as questões a ver com o Acordo de jeito muito pessoal e original pondo sobre a mesa aspectos a ver com as relações dos povos dos estados africanos com a língua portuguesa e as relações com as suas línguas nacionais.

Amélia Mingas, Presidenta do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, ligado a CPLP, e com a sede na cidade de Praia em Cabo Verde, deu a comunicaçom provavelmente mais apaixonada. Esta Angolana que tem trabalhado muito a prol das línguas nacionais angolanas, o Iwoyo, kikongo e Kimbundu, licenciada em literatura germânica e doutora pola Sorbonne em Ciências da Linguagem, declarou falar a título pessoal e nom na sua condiçom de Presidenta do IILP, e trouxo a debate questons a ver com a língua portuguesa que iam para além da simples discussom do Acordo.

Pouco depois das 12h00 acabárom as intervenções. E trás um rebulir com uns e com outros e falar com a gente da imprensa, juntei-me a Jaime Gama, Luís Marques, às personalidades que vínhamos de escuitar, aos responsáveis dos grupos parlamentares, a Vasco Graça Moura a Carlos Reis, ao Secretário Executivo da CPLP Luís de Matos, Helena da Rocha, e umha encantadora deputada socialista da que infelizmente esquecim o nome.

Fijemos um percurso polo edifício da A.da R. guiados pola amável e atenciosa Elisabeth, guia do edifício, e o próprio Jaime Gama que nos ensinárom o velho Paço de São Bento e a sua história e os seus segredos todos. Acho que falei com todo o mundo e com todos tentei estabelecer laços que ultrapassem no futuro o simples facto de ali coincidirmos. Com Luís de Matos falei da reuniom que ia haver ao dia seguinte na CPLP, e forneceu-me interessantes informações que desconhecia. Com Albertino Bragança adquirim alguns compromissos aos que lhe tenho de dar resposta. Com Amália Mingas, o nosso foi empático, muito nos rimos, entendia o que se passa na Galiza maravilhosamente, ao dia seguinte despertei-na telefonando-a ao seu hotel. Espero que a nossa relaçom perdure, o seu olhar e o seu falar franco e sao é um prazer. Fazer amizades assim já paga a pena tudo. Com Luís Marques fijemos-nos interessantes e deliciosas confidências

A comida tivo lugar no novo edifício anexo inaugurado há dez anos e onde estám os escritórios dos 230 deputados.

O almoço foi realmente de abades e os vinhos impressionantes. Fum colocado à beira de Carlos Reis, com quem vim a falar de temas ligados à formaçom. A existência dum amigo comum, Elias Torres, facilitou muito a nossa aberta relaçom, e de facto ficámos em estabelecer contacto entre a nossa Associaçom e a sua Universidade por questões de mútuo interesse. Em frente estava o representante do PCP João Oliveira, e Helena Rocha, e a agradável deputada do PS de que esquecim o nome (peço-lhe desculpas se me lê). Estava também ao lado de Carlos Reis esse magnífico poeta e latinista que é o deputado europeu Vasco Graça Moura. A relaçom entre todos foi cálida e cordial e a conversa muito agradável deslizou-se sobre questões a ver com o Acordo e muitas cousas mais.

Ao sairmos para as intervenções de Vasco Graça Moura e Carlos Reis, ainda demorei um bom bocado atrás do grupo indo de palique com Amália Mingas.

Pouco depois das 14h30 começou a Audição Pública, essa interessante figura que recolhe o Regulamento do Parlamento Português.

Estava presidida por Teresa Portugal vice-presidenta da Comissão de Ética, Sociedade e Cultura acompanhada sempre do Presidente da Comissão Luis Marques e os representantes parlamentares: João Oliveira do PCP, Ana Zita Gomes do PSD, Pedro Matos do CDS, e Luís Fazenda do BE. Teresa Portugal defendeu a posiçom do PS.

Vasco Graça defendeu o nom ao Acordo com um seu discurso e argumentário cheio de interesse e do qual estavam todos na sala perfeitamente apercebidos, pois os argumentos vinham sendo repetidos polo conferencista na imprensa.

A contra-réplica de Carlos Reis resultou do ponto de vista da oratória muito mais efectista e foi dando-lhe a volta um a um aos argumentos anteriormente expostos.

Logo falaram, o amigo e lexicógrafo Malaca Casteleiro. Godofredo Oliveira, Presidente de Geolíngua (já nos enviou umha notícia para o PGL). Helena Rocha Freire (uma velha partícipe nos Acordos). Fernando Cristóvão da Faculdade de Letras de Lisboa. Rui Beja (Presidente dos Editores e o primeiro a falar em contra). E Alexandre Banhos.

Coloquei-me de pé por ser uma posiçom na qual me sinto mais à vontade e pensava dissimular assim mais o meu nervosismo (é-me conatural). Porém, o facto de ter que pegar no microfone com uma mao e ir passando as folhas com a outra, levou-me a perder o carreiro nalgumha ocasiom. Numha delas introduzim a frase duma missiva de Castelao a Sanchez Albornoz em que afirma que "desejo, além disso, que o galego se aproxime e confunda com o português" mudando-a por outra em que era o próprio Castelão quem aspirava a confundir-se com um português.

Luís Costa falou em contra com razões lingüísticas. O Presidente da Associação Timorense véu pôr de relevo problemáticas muito específicas desse Estado. Ângelo Cristóvão estivo sereno e soberbo na sua comunicaçom. Seguírom-se ainda quatro intervenções mais, todas elas cheias de interesse.

Polos grupos Parlamentares, nom houvo nengum grupo que se manifestasse contrário ao Acordo, ainda que PCP e CDS tinham posições muito parecidas, sendo de extremos opostos. O PS foi firme a prol, o PSD foi firme a prol ainda que com críticas aos socialistas. Polo Bloco de Esquerda falou Luís Fazenda, um velho conhecido meu e um grande amigo da Galiza.

Uma hora antes do tempo previsto a Audição tinha finalizado e todos os galegos estávamos felicíssimos, conscientes de termos participado num feito histórico.

Todos os demais membros da Delegaçom galega nom citados anteriormente, mas que figuravam na relaçom de pessoal convidado à Assembleia da República, eram: Isaac Alonso Estraviz, Margarida Martins Vilanova, Martinho Monteiro Santalha, Manuela Ribeiro Cascudo, Xavier Vilar Trilho, Concha Rousia, António Gil Hernandez e Teresa Carro. Ademais estava dum outro jeito o Joel Gomes.

A presença galega na AR percebia-se ao primeiro golpe de vista. Todos os que ali estávamos faziamos contactos, dávamos a conhecer a problemática do nosso País e trabalhávamos para que a Galiza caminhe no futuro no ronsel da Lusofonia, e que actos como este nom sejam mais excepcionais e fagam parte da nossa normalidade, que seria a melhor das garantias de futuro.

A Assembleia da República, convidando-nos para tratar nela acerca dum assunto competência do Parlamento Português e para o povo português, estava a dizer, 'eh amigos, a Galiza também tem a nossa língua, vocês nom som outros', e estava a dizê-lo nom a nós, senom ao povo português todo e a todos os povos da CPLP, e isso enceta um novo patamar das relações da Galiza com o resto do mundo que usa e cuida a nossa língua.

Foto-reportagem na Assembleia da República
(07 de Abril de 2008 | Fotografias: Ângelo Cristóvão)

Para a ceia no Brasuca

No processo prévio a irmos a Lisboa para participarmos como convidados na Assembleia da República, no que era um feito histórico, enviamos a todos os associados da AGAL em Portugal informações, ademais de agradecer-lhes a ajuda que uns quantos deles proporcionam(ram) para este tipo de assuntos.

Pensáramos em fazer um jantar na terça dia 8 em Lisboa com os agálicos e amigos que por lá moram, mas Luzia Teixeiro, responsável do grupo da AGAL em Lisboa e alma mater do grupo gz.pt, considerou que era muito melhor na segunda e umha ceia.

Mandamo-nos telefones, de novo comunicamos com os amigos e amigas agálicos e simpatizantes e ao final a Luzia encarregou-se de localizar um local no bairro alto para a nossa ceia ou jantar lisboês.

O local foi o Brasuca, muito recomendável para quem vaia por lá e gostar de descobrir um lugar com sabores transfiguradores e fantásticos, que bom estava todo, que bem o apontava essa meiga das palavras que é a Concha Rousia. Às 20h30 combináramos encontrar-nos todos no Largo de Camões.

Estava um dia de vento e chuva, às 20h30 nom aparecera ninguém, Estraviz e Manuela estavam a fazer umhas gestões; Cristovão e os seus acompanhantes de carro, estavam na Brasileira, Teresa Carro também andava por algures; a Margarida e eu próprio estávamos ao vento e à chuva dando voltas na praça e já duvidando se nom se daria algumha confusom, pouco depois recebemos umha mensagem no telemóvel da muito cara agálica, Margarida Santos, umha portuguesa que é verdadeira portugalega comprometida com a Galiza, dizendo-me que infelizmente é-lhe impossível vir ter connosco, que muito gostaria e que a desculpemos.

Quando estávamos perto de dez minutos para às 21 horas, num canto do espaço no meio do largo, vemos duas almas com cara também de estarem à procura como nós, achegamo-nos e eram dous dos moços galegos que vivem em Lisboa e que ali fam o que podem para apresentar a Galiza e as suas peculiaridades "literárias e linguísticas" aos portugueses. Por fim respirávamos, chamamos a Luzia que já vinha de caminho, e activamos a presença de todos, chamei aos membros da expediçom a Lisboa, e pouco a pouco fomo-nos juntando um grupo sob o olhar imperturbável de Camões.

Luzia que tem o olhar mais transparente que vim no mundo e a face luminosa como umha lua na mais formosa noite de luar, rapidamente pujo a comitiva a caminhar cara o Brasuca. O lugar fecha às segundas mas esse dia abrira para nós.

Logo me chama o Joel para pedir o lugar exacto e poder vir à ceia também. O encontro foi delicioso, muito falamos todos enquanto a refeiçom se alongava no tempo, iam ser mais das duas da manhã quando nos metemos no leito.

Para conhecermo-nos todos bem foi cada um fazendo a sua apresentaçom, muitas dérom lugar a perguntas e a gerar fios de conversa que logo dérom num lindo novelo multicor.

Eis os participantes na ordem das suas apresentações: António Gil. Margarida Martins. Inácio Vilarinho, um galego professor em Lisboa e a primeira alma que víramos no Largo de Camões. Concha Rousia, elucidou-nos sobre a Rousia. Martinho Monteiro Santalha. Pedro Roirinha um português de Cascais muito firme a prol da Galiza. Miguel Arce a segunda alma do Largo de Camões e outro a difundir a realidade da literatura galega em Lisboa. Manuela Ribeiro. Isaac A. Estraviz, fijo a Luz sobre o assunto da participaçom galega nos acordos ortográficos do 86 e 90.

Henrique Salas da Fonseca, um português amigo de Cristóvão que tivo a gentileza de compartilhar o seu tempo connosco, e a quem é sempre muito doado achar em toda cousa que se fijer por Portugal a ver com a Galiza. Ângelo Cristóvão. Manuel Montecelo, que trabalha no laboratório de Física da Universidade Politécnica de Lisboa, a mesma onde está de professora a nossa amiga Tânia Rocha, outra pessoa que enviou desculpas por infelizmente receber o recado demasiado tarde para estar connosco. Rodrigo Porto, um técnico agrícola acho que da Terra Chã que fomos conhecer a Lisboa. Teresa Carro, de quem vinhemos a saber que tem avós portugueses de Monção.

Xavier Vilar Trilho. Joel Gomes. Alexandre Banhos. Luzia Teixeira, quem procurou o lugar e dinamizou Lisboa para termos sucesso e alegria. No dia 24 o grupo GZ(ponto)PT participa no Arraial do 25 de Abril, tenhem só uns quinze livros da AGAL umha bandeira e pouca cousa mais, isso é como umha feira e necessitam cousas (autocolantes, chapas, bandeiras...) e ajuda da Galiza, todo o que se lhe poda enviar (dentro das nossas terríveis limitações agradecêrom-no muito). Marta Negro que fijo umha muito pertinente reflexom ligando a política oficial da Galiza com o blaverismo no âmbito da línguas catalã. Rui Pires, um físico, também ligado à Politécnica de Lisboa, é um português para quem houvo um antes e depois de Nunca Mais e trás Nunca Mais véu o compromisso solidário com a Galiza.

Ainda falámos das pessoas que infelizmente nom estavam ali connosco e que muito gostariam de estar e de muitas outras cousas. Perguntárom se podemos participar em actos que eles organizam em Lisboa, portanto os leitores que podam animem-se.

Para quem queira descobrir o Brasuca, – paga a pena – há que ir pola rua Século, indo desde o Largo de Camões, e dali sai uma ruela que se chama João Pereira da Rosa, é no nº 7.

Foto-reportagem ceia organizada pola AGAL em Lisboa
(07 de Abril de 2008 | Fotografias: Ângelo Cristóvão)

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Crónica do invisível (e II). A chavinha de vidro

Concha Rousia
Concha Rousia

Portugal está pechado
c’uma chavinha de vidro
se essa chavinha se perde
Portugal fica perdido.

Da Brasileira fomos ao restaurante guiados pola mocidade de AGAL de Lisboa, éramos vinte, três ou quatro éramos portugueses, outros éramos os que chegáramos o dia anterior, outros éramos galego-portugueses simplesmente. Foi um jantar-ceia inesquecível: as caipirinhas, o picadinho mineiro, o sorvete de maracujá, o café, de novo o café... Mas o café só veio ao final; antes vieram as apresentações, que foram ideia do Alexandre, que ia anotando os nomes num livrinho pequeno...

O primeiro em falar foi Antonio Gil, e a seguir fomos um por um despindo nas palavras e nos risos e brincadeiras tudo o que éramos e o que não éramos. Foi uma festa... um convívio entranhável, que fez com que a cama tivesse que aguardar por nós... E de novo o metro, linha azul, depois amarela; entramos no hotel lá perto das duas da madrugada, mas o corpo ainda não nos pedia cama, não... 


Ceia AGAL


Nós, caros e caras que estais a ler esta crónica, sentíamos a necessidade de saber de vós, de saber que vós sabíeis que tudo fora bem; foi nesse instante que eu entendi o argumento sobre a necessidade da Trindade que exprimira Xavier quando íamos a caminho de Lisboa... “Se Deus é amor, necessita amar, daí a necessidade do Filho, mas para que tenha existência real, a cena necessita ser contemplada por um terceiro: o Espírito Santo...”

Não estou a dizer que vós fosseis o Espírito Santo, mas isso é exactamente o que estou a dizer mesmo... Nós tínhamos falado, e tínhamos sido ouvidos, mas para nós saber isso, para que isso fosse realmente certo, nós necessitávamos a segurança de que vós nos tínheis visto. O portátil do Ângelo não nos dava para conectarmo-nos à rede desde os quartos por causa de um antivírus de última hora, e foi a net de moedas, como as antigas cabinas de telefone, que nos permitiu vermos-nos, vermos-nos através de vossos olhos...


Ceia AGAL


Nunca esquecerei a imagem do hall do hotel... lá na esquina Martinho não cessa de meter moedas para que a máquina nos siga mostrando o PGL, eu que ficara preocupada porque a minha câmara se tinha parado no minuto três da intervenção de Alexandre fiquei de boca aberta ao ver que já lá estava no portal... parecia uma miragem.

Aos poucos a gente foi indo para a cama, eu fiquei de última esgotando os minutos que restavam por gastar na cabina-net. Abri meu correio. Tinha uma mensagem de Selmo Vasconcellos, que me avisava de que no número 51 de “O Rebate” revista que ele dirige em Porto Velho (Rondônia), saíram seis poemas meus. Pareceu-me um bom sinal receber aquela mensagem vinda do Brasil em Lisboa; a noite não podia ter melhor final para mim.

Na máquina esgotaram-se os minutos. Fora seguia a chover; quando já me ia, o guardinha do hotel desejou-me boa noite e falou-me de que antes chovia no Norte e agora chovia em Lisboa... Quem sabe este guardinha não seja do Norte, desses que nós enganávamos nos nossos jogos; quase quis perguntar mas vi que tinha cara de muito falador e simplesmente lhe respondi ao da chuva, os dous concordamos com que o tempo anda com o de acima para abaixo...

De manhã no pequeno almoço acabamos de organizar as actividades nas que já tínhamos falado nos dias anteriores... e que já agora, não incluíam uma visita pausada e afectuosa a esta cidade que nos dava o que tinha: sua alma. Em muitos momentos eu senti a necessidade de pedir perdão a Lisboa por não a poder visitar como ela, senhora que é, merece; mas prometi-lhe voltar...


Subir ou descer


Os trabalhos foram repartidos muito bem, escritórios para visitar, documentos para apanhar, embaixadas que informar... e num par de horas no hotel para outra sessão de trabalho. Foi uma jornada muito frutífera; ficamos satisfeitos com os planos de futuro, que já são pressente; julgamos que encontramos alguns aliados que nos vão ajudar no cuidado dessa chavinha de vidro que nos abre as portas da Lusofonia. De novo almoçar para ir depois a visitar a Academia de Ciências de Lisboa.


Indo à Academia das Ciências de Lisboa


A cita era as 16:30, e era com o Presidente da Academia, o Dr. Adriano Moreira. Fomos de metro, de novo a linha amarela e a azul... Chovia, íamos partilhando os guarda-chuvas como partilhávamos nossos destinos, e nossos encantamentos de como todo ia saindo... Desde a parada Baixa-Chiado fomos a pé até a Academia... esses foram os escassos momentos com luz de dia que andamos algo pola cidade, mas sem parar de andar... Chagamos.

O senhor Presidente da Academia recebeu-nos como membros da Academia Galega. Um senhor com saber diplomático; sentado entre o Ângelo e o Alexandre manifestou interesse por nós, pola nossa Academia, polas futuros relacionamentos, pola Galiza... no plano mais pessoal ao final nos disse que ele era de Bragança, por tanto vizinho do Norte; rematou a reunião e antes de nos ir embora mostrou-nos a biblioteca...


 Foto-reportagem Academia das Ciências de Lisboa
(08 de Abril de 2008 | Fotografias: Ângelo Cristóvão)


Impressionante, por dizer alguma palavra. Tiramos fotos dos tesouros linguísticos e da estância. Era hora de partir... Lisboa parecia querer-nos pegar nos pés, mas havia muita distância que percorrer. Voltamos ao lugar do carro, fomos às compras de última hora... Eu tinha uma encarga, só uma...

Quando o domingo sai de casa minha filha disse: trai-me ovinhos moles de Aveiro. E eu fui a procura disso, e de umas revistas das Winx, que ela adora. Na livraria tivemos que tirar uns dos outros porque os livros nos prendiam... parecíamos esfameados que sabiam que apenas tinham uns momentos e depois a estrada os separaria desta liberdade de escolher leituras. Trouxemos connosco dicionários e outros livros, e eu ainda entrei numa loja para trazer vinho do Douro...

O caminho de volta foi igual de intenso que o de ida, as conversas, agora depois de tantas horas juntos até tínhamos a sensação de nos conhecer melhor, como de toda a vida... Paramos nas beiras do Porto para comer um bocado e compramos a imprensa. Lá por volta das duas da madrugada chegamos a Padrão depois de passar por Pontevedra; ainda ficavam Compostela e Corunha a aguardar por alguns de nós.


De volta de Lisboa


Esta viagem saciou-nos de tudo o que nos leva faltado durante tanto tampo, saciou-nos com respeito por nós, por nós ser o que somos; isso que se nos nega na nossa própria terra e que Portugal, desta vez muito generoso, nós ofereceu, e por uns dias nós fez sentir o centro do universo. E nós, guerreiros e guerreiras contra o silêncio e o esquecimento, prometemos cuidar da chavinha de vidro, que nunca, nunca vamos deixar partir...

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Crónica do invisível (I). O mar em Lisboa

Concha Rousia 
Concha Rousia

- Mas que há de novo lá por Lisboa?
- Coisa má nenhuma, somente ouvi dizer que o mar se volvera papas...

Partimos de Padrão, dai fomos a Pontevedra, onde se uniu a nós o quinto ocupante do carro. Martinho mostrou-nos o ponto exacto onde mataram Alexandre Bóveda. Sentimo-nos muitos no carro, mais dos que éramos, e éramos muitos...

O trajecto até Lisboa foi um fio de palavras. As conversas foram connosco, o já feito, o por fazer... O cansaço tomou logo conta dos corpos, paramos, Ângelo pode assim descansar os olhos enchendo-os de verde em lugar do negro do asfalto. Tiramos a primeira foto. Eu lembrei-me, como é meu costume, de todos os que estavam connosco sem estar... entre eles Rosalia, entre eles Bóveda, entre eles a minha mãe a me ensinar o cantar da joaninha:

“Voa joaninha voa, que teu pai vai em Lisboa, e vai-che traguer pão e cebola...” –deves repetir até que a joaninha voar...  


A caminho de Lisboa


E a canção do “Malhão” que eu sempre julguei era galega e depois foi que aprendi que o não era. Aqueles foram tempos em que eu vivia de verdade imersa na lusofonia... e as nossas casas feitas polos castrejos de Castro Laboreiro, e o senhor João, e o Freitas que traz café, sabão, e as duas mulherinhas de olhos gázios, mãe e filha, a nós trazer os panos de cozinha, os refaixos, e as toalhas, e a feira de Santos de Montalegre... e os bois, e a chega, e subir as calças, e os guardinhas sempre a perguntar:

- Mas que há de novo lá por Lisboa?
- Cousa má nenhuma, somente ouvi dizer que o mar se volvera papas.
- Mas isso não pode ser...!

E atravessar um lameiro e do outro lado é Portugal... “Mas como pode ser isso?” De crianças procurávamos entender o que era a fronteira; depois fomos aceitando que era invisível, que era algo no que se falava, algo que nos obrigava a ir classificando tudo...

A canção do Malhão é portuguesa... A da Carolina é galega. Eram tempos sem televisão, e as rádios, como nós, também não aprenderam a parar suas ondas em raias imaginárias e nós sentíamos Montalegre ali pertinho. É estava mesmo.

Hoje o mundo recoloca-se todo dentro de nós e as conversas vão servindo de apoio a este processo que vai tendo lugar em cada um de nós... e o acordo do 86, e o do 91, e os que chegaram a Lusofonia pola via do estudo e a análise profunda, e os que simplesmente nascêramos ali, e depois se nos arrancou para nos transplantar na Hispanofonia... Eu fui desses que não chegaram a prender; e hoje mentes o carro vai bebendo os ventos que nos falam do futuro, vamos abraçando naquinhos esquecidos do nosso passado... E como sempre, era à terceira que os guardinhas eram enganados...

- Mas que há de novo lá por Lisboa?
- Coisa má nenhuma, somente que quando eu vir, vi como a gente toda, grandes e pequenos, homens e mulheres, iam com colheres a correr para o mar....
- Aió, pois olha que vai ser certo que o mar se volvera papas...!

E os guardas do nosso jogo corriam também para o mar, e a raia era livre e nós passávamos de um lado para o outro vencedores ao final.

E chegamos a Lisboa; ao pouco tempo veio o Estraviz e Manuela, e depois Alexandre e Margarida; Joel ligou para nós, ao telefone de Ângelo, e combinamos para o dia a seguir, o dia da Assembleia da República. E lá estava eu, começara enganando a uns guardinhas há perto de quarenta anos e agora era eu a que viera até Lisboa com a minha colher. Era tarde, mas ainda levávamos trabalhinhos para ser acabados no silêncio dos nossos quartos. Foi um momento no que eu agradeci todos os conselhos que me foram dados. Dormimos.

De manhã, logo de um pequeno almoço, ao que, a meu modo de ver, o nome não lhe liga nada bem, fomos para o Palácio de São Bento; uns de metro e outros no carro de Margarida para carrejar os livros; já lá estavam Teresa e Rodrigo. Fomos os primeiros em chegar, os galegos e galegas chegamos mesmo antes de que se abrissem as portas.

Éramos onze em total, todos convidados pola Assembleia. Todos respeitados como membros da Lusofonia, e assim nos receberam, e assim no-lo fizeram sentir também os primeiros portugueses que foram chegando, reconhecendo aos mais velhos entre nós, falando em encontros passados, e fazendo sonhar aos mais novos com um dia ser assim reconhecidos polos que hoje aqui encontrávamos.

A manhã começou a ir deixando passar os oradores. Abriu a sessão o Presidente da República; a seguir falou o presidente da Academia de Ciências de Lisboa; depois veio Bechara e o abraço morno do Brasil; falou também o representante de São Tomé e Príncipe; e finalmente, com uma energia que se fez notar, fechou esta sessão a Presidenta do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (CPLP).

Antes de a gente ir a almoçar, os corredores se encheram, as mãos se encontraram, os cartões e os livros mudam de lugar, os sorrisos, os jornalistas, as televisões, o descanso, a imensa escalinata, o bacalhau, o vinho verde, a sobremesa e o café, ai o café... o café aqui é outra cousa, o café aqui é “o café”...

De volta na nobre sala continuou a jornada. Falou o primeiro dos convidados, Vasco de Graça Moura, que não soube estar a altura de si mesmo, talvez por ele se saber perdedor antes de abrir a boca. Atrás dele falou Carlos Reis, que o derrubou com a primeira frase, e continuou a falar com palavras e com suas mãos e com seus olhares vivos e sinceros, e com verdades... e no momento da pausa todos o quiseram cumprimentar e nem foi possível para todos conseguir isso. Na pausa voltaram as conversas e os abraços e os irmãos que nos chamaram de irmãos... sim, definitivamente, por incrível que pareça, o mar se volvera papas e eu fora lá convidada.

A pausa foi breve e pronto voltamos todos à sala. A mesa estava agora integrada polos representantes dos diferentes grupos parlamentares, e ante eles falaram todos os da audiência que tinham turno para isso. Começou a sessão Malaca Casteleiro. Ele estava sentado do lado dos galegos, junto dele estava Bechara, e o outro dos três daquela bancada era Estraviz; eu tive o privilégio de tirar a foto. Lá permaneceram os três, eu lembro ter pensado que nem sempre é por acaso que o destino junta a gente.

Atrás de Casteleiro falaram o resto de oradores; todos se foram alinhando com o discurso de Carlos Reis e o apoio ao acordo ortográfico, com alguma excepção, como a do livreiro que parecia magoado por ter que destruir tanto livro como há na norma antiga... e ele não reparou em que isso nunca se tem feito ao longo da história, se isso se fizer poucos livros de valor haveria nas bibliotecas das Academias; mas enfim, ele falava em nome dos livreiros...


Alexandre Banhos na Assembleia da República


Finalmente chegou a nossa hora, a hora dos galegos... Eu estava sentada no meio, equidistante entre Alexandre e Ângelo, os nossos oradores; agora era a nossa voz que ia encher a sala. Primeiro falou o Alexandre, e todos falamos com ele; depois falou o Ângelo, e todos falamos com ele.

Falamos bem e fomos cumprimentados depois, saudados, parabenizados, e até talvez por algum, temidos, os galegos... Nós, contentes, nossa pertença a Lusofonia tornara-se o que tinha que ser: óbvia... Não podemos saber aonde poderemos chegar, sabemos é que lá chegamos, e sabemos que vínhamos de muito longe e não nos vamos precipitar agora que estamos mais perto... Nós entraremos onde quer que tenhamos de entrar...


Ângelo Cristóvão na Assembleia da República


Como lhe dizia o Ângelo ao representante do PCP “Os galegos entramos na Lusofonia pola porta grande” E eu reparei que as portam eram muito grandes, e como no conto dos guardinhas, que deixavam o passo livre, estas portas foram abertas para nós passar... E nós passamos, e nos sentimos em casa, aquele espaço era nosso.

Com o final da tarde vieram as despedidas e os planos de futuro. Mas o dia ainda não ia acabar ai para nós que estávamos sendo aguardados no Baixo Chiado, lá na Brasileira, polos membros de AGAL de Lisboa que nos prepararam uma festa que coroou um dia que nascera republicano... Na porta da Brasileira, sem medo da chuva que nos seguira até Lisboa, tiramos nossas fotos com Pessoa, mesmo parece que levava muito tempo a nos aguardar... (a seguir)


Na Brasileira

 Fonte original:

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Novas da Galiza entrevista protagonistas galegos do Acordo Ortográfico luso-brasileiro

Alexandre Banhos e Ângelo Cristóvão na Assembleia da República

Alexandre Banhos e Ângelo Cristóvão em destaque

Eduardo Maragoto - Anos depois do falecimento de Lindley Cintra, Celso Cunha ou Rodrigues Lapa, grandes filólogos portugueses amigos da Galiza, o reintegracionismo voltou a pôr a Galiza no centro do debate sobre o futuro da língua comum. Foi numha sessom parlamentar sobre o Acordo que aproxima as ortografias brasileira e portuguesa (também usada nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa – PALOP – e Timor) realizada no máximo órgao da soberania popular de Portugal, a Assembleia da República.

Apesar dos medos deste último país, o Acordo será provavelmente assumido em toda a Lusofonia nos próximos anos. A Junta, como se o galego gozasse de óptima saúde, nada quijo saber. O reintegracionismo, unido, foi o representante da Galiza em Lisboa, com as vozes de Alexandre Banhos, da Associaçom Galega da Língua (AGAL), e Ângelo Cristóvão Angueira, da Associação Pró-Academia Galega da Língua Portuguesa.

Porque é importante o Acordo (conhecido como ‘de 90’) para a Lusofonia?

A. B. : A nossa língua, o português, que assim é conhecida internacionalmente, é a única entre as internacionais que nom tem umha normativa universalmente aceite em todos os Estados onde é oficial. No século XVIII criou-se a Academia das Ciências de Lisboa, mas nunca chegou a elaborar umha norma nem um vocabulário ortográfico. A responsabilidade caiu assim nos governos, nos políticos; em 1911 som fixadas as primeiras normas polo governo português, mas o Brasil nom aceita. Actualmente há duas normas (deixando de parte o caso do galego): a brasileira (do grupo Globo) e a portuguesa (usada também nas ex-colónias). Houvo antes várias tentativas de acordo. O Acordo de 1990 é menos radical que o de 1986, tendo sido importante o contributo de umha delegaçom galega de observadores. Implica aceitar a importáncia que tem o Brasil para a língua (com 190 milhons de falantes entre 250), e iniciar umha dinámica interna na língua que a afaste das decisons políticas. No futuro, estas questons deviam ser competência do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP).

E porque é importante para umha Galiza que nom pode acompanhá-lo institucionalmente?

A. B. : Estarmos aí é afirmarmos a nossa pertença ao mundo da nossa língua. Foi um facto extraordinário a presença de representantes galegos – da Galiza civil e nacional, nom da regional e oficial.

A. C. : Em Lisboa apresentamos a posiçom institucional da Associação Pró-Academia Galega da Língua Portuguesa e a das Entidades Lusófonas Galegas. Tendo em conta a ausência de participaçom do governo galego, representamos a posiçom da Galiza. Além disto, a recepçom na CPLP e na Academia das Ciências de Lisboa evidencia uma predisposiçom de Portugal e do conjunto dos países lusófonos para a integraçom do nosso país nesse espaço, do ponto de vista cultural. Do ponto de vista político, parece que o Governo Galego deu algum passo nesta linha. A Academia Galega da Língua Portuguesa, que será constituída nos próximos meses, iniciará o relacionamento e colaboraçom institucional com as outras academias lusófonas. Estamos certos que os próximos anos servirám para um maior reconhecimento e presença do português galego na cena internacional.

A que se devem as reticências portuguesas?

A. B. : Os modelo português e brasileiro tenhem algumhas características dissemelhantes na expressom oral, e o Acordo talvez dependa demasiado disso, sendo mais estáveis os sistemas de línguas internacionais onde a escrita nom depende tanto da pronúncia (um inglês fonológico duraria pouco como língua internacional). Os portugueses som cientes que o Acordo é uma cessom maior pola sua parte que por Brasil, e eles sentem a língua de modo mui particular.

A. C. : Deve-se à incapacidade de alguns lingüistas notáveis, de alguns editores e de sectores da sociedade em se adaptarem à realidade presente. O português do século XXI é umha língua policêntrica. A questom que se pom em Portugal, e também na Galiza, é continuar à margem da unidade da escrita, ou aderir ao conjunto. Isto nom modifica pronúncias nem impede refletir as caraterísticas de cada umha das variedades regionais e nacionais.

O reintegracionismo foi unido a Lisboa...

A. C. : A AGAL permaneceu à margem dos Acordos Ortográficos em 1986 e 1990. A sua incorporaçom ao processo de unidade, em 7 de Abril, fecha umha etapa de divergências. As associaçons lusófonas continuaremos unidas, porque as tarefas e os reptos que venhem a seguir exigem colaboraçom. Contodo, isto nom acarreta que todos devamos dedicar-nos às mesmas atividades.

A. B. : O reintegracionismo goza de umha unidade difícil de encontrar noutros movimentos da Galiza, mesmo entre as posturas mais divergentes. Além disso, é muito fácil mantermos a mesma postura numha questom que já tinha sido bem defendida por umha delegaçom galega no próprio Acordo. Quando à AGAL lhe foi comunicado informalmente o convite, convidamos todas as entidades reintegracionistas para que a nossa voz fosse a de todos.

Para além das vossas intervençons, a vossa presença em Lisboa suscitou o interesse das outras delegaçons lusófonas?

A. C. : Sim, especiamente de Portugal e do Brasil, de onde recebemos convites para a participaçom em futuras actividades. Espero que os lingüistas saibam entender o sentido desta participaçom galega, desta conjunçom de vontades, e assumam a sua responsabilidade histórica.

Fonte original:

 

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Com humildade e trabalho chegaremos longe

Ângelo Cristóvão com a estátua de Fernando Pessoa no café "A Brasileira" em Lisboa

Ângelo Cristóvão

6 Dezembro 2007:

O jornal Público edita, na página 14, uma notícia sob o título: “Parlamento prepara conferência internacional sobre Língua Portuguesa”. Associação de editores e livreiros quer ser ouvida por deputados sobre acordo ortográfico.

Três galegos, que combinaram um jantar no restaurante A Brasileira do Porto, comentam a notícia. Coincidem na necessidade de fazer todos os esforços para conseguir que as associações lusófonas galegas participem, sem exclusões, nesse evento.

7 Abril 2008:

A sociedade civil galega, por meio das Associações Lusófonas, participa de forma coordenada na Conferência Internacional sobre a língua portuguesa realizada na Assembleia da República de Portugal. A representação da Galiza inclui 2 oradores e 8 professores convidados. No dia seguinte, é recebida oficialmente na Academia das Ciências de Lisboa.

8 Abril 2008:

Jornal Público, pág. 3: “Livreiros e linguistas contra. Brasileiros, timorenses, ex-exilados e galegos, pró”.

“Foi esmagador o apoio manifestado ao acordo. Não apenas, como se esperaria, da parte dos envolvidos directamente nas negociações, como Helena da Rocha Pereira, Fernando Cristóvão ou Malaca Casteleiro. Mas também de associações galegas de defesa da lusofonia (o jornal La Voz de Galicia enviou um repórter), de Timor (Luís Costa: “Se não houver unidade ortográfica a confusão será grande, pois temos professores portugueses e brasileiros no país”) e da parte de antigos exilados políticos portugueses no Brasil. Dois deles, integrando a associação Mares Navegados, e o terceiro –coronel Pedroso Marques, presidente da RTP- num apelo emocionado à ratificação do acordo”.

Diário de Notícias, pág. 5: Galiza numa encruzilhada. Convidados a participar na audiência parlamentar, os representantes da Galiza revelaram, por um lado, a satisfação com um acordo que irá facilitar a comunicação com a CPLP mas, por outro, a preocupação por a Galiza não poder ainda integrar esta comunidade. “Julgamos que existem as condições suficientes para dar os primeiros passos neste sentido”, afirmou Alexandre Banhos, presidente da Associaçom Galega da Língua, lembrando a influência da língua e cultura portuguesas naquela região de Espanha. “Apesar do indiscutível avanço nessa direcção, a comunidade linguística desenvolve-se ainda em condições difíceis do ponto de vista legal e social”.

10 Abril 2008:

PGL: O Parlamento aprovou ontem por unanimidade dirigir-se ao Governo espanhol para «no prazo mais imediato possível» lograr a recepçom das televisões portuguesas na Galiza.

Caros:

Neste momento, depois de ler tanto comentário positivo às notícias de Lisboa, só posso transmitir um sincero agradecimento a todas as pessoas que nos mostraram o seu apoio nestes dias, na internet, e a quem colaboraram magnificamente em Lisboa para este sucesso coletivo. É emocionante ver o seguimento realizado no PGL, e também dos amigos de Portugal, através do sinal institucional da Assembleia da República. Os parabéns são para todos, mas especialmente devem ir para o Presidente da AGAL, Alexandre Banhos Campo, pela forma como levou o processo, e o gesto de ter alargado a participação a todas as associações lusófonas, sem exclusão.

Por outro lado, desejo manifestar a minha adesão e satisfação do texto apresentado e lido por ele. No comunicado da Associação Pró AGLP indicamos que “explica a posição institucional das Entidades Lusófonas Galegas, de que somos co-partícipes”.

Julgo que estamos iniciando uma nova etapa cheia de possibilidades, mas estas só podem realizar-se se formos capazes de adquirir compromissos. Já começamos a ver os primeiros resultados desta dinâmica de unidade, e estou certo que teremos mais notícias positivas nos próximos meses e anos. Com humildade e trabalho chegaremos longe.

Muito obrigado a todos.

Fonte original:

Mais info:

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"Talvez a Academia Galega da Língua Portuguesa tenha um efeito agora incalculado"

Celso Álvarez Cáccamo

Entrevista a Celso Álvarez Cáccamo

A Esmorga / MDL / PGL - Na sequência das I Jornadas de Língua que estão a decorrer em Ourense, nesta quinta-feira, dia 3 de Abril, a sala 04 da Faculdade de Humanidades será palco de uma interessante conferência ministrada pelo professor Celso Álvarez Cáccamo, um dos poucos sócio-linguistas galegos que pode presentar unha formação académica como tal. De certeza, as suas análises radicais não vão deixar indiferente ninguém.

Subordinada ao título "A perda da Lingua, as clases e as formas de capital", a conferência estará virada para dissertar sobre a substituição linguística, consistente esta em que uma língua ou variedade, simplesmente, deixa de utilizar-se como primeiro idioma no seio da família e nos grupos de amigos, e outra língua ou variedade ocupa o seu lugar. Os factores de vários tipos que entram em jogo neste processo serão analisados em profundidade por Álvarez Cáccamo.

Ainda, a sua exposição também estará virada para as diferentes formas do capital e das suas propriedades dentro do mercado linguístico e social na sociedade de classes, com o objectivo de compreender a perda da língua na Galiza, e, portanto, de imaginar maneiras de intervir para a inversão deste processo desde basicamente, ora uma óptica reformista, ora uma óptica emancipadora.

Como estamos a fazer já habitual durante estes dias a respeito das jornadas ourensanas, o Celso respondeu algumas questões que lhe apresentamos, desta vez as reflexões sobre quatro citações suas que nos pareceram suficientemente significativas ou provocadoras, para nos introduzir mais no assunto...

"Nom gosto de me definir como reintegracionista. Sou simplesmente escritor galego em português. Pratico a unidade da língua portuguesa como pratico a unidade da língua inglesa, que também escrevo".

(Celso Alvarez Cáccamo. Entrevista no Novas da Galiza nº 56, Julho de 2007).

Qualquer auto-definição é quase sempre nociva. Amiúde, uma auto-definição situa a focagem, o enquadramento, onde o adversário ideológico (que sempre existe) quer, não onde um quer ou não quer. O "reintegracionismo" é simplesmente a normalidade duma língua, de qualquer língua. Para a saúde mental, é mais prudente deixar aos adversários (não a um próprio) o problema de se auto-definir. Mas neste meu rechaço (intermitente) da etiqueta não sou nada original: demorei anos em compreender, por exemplo, o sentido da não-auto-definição doutras pessoas, como o Mário Herrero.

Ora, eu compreendo também a utilidade pragmática do vocábulo "reintegracionista". Se o "reintegracionismo" existe como categoria social, embora deformada (qualquer embalagem deforma a realidade), os "reintegracionistas" podemos utilizar o posicionamento que nos fazem outros para interpelá-los, interrogar o seu enquadramento com perguntas figuradas deste tipo: "Tudo bem, como quiseres: serei 'reintegracionista'; serei 'lusista'; escreverei 'em português', não em galego. Mas, diz-me de vez, faço ou não faço cultura galega?".

Se a sua resposta é Não, o exercício da procurada exclusão é transparente, e portanto inquestionável. Se a sua resposta é Sim, claro, então desmembram-se as escusas. E se é Sim, talvez, mas..., esse "mas" que resume o conflito linguístico imposto requer, em lógica ética e democrática, ser detalhadamente explicado. Isso já seria bastante para nutrir a ilusão de diálogo..

"A ideia elementar é que a língua é sempre uma questão de classe, e que, enquanto houver classes, haverá sempre alguma questione della lingua. Que não se saiba isto é terrível sintoma da descerebralização maciça".

(Celso Alvarez Cáccamo. "Último texto sobre a língua", artigo no PGL e Vieiros, 24 de Agosto de 2005).

Negar a existência das classes ou reduzi-las a uma trivial diferença resultante da diversidade humana (de gostos, interesses, etc.) nivelada por uma relativa comodidade da renda é uma velha táctica ideológica e pseudo-sociológica para impedir a ré-união da gente. E, se as classes sociais, construíveis (construíveis) no princípio da posição estrutural (se produzes ou não produzes; se te produzem; o que produzes) existem, é apenas lógico que devem ter alguma ligação com um recurso simbólico tão poderoso como a Língua como padrão, como Standard (isto é, estandarte).

Onde se viu que os grupos desiguais possuam qualquer recurso em igual quantidade ou forma, ou em comparável natureza? Que não se aprenda isto nas escolas além do velho indoutrinamento de que "Sabendo o padrão da Língua chegas mais longe" é sintoma da secura mental que nos invade. A perícia na Língua, claro, sempre classifica: class-ifica. Como o faz é uma pergunta possível. Qual Língua ou quais Línguas o fazem é outra. Se nos interessa reproduzir a lógica da class-ificação social a meio da língua, só nos interessará abordar a segunda pergunta, e construiremos a questione della língua em torno dum resvaladiço conflito entre "o español" e "o português" ou "o galego".

Mas se nos interessa apontar elementos de debate para romper essa lógica, teremos de concluir que é melhor, embora duro, renunciar ao nosso étnico amor filial a uma destas línguas e compreender a terrível contradição de "fazer língua". Teremos que perguntar-nos outras cousas, como: como classifica a língua? E concluiremos cousas que talvez nos façam tremer se, por natureza, socialização ou adquirida comodidade, somos pessoas indefensas perante as contradições.

A maior parte das vezes, porém, fazemos as duas perguntas (e mais) simultaneamente, sem distingui-las; daí a confusão do activismo linguístico galego.

"Foi pessoa que sentenciou essa aberração de "a minha pátria é a língua portuguesa", não é? Substituamos "portuguesa" por "galega", ou "galego-portuguesa", e a aberração é comparável. O povo e as elites são as duas faces da pátria, e esse é o problema. Cada pátria imposta preexiste e é eterna: uma inescapável mácula mental".

(Celso Alvarez Cáccamo. "Último texto sobre a língua", artigo no PGL e Vieiros, 24 de Agosto de 2005).

A metade da resposta está na resposta anterior. A Pátria (não as pátrias miúdas que as pessoas, livremente, cultivam para exercerem a política poética ou sobrelevarem a anomia diária), isto é, a "Pátria imposta", sempre requer dous elementos complementares para funcionar como totalizador imaginário: as elites sociais reais, e o Povo a-social irreal construído polas elites reais. Então, acho que nessa Pátria absoluta não há História como tal, como trajecto: na concepção a-social das elites que se chamam patrióticas, o nascimento duma Pátria seria um evento auto-contraditório.

Portanto, por definição a Pátria preexiste ao tempo e ao universo (que até tem um momento inicial, uma singularidade) e, como Deus, tampouco pode morrer. Jamais um autêntico patriota desejará a morte da sua Pátria (enquanto, polo contrário, um autêntico socialista desejará a morte do socialismo para que nasça o comunismo, e um autêntico comunista a morte do comunismo para que nasça o anarquismo). De maneira que o patriotismo não parece uma ideologia política, mas uma posição político-poética cosmogónica alimentada sobre e contra o povo histórico por elites muito pouco patrióticas, o cultivo de cuja retórica ajuda muito a obter subsídios nacionalistas.

E quando a língua se converte em Pátria (isto é, quando se converte em Língua), a diferença linguística é um atentado terrorista e surgem as negociações político-poéticas (em duas frontes) como miragem. Não nos enganemos: qualquer Língua sempre vai querer matar-nos.

"Nom é o meu papel julgar as Academias, porque reconheço que nom me interessam. Em geral, as culturas geram instituiçons deste género para defenderem os seus interesses, e eu nom me sinto implicado com isto".

(Celso Alvarez Cáccamo. Entrevista no Novas da Galiza nº 56, Julho de 2007).

Eu julgo diariamente as academias na minha prática ideológica interna, mas não é o meu papel: não concebo que para a recuperação dum idioma agonizante, como o nosso, as Academias possam ser um projecto intelectual interessante. Mas esse é o meu escoramento próprio (cada um tem o seu, ou muitos). Ora bem, eu quisera chegar a aprender a respeitar bastante o direito de cada pessoa e grupo humano, de cada grupo activista, a fabricarem as suas íntimas maneiras de situar-se no mundo e, após muitos anos, acabarem a vida com a sensação de que não tudo o que fizeram entre os demais e com os demais foi inútil para paliarem o arrepiante devalo do projecto humano. Este é um objectivo modesto, como é obrigado.

Obviamente, incluo-me neste desejo de respeito aos meus escoramentos: também eu tenho as minhas maneiras, diárias, de pensar que as minhas práticas não são de todo inúteis, de que até parágrafos como estes podem ter um efeito de, polo menos, diferença (preferivelmente de confusão) na percepção das cousas da língua por alguma pessoa que os leia. Ignoramos o futuro, não é? Existem fenómenos de estranha mudança que os físicos chamam "transição de fase" polos quais um estado aparentemente estável, por acumulação de forças (por acumulação de vontades), pode dar passo num instante a um novo estado radicalmente diferente, como a água que ferve de súbito como se cada partícula fosse consciente da fruição das demais (a consciência é um contínuo, não um absoluto). E, se unimos a isto, por excrescência retórica, o chamado "princípio de incerteza", então complica-se-nos mais, proverbialmente, a tarefa de predizer qualquer cousa.

Por outras palavras: talvez a língua galega ferva logo na Galiza, quase sem nos decatarmos, antes do que suspeitávamos, para se tornar naquilo que a ideologia já diz que é: em língua portuguesa. Então, se isto acontecer, talvez a Academia Galega da Língua Portuguesa tenha tido um efeito agora incalculado. Em qualquer caso, como sempre diz sabiamente Ângelo Cristóvão, é melhor estarmos preparados para uma nova fase (como, por outra parte, já estamos preparados para a desaparição do galego), enquanto continuamos, na vida, a resistir qualquer tipo de exclusão e dominação por mor da nossa liberdade de letras. Das letras galegas.

Obrigado por esta entrevista.

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