ETIMOLOGIAS obscuras ou esconsas
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Eis uma presa de etimologias achadas ao longo de trinta e cinco anos de pesquisas, muitas já publicadas em atas de congressos, em revistas, no livro sobre As tribos calaicas ou na Rede. As notícias certamente valem se atinam, mas é que estas ainda não tiveram a ocasião de serem refutadas.
Dificuldades há, muitas e complexas. A cultura galega não é viável na conjuntura. As periféricas no estado espanhol não fruem de muita simpatia. Aliás, a projeção da língua portuguesa no mundo ainda não tem o peso proporcional à dimensão demográfica. Lavrar nessa seara não é apenas um labor necessário. Também é labor que dá felicidade, o que é prova da certeza da singradura. E já se sabe que navegar é necessário.
A ordem foi complexa. Reflete o tempo em que essas origens foram surgindo. Repeti, isoladas, algumas já inseridas em conjuntos, se a importância aconselhou salientá-las: eis os vocabulários do calçado arcaico e o da insânia. A preguiça e a imperícia são as autoras do resto das mágoas. Se há mérito é o da ingenuidade e a ousadia; o pecado que não quis cometer é o de calar o que me parecia claro, mesmo sem os antecedentes do académico decoro. Prefiro ser o rapaz que vê a nudez do rei e correr o risco de ficar envergonhado.
Ao cabo surge um quadro nítido da situação linguística do oeste da península (também do resto) no milénio primeiro. Foi surpreendente dar com provas da pervivência de uma língua indo-europeia pré-romana de tipo céltico até os arredores do ano mil, coexistindo com um latim republicano assaz arcaico. A língua pré-romana mostra um perfil próximo do céltico goidélico. Foi falada por toda a península, como materna ou como franca (nos iberos e bascos). Por muito tempo pôde evitar-se a questão sob pretexto de as palavras pré-romanas óbvias serem de datação impossível. Assim ficava inconteste a ideia de a latinização ser quase fulminante.
Mas ora antropónimos (Orraca, Ordonho), topónimos (Samos) e apelativos (esquerda) destruem o cómodo da data incerta e desafiam qualquer a rebater. A par, muitas outras palavras roboram mais cada vez a condição céltica da língua tanto tempo esquecida, céltico de labiovelar intacta, de tipo goidélico. O número de palavras do fundo céltico é esmagador. A falta no nosso âmbito de estudos sistematicos de linguística céltica somente em parte pode explicar um silêncio tão prolongado, que cada vez se parece mais com a nudez do rei do conto de Andersen.
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