Apresentada a edição crítica do testamento de Afonso II (1214) preparada por José-Martinho Montero Santalha
- tamanho da fonte diminuir o tamanho da fonte aumentar o tamanho da fonte
- Publicado em Seminário A Nossa Língua: 1000 Anos de História
- Ler 5169 vezes
- Imprimir
O seminário «A nossa língua: 1000 anos de história, 8 séculos de escrita» foi o evento em que o Presidente da AGLP apresentou uma edição crítica do testamento de 1214 de D. Afonso II, motivo das comemorações que se desenvolvem de junho de 2014 a junho de 2015, em que participa a Academia Galega.
O seminário «A nossa língua: 1000 anos de história, 8 séculos de escrita» foi o evento em que o Presidente da AGLP apresentou uma edição crítica do testamento de 1214 de D. Afonso II, motivo das comemorações que se desenvolvem de junho de 2014 a junho de 2015, em que participa a Academia Galega. A edição deu-se a conhecer num opúsculo publicado pela AGLP e intitulado O texto do testamento de 1214 de Dom Afonso II, rei de Portugal: Edições filológica, crítica e paleográfica.
O testamento de Dom Afonso II (terceiro rei de Portugal, 1211-1223), redigido em Coimbra a 27 de junho de 1214, é considerado o documento mais antigo redigido em língua portuguesa, entre aqueles textos que podem datar-se com segurança e que se apresentam bem identificados linguisticamente. É óbvia, pois, a sua importância na história da nossa língua, tanto pelo caráter inaugural da escrita como pela informação linguística que podemos sacar daí.
O documento constitui, pois, uma parte do património comum de toda a Lusofonia, também portanto da Galiza. Foi outorgado e redigido em Coimbra, e podemos supor que o redator seria português, mas um texto exatamente idêntico podia ter-se escrito igualmente em Santiago de Compostela –que o rei Dom Afonso visitaria uns anos depois– por um escriba galego.
Aqui oferece-se uma nova edição deste documento: uma leitura filológica em edição crítica, acompanhada da transcrição paleográfica dos dois manuscritos em que se conservou (o da Torre do Tombo, de Lisboa, e o do arquivo capitular da catedral de Toledo).
De resto, a Galiza esteve também presente na vida de Dom Afonso II de diversas maneiras, apesar de não pertencer ao seu reino. Personagens como o arcebispo de Santiago, o bispo de Tui ou o abade do mosteiro cisterciense de Osseira desempenharam funções de mediação e arbitragem no conflicto que Dom Afonso II manteve com as suas irmãs por causa da herança paterna. O rei peregrinou devotamente a Santiago, pedindo talvez ao apóstolo ajuda para os seus problemas de saúde.
E também no testamento de 1214 está presente a Galiza. O rei lembra-se de deixar legados para a arquidiocese de Santiago (da qual dependiam como sufragâneas naquele momento várias dioceses portuguesas) e para a diocese de Tui (que abrangia na altura uma parte do território do Minho português). E no seu texto documenta-se por primeira vez a forma genuína do nosso país: Galiza.
José-Martinho Montero Santalha (Cerdido, Corunha, 1947) é catedrático de Língua e Literatura Galega na Universidade de Vigo e presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa. É autor de As rimas da poesia trovadoresca galego-portuguesa: catálogo e análise (2000) e de diversos trabalhos sobre língua e literatura medieval.