Transcrição da palestra do Professor Evanildo Bechara
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Montero Santalha apresenta professor Evanildo Bechara
Para todos quantos na Galiza defendemos o carácter lusófono da nossa fala e, portanto, a pertença da Galiza ao mundo da Lusofonia, a presença entre nós dos professores Evanildo Bechara e Malaca Casteleiro é não só uma grande honra mas também um motivo de imensa alegria.
Sentimos na sua visita o calor da companhia dos nossos irmãos de língua que seguramente compreendem a difícil situação em que a nossa língua comum viu a encontrar-se entre nós, e mais ainda sendo Galiza uma parte do território em que a língua teve o seu nascimento. São ambos, ademais, membros egrégios das duas Academias que tradicionalmente se ocupam de orientar a normativa escrita da língua comum. O professor Malaca Casteleiro, da Academia das Ciências de Lisboa, e o professor Bechara, da Academia Brasileira de Letras.
Na Galiza existe desde há anos um movimento cultural conhecido como Reintegracionismo que, em diversos campos, trabalha por reinstaurar a todos os níveis a integração da língua da Galiza como uma norma dentro do Português universal. Com esse espírito reintegracionista desenvolvem meritoriamente e com grande generosidade as suas atividades várias organizações empenhadas em promocionar o uso da nossa língua mantendo a unidade lusófona. Ora, também na Galiza aspiramos a contar com uma instituição congénere das duas Academias citadas: a Academia Galega da Língua Portuguesa, que se encontra em processo de constituição.A Academia Galega da Língua Portuguesa quer ser uma instituição científica que concentre a sua preocupação nos problemas da língua portuguesa da Galiza guiada, portanto, por claros princípios de unidade lusófona e de cooperação com as correspondentes instituições dos demais países de língua portuguesa, e como corporação científica, inspirada pelo amor à verdade e com um sincero respeito a qualquer outra opinião.
Sentimo-nos, pois, muito honrados com a presença destes dous egrégios filólogos de Portugal e do Brasil e corresponde-me a mim agora apresentar o professor Evanildo Bechara, que é natural do Recife, no nordeste brasileiro. Aos 11 anos transferiu-se para o Rio de Janeiro onde logo seguiu o curso de Letras, na modalidade de Neo-Latinas, na faculdade do que hoje é a Universidade do estado do Rio de Janeiro, onde finalmente alcançou o grau de Doutor de Letras em 1964. Recordemos também um dado para nós mais próximo: como parte da sua formação filológica aperfeiçoou-se em Filologia Românica em Madri com o professor Dámaso Alonso nos anos de 1961 e 62. A sua atividade docente no campo da língua portuguesa foi intensa e variada. Entre outras funções desta índole podemos lembrar que em 1964, convidado pelo professor Antenor Nascentes para o seu assistente, chegou à cátedra de Filologia Românica na faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da atual Universidade do estado do Rio de Janeiro. Leccionou também cursos noutros centros do país e, no estrangeiro, em Colónia e em Coimbra. O seu interesse pelos estudos linguísticos vem dos tempos da adolescência quando conheceu o professor Said Ali. Fruto do seu trabalho de investigação é uma longa série de publicações que se iniciou quando, com dezassete anos, escreveu o seu primeiro ensaio intitulado Fenómenos de intonação, publicado em 1948. A este trabalho seguiriam, uns anos mais tarde, o livro primeiro Ensaios de Língua Portuguesa, e assim por diante uma sucessão de livros e artigos que seria longo citar aqui. Mas, não podemos deixar de recordar a sua Moderna Gramática Portuguesa, repetidamente reeditada, que é uma obra fundamental na atual cultura brasileira.
Agora é Professor Emérito da Universidade do estado do Rio de Janeiro e da Universidade Federal Fluminense e entre outras honras é membro da Academia Brasileira de Letras, na qual exerce neste momento a função de Tesoureiro e, se não ando errado, é também sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e, ademais, por exemplo, é Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra. O interesse científico do professor Bechara estende-se também à Galiza onde participou nalgum dos Congressos organizados pela Associaçom Galega da Língua, AGaL, e colaborou repetidamente na revista Agália desta associação. Dou-lhe pois a palavra ao professor Evanildo Bechara.
Palestra do professor Evanildo Bechara
"A Língua Portuguesa na visão dos fundadores da ABL:
unidade e diversidade"
Em primeiro lugar gostaria de manifestar os meus agradecimentos pela honra de vir outra vez à Galiza e conversar não só com os antigos colegas, alguns dos quais fazem parte da mesa, mas também de novos colegas que pertencem à nova geração em cujas mãos com toda certeza está também o destino do Galego na Galiza, e principalmente o destino do Galego incorporado à grande família lusófona.
E, portanto, é com muito prazer que teço algumas considerações sobre o tema apresentado. Escolhi como tema como os fundadores da Academia Brasileira de Letras viam a língua portuguesa no seu tempo. Como sabem, a nossa Academia, fundada em 1897 -está agora completando 110 anos- foi organizada por uma reunião de jornalistas, literatos, poetas que se reuniam na secretaria da revista brasileira dirigida por um crítico literário e por um literato chamado José Veríssimo, natural do Pará, e desse entusiasmo saiu a ideia de se criar a Academia Brasileira, depois anexada ao seu título: Academia Brasileira de Letras.
Nesse sentido Machado de Assis, que foi o primeiro presidente desde a sua inauguração até à data de sua morte, em 1908, imaginava que a nossa Academia deveria ser uma academia de Letras, portanto, de literatos.
Todavia, sobre a influência de Joaquim Nabuco, a Academia Brasileira de Letras passou a ser uma academia do que o Joaquim Nabuco chamava de Notáveis. Os notáveis na medicina, na filosofia, no direito, na teologia, na religião, automaticamente na literatura e na língua. Todavia os fundadores da Academia não contaram teoricamente como filólogos apesar de no seu seio nós termos a presença de João Ribeiro, que foi um notável filólogo brasileiro natural de Sergipe mas radicado no Rio de Janeiro. E tivemos também Carlos de Laertes, jornalista, mas também professor catedrático do colégio Pedro Segundo, e também Silva Ramos, professor catedrático do colégio Pedro Segundo.
Todavia, esses três nomes não entraram na Academia como filólogos. Carlos de Laertes foi um dos representantes do jornalismo brasileiro na época. O João Ribeiro, como historiador, já que ele era autor de uma excelente história do Brasil com visão e projeção puramente didática, e o Silva Ramos como poeta, já que se tinha formado em Coimbra e por essa época escreveu um livro de poesia chamado Adejos. De modo que faltava à Academia uma congregação de professores experientes que fizessem também da Academia uma academia de língua.
Durante o seu trajeto a academia teve notáveis filólogos, mas que trabalhavam filologicamente fora da academia, como aconteceu em primeiro lugar com o nosso Aurélio Buarque de Holanda, conhecido dicionarista, mas que fez o seu dicionário fora da academia. O professor Antônio Houaiss, filólogo de primeira grandeza, lexicógrafo, mas que também fez o seu dicionário fora da academia apesar de na academia ter trabalhado durante sete anos, mas a academia à época não tinha o suporte financeiro para levar avante o seu dicionário e por isso, graças ao apoio político, ele conseguiu fundar o instituto Antônio Houaiss através do qual saiu o seu dicionário, conhecido dentro e fora do Brasil. E o professor Celso Cunha quem também é excelente filólogo, autor de uma gramática muito divulgada dentro e fora do Brasil, primeiro sozinho mas depois acompanhado do ilustre, saudoso, mestre português Lindley Cintra. De modo que a academia não se apresentava como uma academia também de língua, como é por exemplo o caso da Espanha, que é uma Academia de Língua, com uma seção muito numerosa e muito competente de filólogos espanhóis.
Mas curiosamente os fundadores da academia tinham uma ideia muito segura do que vinha a ser a língua portuguesa. Eles achavam -e já os autores românticos trabalhavam nesse sentido embora não usassem essa expressão que ficou célebre na Linguística histórica, da unidade na diversidade, de um modo geral, desde Gonçalves Dias, depois passando a José de Alencar, depois passando a Machado de Assis, que em 1871 escreveu um ensaio para uma revista escrita em português mas publicada em Nova Iorque, um ensaio intitulado Individualidade do Brasil- todos esses escritores sabiam que a língua apresentava uma unidade com a tradição portuguesa. E essa visão desses autores românticos chegou a ser espelhada no primeiro artigo do Estatuto da Academia Brasileira de Letras.
O primeiro artigo do Estatuto reza o seguinte: «Compete à Academia Brasileira de Letras o cultivo da língua e da literatura nacional». Examinemos que os fundadores não usaram o que seria possível num outro sentido: o cultivo da língua e da literatura nacionais, usando o adjetivo no plural que abarcaria tanto o conceito de língua como o conceito de literatura. Mas eles não fizeram assim não por uma possibilidade de concordância nominal que a língua permite, mas pela expressão de um desejo muito firme: a língua é uniforme, a língua é patrimônio comum ao Brasil e a Portugal. Agora o que cabe especificamente, particularmente à cultura brasileira, é a literatura nacional. Então este primeiro artigo do Estatuto reflete bem o que os nossos fundadores imaginavam do que vinha a ser a língua. A língua é um patrimônio comum à época, às duas nações, já que os falantes de português da África estavam incorporados politicamente a Portugal. Então os nossos fundadores tinham uma ideia muito clara de que a língua era comum a Portugal e ao Brasil. Agora a literatura, essa sim, seria expressão da nacionalidade brasileira.
Este critério de observação e esta opinião, não fica somente na concordância do adjetivo nacional com a literatura; fica também expressa no desejo do trabalho da Academia. Sabendo que a língua era comum a Portugal e ao Brasil, os nossos fundadores imaginavam que o trabalho da confecção de um dicionário da língua seria um trabalho para portugueses com a colaboração, naturalmente, dos brasileiros, mas que só cabia aos brasileiros um dicionário de brasileirismos, de modo que no regimento da Academia, no primeiro regimento da Academia, estava lá como atividade da Academia a publicação de um dicionário de brasileirismos e de um dicionário de autores brasileiros, porque não havia ainda compendiados em forma de dicionário os autores, os diversos autores brasileiros, desde o início da literatura brasileira até à época da fundação da Academia Brasileira de Letras.
Naturalmente, em vista ainda dos primeiros passos de pródromos do que hoje nós chamamos Geografia Linguística, os nossos fundadores não tinham assim uma ideia como hoje nós temos da complexidade de fixar no território brasileiro aquilo que é especificamente do Brasil e que poderia receber o nome de «brasileirismos». O nosso querido e saudoso mestre Celso Cunha tem inclusive um trabalho intitulado «Que é brasileirismo?» e ao final deste trabalho fica uma ideia muito nebulosa do que compete realmente tachar de brasileirismo, uma expressão, um giro sintático, uma construção lexical, do que vem a ser realmente «brasileirismo». De modo que a Academia se empenhou desde a sua fundação no trabalho de se fazer o dicionário de brasileirismos.
Mas à medida que esses brasileirismos eram escolhidos e publicados na Revista da Academia vinha logo a crítica de que aquele termo tido como brasileirismo corria também em Portugal de modo que era difícil fixar o que vem a ser o conceito de «brasileirismo», se nós não tínhamos ainda naquela época, como ainda não temos hoje a confecção dos Atlas linguísticos, apesar dos trabalhos recolhidos particularmente, não somente por filólogos, mas também por pessoas, médicos, engenheiros, advogados mais interessados em particularismos das suas regiões, e muitas dessas contribuições estão inseridas principalmente na revista Lusitana nos seus 38 volumes. Nestes temos um manancial extraordinário dessa investigação feita em relação a Portugal, não somente Portugal continental, mas Portugal também refletido nas suas ilhas. Ora, no Brasil esses estudos começaram muito tarde, graças ao entusiasmo de Serafim da Silva Neto, que foi um dos nossos grandes luminares e que trabalhou muito para a confecção dos atlas linguísticos no Brasil. Não somente Serafim da Silva Neto mas também o prestígio de Celso Cunha, não somente acadêmico, mas também o político, de Celso Cunha, no sentido de preparar uma equipe dirigida, uma equipe que funcionava, que funcionou inicialmente na Universidade da Bahia e que teve como principal orientador o professor Nelson Rossi. Nelson Rossi foi a Portugal estudar fonética com os foneticistas portugueses à época, com trabalhos de laboratório, tendo em vista que esses atlas linguísticos precisavam de uma transcrição não somente fonética mas também fonológica e inicialmente a Universidade da Bahia, graças ao empenho e ao trabalho de Nelson Rossi, publicou na década de 50 para 60 o atlas prévio dos falares baianos. Depois essa mesma equipe trabalhou para a publicação do Dicionário da Paraíba e auxiliou a publicação de outros atlas parciais do Brasil.
Mas estamos ainda muito longe de uma distribuição, de um conhecimento mais atento e vigilante, e como esses trabalhos são publicados com um discurso de tempo muito longo, fica difícil quando nós pegamos à obra publicada sabemos se esta obra reflete atualmente o que existe como particularidades linguísticas nas regiões estudadas. Mas mesmo assim esse trabalho presta um relevante serviço. Entretanto não temos ainda cobertas todas as regiões do Brasil. Temos apenas esses atlas já referidos e atlas parciais de Juiz de Fora, que é uma pequena região de um grande estado que é Minas Gerais. Temos também um atlas parcial do Rio de Janeiro. A própria filha do professor Celso Cunha tem um trabalho sobre o levantamento lexical de certos termos usados por pescadores na região do que nós chamamos lá a região dos lagos. Mas ainda falta muito para o trabalho de fazermos no Brasil, metodológica e cientificamente, um trabalho sobre brasileirismos. Mesmo porque a contrapartida portuguesa também não está hoje ainda totalmente estudada de modo que o trabalho, a confeção contrastiva, não se pode fazer. Os nossos fundadores, e gerações subsequentes, nesses cento e dez anos de vida da Academia acabaram deixando de lado essa ideia da confeção de um dicionário de brasileirismos. Deixaram de lado mas a ideia não está morta. Quando eu entrei para a Academia em 2001 uma das minhas preocupações foi justamente trazer para a Academia esses problemas de língua. Graças à receptividade junto aos colegas pudemos criar uma coleção. A Academia possuia duas coleções, uma Afrânio Peixoto, mais antiga, e outra coleção mais moderna Austregésilo de Athayde e graças a uma indicação minha nós criámos na Academia a Coleção António de Morais Silva em homenagem ao nosso grande lexicógrafo do século XIX. Aliás já no final do século XVIII ele publicou a primeira edição do seu dicionário, calcado do que Bluteau havia publicado no dicionário latino-português, mas apesar de ser uma obra construída à sombra do vocabulário de Bluteau, desde a primeira edição o nosso António de Morais Silva tem uma colaboração muito especial, muito própria, e essa colaboração própria se concretiza na segunda edição desse dicionário que foi publicado em 1813. É a segunda edição, mais propriamente o Dicionário de Morais.
É interessante observar que Morais, sendo natural do Rio de Janeiro, como diz no frontispício do dicionário, se tenha dedicado a isso. Eu tenho uma ideia, mas não passa de ideia, não passa de um palpite, que precisa de uma averiguação maior, mas eu atribuo esse interesse de António Morais Silva para os dicionários e a modernidade técnica lexicográfica para a época, ele a adquiriu quando fugindo a uma perseguição religiosa em Portugal ele foi para a Inglaterra, e nós sabemos que a Inglaterra sempre foi uma grande inspiradora, uma grande fonte de publicação de trabalhos lexicográficos. De modo que pesquisas estão sendo necessárias para rastrear se esse nascer do interesse de António de Morais Silva para a lexicografia não tenha advindo do seu contato com a Inglaterra, à época em que ele lá ficou fugindo a uma perseguição das autoridades, especialmente as religiosas, porque ao terminar o seu curso da universidade de Coimbra, ele não esperou um prazo de um dia santo para começar as festividades naturais de uma turma que se forma, e essa festividade foi antecipada antes de terminar o dia. E isso foi suficiente, ou pelo menos uma razão muito forte, para que a polícia andasse atrás dele, e ele conseguiu fugir de Portugal e ser recebido até por um ministro português a quem ele dedica o seu dicionário, o conde de Balsemão, que foi o responsável pela proteção de António de Morais Silva na Inglaterra.
De modo que essa nova coleção, António de Morais Silva, já tem três trabalhos publicados porque até então a nossa academia só se dedicava à confecção de um vocabulário ortográfico e quase sempre quando as comissões iam a Portugal para tratar de ortografia a Academia não tinha no seu seio um técnico, um filólogo, um linguista, um técnico que pudesse se confrontar com os ortógrafos portugueses, os lexicógrafos portugueses que estavam à frente do dicionário. E a isso se deve, em grande parte, o fato de que os Acordos que foram estabelecidos em Portugal e Brasil a respeito de ortografia, depois de assinados, nem sempre atendiam às necessidades do brasileiro. Isso aconteceu, por exemplo, com o Acordo de 1945. Depois de Portugal e Brasil terem assinado o Acordo, quando os filólogos, os linguistas, os professores de língua portuguesa se detiveram na análise mais rigorosa do Acordo, houve uma reação contra esse acordo, e o governo que tinha assinado o Acordo de 1945 com Portugal acabou voltando ao Acordo de 1943, que atendia mais às necessidades e refletia mais os usos ortográficos e fonéticos do Brasil. De modo que na Academia também conseguimos que o sector de Lexicografia fosse ampliado no sector de Lexicologia e Lexicografia. Essa é a nossa intenção, não somente levar para o seio da Academia, como temos feito, temos tentado fazer: temos recebido o apoio dos colegas. Hoje temos cinco lexicógrafos trabalhando efetivamente na confeção de um dicionário escolar da língua portuguesa.
Mas agora, depois desse VI Colóquio [da Lusofonia, em Bragança] e do contacto com os colegas galegos, eu quero apresentar aos nossos colegas da Academia uma proposta de mostrar-lhes -porque eles, como disse, estão distribuídos em vários interesses profissionais: os embaixadores, os especialistas em direito, os especialistas em medicina- então eu quero levar ao seio da Academia a importância e a expansão da Lusofonia, e a importância que o Brasil, e automaticamente a Academia Brasileira de Letras, pode exercer nesse cenáculo de lusofonia. De modo que eu acredito que nós tenhamos bons resultados no sentido de sensibilizar a Academia Brasileira de Letras para um alargamento do conceito de Lusofonia, e nesse alargamento incluir não somente com justa razão, mas também do ponto de vista científico, a presença e a responsabilidade dos galegos.
A Academia poder marchar no aspecto linguístico, já que não é um órgão oficial, a Academia Brasileira de Letras não tem nenhum compromisso com o estado brasileiro, não recebe subvenção nem federal nem estadual nem municipal. Ela vive dos seus recursos próprios de alguns prédios que foram doados por um livreiro português chamado Francisco Alves, que chegou ao Brasil pobre e faleceu muito rico, e não tendo herdeiros acabou doando os seus bens à Academia Brasileira de Letras. Isso foi por volta de 1922, o que fez com que a Academia pudesse ter recursos próprios para começar a coleção Pedro Calmon, depois passar à coleção Austregésilo de Athayde. E agora com recursos mais largos em virtude de um prédio que a Academia conseguiu, uma subvenção da Caixa Econômica que durante vinte anos explorou esse prédio, e a partir do ano 2000, toda a soma dos alugueres está entregue à Academia para exercer a sua atividade. Foi por isso que a partir do ano 2000 a Academia se abriu para a sociedade brasileira. A Academia começou a publicar uma série de trabalhos, começou a desenvolver uns prêmios que distribui anualmente, os de poesia, de romance, de literatura infantil de língua portuguesa. Por sinal, o primeiro prêmio que a academia concedeu de língua portuguesa foi ao professor Said Ali, que em 1921 tinha publicado o primeiro volume da sua Gramática Histórica, que sob a influência de Ferdinand de Saussure não chamou Gramática Histórica, mas chamou Gramática do Português Histórico, dentro daquela lição importantíssima do nosso grande e genial linguista suíço, Ferdinand de Saussure, segundo a qual uma descrição como é a descrição histórica num compêndio gramatical, só pode ser feita sincronicamente. De modo que o Said Ali não chamou à primeira edição do seu livro Gramática Histórica mas Gramática do Português Histórico, fazendo um estudo contrastivo entre o português antigo e o português moderno. Essa novidade de haver uma gramática histórica sem Latim foi suficiente para que o livro não tivesse sucesso dentro da escola, porque não se compreenderia uma gramática histórica que não começasse com o Latim. E há gramáticas históricas que até começam com a origem da linguagem! O nosso professor Said Ali, que estava dentro das ideias de Ferdinand de Saussure (Ferdinand de Saussure como sabemos faleceu em 1913, a publicação do seu curso de linguística foi em 1906) e o Said Ali, num trabalho de 1909 já fazia referência às dicotomias Saussurianas espelhadas no seu Curso de Linguística Geral.
De modo que na Academia Brasileira de Letras, tenho a certeza, nós vamos introduzir a preocupação dos nossos colegas galegos quanto à inclusão mais concreta (pelo menos com o apoio da Academia Brasileira de Letras) do Galego numa posição que lhe compete como nosso grande traço antigo e grande traço moderno dos anseios da juventude, do povo galego e dos professores que na Galiza lutam por uma projeção merecida da nossa língua, que faz parte perfeitamente desse conjunto da Lusofonia. Muito obrigado.
Ver vídeo das conferências
[apresentação Montero Santalha dos 3 min. 15 seg aos 8 min. 15 seg.]
[palestra do professor Evanildo Bechara dos 8 min. 15 seg. aos 41 min. 05 seg.]