Info Atualidade

Processo de criação da Academia no Frontera Notícias

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AGLP no Frontera Notícias

Jornal da actualidade minhota/galega publica reportagem na página 4

O Frontera Notícias dá conta novamente, desta na sua edição de novembro, do processo de criação da Academia Galega de Língua Portuguesa, ao noticiar com destaque o primeiro acto público, em Santiago de Compostela, da comissão instaladora do novo organismo. A presença dos professores Evanildo Bechara e João Malaca Casteleiro, dando apoio ao projeto, é muito ressaltada pelo jornal da actualidade minhota/galega.

"Academia Galega Lusófona chama as atenções do Brasil", eis o grande título com que na página 4 o Frontera  encabeça a dita reportagem, em que também é  destacada a frase proferida nas Conferências Pró Academia pelo professor João Malaca Casteleiro: «Temos que ser poliglotas dentro da própria língua».

É de salientar também que neste número, o jornal da actualidade minhota/galega publica trabalho de destaque para evocar a figura e a obra do professor Rodrigues Lapa, o filólogo que mais defendeu a causa galega.  "Rodrigues Lapa, a Língua e a Galiza" serve de tema central ao trabalho desenvolvido que o Frontera Noticias dedica à figura e à obra do grande filólogo português, um dos investigadores que mais contribuiu para a reintegração da língua galega no sistema linguístico luso – brasileiro – africano.

Nesse trabalho, da autoria do jornalista Pedro Leitão, o jornal cita a célebre frase de Rodrigues Lapa sobre a questão galega: «só é preciso que o povo galego aceite uma língua que lhe é brindada numa salva de prata». É ainda referida a terra natal de Rodrigues Lapa, Anadia, no centro de Portugal: lembra-se que Lapa veio ao mundo no… limite sul do Reino da Galiza (Anadia fazia parte desse reino, assim como da antiga província romana da Galécia, o que constitui mais uma curiosidade sobre Lapa e a sua terra).

 Rogrigues Lapa no Frontera Notícias

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Revista Agália publica entrevista a Montero Santalha

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Revista Agália 89-90

José-Martinho Montero Santalha é um dos promotores
da Academia Galega da Língua Portuguesa

O número 89-90 da Revista Agália (revista de ciências sociais e humanidades edita pela Associaçom Galega da Língua) publica nas páginas centrais a magistral entrevista de Alonso Vidal a José Martinho Montero Santalha, em que o catedrático da Universidade de Vigo, membro da Comissom de Lingüística da Associaçom Galega da Língua fala do projecto da Academia Galega da Língua Portuguesa.

A entrevista tinha sido publicada em versão reduzida no número 48 do Novas da Galiza e depois na sua versão ampliada no Portal Galego da Língua (reproduzida aqui no web da Academia). A Agália recupera a versão ampliada, sendo apresentado José-Martinho Montero Santalha como promotor da Academia Galega da Língua Portuguesa:

Martinho M. Santalha (Cerdido - Ferrol, 1947) é um nome de referência na Filologia e no Reintegracionismo. Estudou Filosofia e Teologia em Roma, e é doutor em Filologia Galego-Portuguesa com uma tese sobre a rima da poesia trovadoresca. Tem publicados abundantes trabalhos sobre temas filológico-literários. Em 1979 publicou o já clássico Directrices para  a reintegración linguística galego-portuguesa (Ferrol 1979), e em 1983 Método prático de língua galego-portuguesa (Ourense: Galiza Editora, 1983). Também é autor do estudo Carvalho Calero e a sua obra (Santiago de Compostela: Edicións Laiovento, 1993), e do livro de relatos Oxalá voltassem tempos idos! Memórias de Filipe de Amância, pajem de Dom Merlim (Santiago de Compostela: Edicións Leiovento, 1994). Com estas duas últimas obras ganhou o prémio que leva o nome do grande mestre Carvalho Calero, nas duas modalidades, de investigaçom e de criaçom literária respectivamente. Cofundador da AGAL em 1981, foi professor de inglês e actualmente é Catedrático de Língua e Literatura Galega na Universidade de Vigo. A proposta de criaçom de umha Academia Galega da Língua Portuguesa recuperou para o reintegracionismo velhos debates, mas colocando-os na prudente palestra da proposta concreta, da estratégia argumentada. Com ela, também pudemos voltar a saborear extensivamente o verbo do professor José Martinho Montero Santalha, que é sempre lufada de ar despoluído nas terras do debate aceso. O jornal Novas da Galiza publicou no número 48 umha interessante entrevista ao professor e colaborador, que solicitamos para o Portal Galego da Língua e para a revista Agália, na versom ampliada. Nela, o jornalista Alonso Vidal analisa com o investigador o momento presente do reintegracionismo linguístico e da sua proposta de Academia.

Martinho Montero fala da Academia Galega da Língua Portuguesa para o Novas da Galiza

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José-Martinho Montero Santalha"O reintegracionismo identificará-se com a Academia Galega da Língua Portuguesa"

PGL -  A proposta de criaçom de umha Academia Galega da Língua Portuguesa recuperou para o reintegracionismo velhos debates, mas colocando-os na prudente palestra da proposta concreta, da estratégia argumentada. Com ela, também pudemos voltar a saborear extensivamente o verbo do professor José Martinho Montero Santalha, que é sempre lufada de ar despoluído nas terras do debate aceso. O jornal Novas da Galiza publicou no número 48 umha interessante entrevista ao professor ortegano, que solicitamos para este Portal na versom ampliada. Nela, o jornalista Alonso Vidal analisa com o investigador o momento presente do reintegracionismo lingüístico e da sua proposta de Academia.  

"Se analisarmos as variantes que há no reintegracionismo, da AGAL ao padrom, vemos que é mais unitário do que o oficialismo"

Alonso Vidal - O Professor José Martinho Montero Santalha é o “homem tranquilo” do reintegracionismo galego. Com as formas pausadas e falar envolvente que também caracteriza outros fundadores da AGAL, este discípulo de Carvalho Calero, professor universitário, investigador especialista em cantigas medievais e escritor de romances premiados internacionalmente, leva às suas costas dezenas de anos de trabalho constante a favor da língua, sempre apropriadamente distante do ruído estridente dos foros internáuticos. Mas agora aparece com toda a intensidade, para liderar o grande projecto pendente da elite reintegracionista galega: a Academia da Língua.

Muito se tinha falado deste projecto. Porquê agora, Martinho?

Nom é tanto o momento concreto mas a necessidade de fazê-lo. Nom se trata de que se esteja no melhor momento possível, mas na necessidade de abordar este projecto porque o tempo vai passando. Certo que a ideia já vem de antigo. Eu já falara disto com Carvalho Calero. Visto que a Academia galega actual, sem pretender predizer o futuro, está constituída por umha clara maioria de membros que som profundamente anti-reintegracionistas, que além disso funciona de forma que se escolhem os membros uns aos outros, todos da mesma corda, está claro que nom vam admitir a presença de alguém que defenda a concepçom unitária da língua. Carvalho Calero tinha claro que haveria que fazer umha academia de carácter abertamente reintegracionista. Morreu no ano 90, portanto, esta ideia tem polo menos mais de quinze anos. Com essa ideia como base, eu já publicara um artigo no ano 94, que apareceu num tomo de homenagem a Guerra da Cal onde entre as tarefas pendentes do reintegracionismo incluía a criaçom do que chamava umha Academia Galega da Língua Portuguesa. Durante todo este tempo estava à espera de que alguém se pugesse um bocado à frente deste projecto porque eu já me sinto um bocado velho. Mas o tempo foi passando... Recentemente, em entrevistas publicadas em diversos meios reintegracionistas, tanto o próprio Estraviz, como António Gil voltaram a falar da ideia abertamente. Mesmo dentro da Comissom Linguística da AGAL, há pessoas a favor deste novo impulso. Embora eu nom me sinta com as forças de quando era novo, na época da fundaçom da AGAL, vimos que haveria que empenhar-se nesta obra com a máxima esperança. Sabes que eu ando muito mais metido no mundo da investigaçom e isso das reunions preparatórias, arranjar papéis e demais questons burocráticas som muito complexas e cansativas...

Mas para muitos reintegracionistas o papel académico estava-o a desempenhar a AGAL, ou a sua Comissom Lingüística (CL). Qual seria o contributo da Academia?

Actualmente a CL funciona de outra maneira diferente ao que pode ser umha ‘academia’ no sentido tradicional do termo. No seio da própria Comissom já há polo menos dous anos que se tratou este assunto de reformular a CL para que desempenhasse um verdadeiro papel de Academia. Houvo um projecto interessante do Carlos Garrido, que contemplava a modificaçom parcial do funcionamento da CL, com actos públicos, discursos de ingressos de novos membros, etc. De facto, seria umha hipótese interessante. Mas penso que a Academia deveria integrar plenamente todas as sensibilidades do reintegracionismo e como há o problema actual de tantos debates de carácter normativo, seria interessante que, naturalmente contando com a AGAL, pois seria absurdo nom contar com ela num assunto destes, nom se visse como algo prórpio também da AGAL, em que toda a gente poda participar mais abertamente.

Mas criar umha Academia nom é ir contra a história? Nom som instituiçons caducas e ressessas, incapazes de acompanhar o uso vivo social da Língua?

Nom se pode pedir a umha Academia o que ela nom pode dar. Mas fai-se-lhes caso, vaia se se lhes fai caso. De facto, a actual normativa galega oficial está baseada na opinom da Real Academia Galega. Todos e todas estamos a ‘sofrer’ a Academia. Todas as crianças galegas estám a estudar umha normativa que é responsabilidade total da RAG. Repara bem nisso. Se ao lado desta actual, houvesse outra com outra concepçom da língua, naturalmente o futuro apresentaria-se-nos dumha outra maneira. Mesmo do ponto de vista jurídico e legal; imagina que um futuro governo galego nom concordasse com o rumo da Academia actual ou com a deriva que a língua tomasse, que pensasse que este rumo nos leva à morte do idioma e nom podemos permiti-lo, pretende mudar de caminho e se pergunte: que normativa escolhemos? Um governo deveria basear-se numha instituiçom que tivesse um status um pouco mais formal e nom numha ‘associaçom’, por muito prestigio que ela tenha, como é o caso da AGAL.

Mas esse carácter formal deveria ser reconhecido oficialmente polas instituiçons... como pode chegar a acontecer isso?

Bom, o primeiro passo burocrático e o de reservar o nome escolhido, Academia da Língua Portuguesa, que já está concedido. Isso está regulado pola Lei de associaçons. Mas, a mim, preocupa-me mais a questom da sede, para além de outros como e eleiçom de membros, etc. Porque nom se pode dar um simples apartado dos correios como endereço. Está também a necessidade de um boletim de carácter mais ou menos científico, ainda que isso seria menos problemático porque felizmente no mundo do reintegracionismo há pessoas que estám mais do que capacitadas para essa tarefa. Mas o da sede sim, porque teria que ser numha cidade galega e para mim o ideal seria que algumha instituiçom pública, cámara municipal ou a própria Junta cedesse um lugar para que seja ocupado pola Academia, sem que isto implicasse umha renúncia a propriedade, com a certeza de que o serviço ao País que prestasse a Academia bem pagaria a cedência do local.

Mas para além do reconhecimento legal, precisa-se do reconhecimento político e social pola parte das instituiçons governamentais. E isso parece mais difícil, embora um partido nacionalista co-governe a Junta, nom é?

Olha, primeiro estamos com a construçom do projecto. Reconhecimento social? Há de chegar. Acho que dentro do reintegracionismo será referente e o reconhecimento dará-se. Polo menos da mesma maneira em que a outra academia é reconhecida, com críticas e discrepáncias pontuais nalgum aspecto. Acho que é o caminho a seguir: conseguir a identificaçom do reintegracionismo social com esta nova instituiçom lingüística, para além de mínimas discrepáncias que serám pontuais e nom afectarám a credibilidade e o rigor da própria academia. Mas nom perdas de vista que os mesmos defensores da actual academia a criticam nalguns aspectos, nomeadamente a suposta, ao seu entender, deriva para o português da última reforma ortográfica; inclusive até chegar a nem sequer segui-la nos seus escritos.

E a relaçom com o mundo lusófono será um dos objectivos principais...

Será, claro. Sempre se pensou com certa razom que os reintegracionismo nom recebia grande solidariedade do mundo lusófono. Falta-nos um maior apoio ou entusiasmo pola sua parte na ideia de a Galiza ser um país lusófono. Isto é obviamente produto da falta de informaçom ou de informaçom parcial e ou interessada a partir dos canais de informaçom oficial. As instituiçons oficiais portuguesas ou brasileiras nom tenhem com quem contar na Galiza. Pensa na falta de representaçom oficial ou melhor, institucional, do nosso país na altura da negociaçom dos acordos ortográficos da língua portuguesa. Daquela, esta carência fora paliada por umha representaçom galega de índole quase privada. A nossa Academia está chamada a desempenhar aqui um papel fulcral de relacionamento. As instituiçons lusófonas saberiam a quem acudir como interlocutor, obviando a actual academia isolacionista que nom compartilha a visom de unidade da língua portuguesa. Está mesmo a hipótese de a Galiza poder contar com um estatuto de observador, como no caso do Timor na CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), ideia que, já agora, é apoiada por alguns membros significados do actual Governo galego. Nesse sentido, a existência da nossa Academia também seria muito útil.

Mas falemos claro: verdadeiramente nom contas com a mais que possível marginalizaçom pola parte dos poderes públicos? Ao reintegracionismo, nem pam nem água...

Os contactos serám inevitáveis. Há que ir dialogando e explicando o projecto aos organismos oficiais. Algo disso já se está a fazer. A própria AGAL tem tendido pontes de diálogo. Mas certamente será difícil, porque estas pessoas tenhem em geral umha atitude contrária. E por outra parte cabe esperar que o outro sector ligado à Academia actual nom deixará que se interfira no que eles acham é o seu domínio e área de influência. Haverá que trabalhar bem duro neste sentido, porque há muitas calunias que se estám a fazer circular para fomentar umha interessada má imagem do reintegracionismo...

Mesmo pola parte do nacionalismo?

Eu acho que aí estám os ‘piores’. Infelizmente os piores inimigos do reintegracionismo som alguns membros significados do BNG e do nacionalismo em geral.

E nom poderia chegar a ser, paradoxalmente, aplaudida a criaçom desta Academia polos sectores oficialistas por significar, de algumha maneira, a renúncia à batalha pola ‘língua galega’? O próprio nome da Academia poderia sugeri-lo.

Tenho que reconhecer que o nome escolhido, Academia Galega da Língua Portuguesa, foi na prática o único elemento que levantou alguns reparos. O tema nom é fácil, é certo. Mas sejamos sérios. As academias fam-se para a língua do País. Nom para línguas estrangeiras. Outra cousa nom tem sentido. Homem, nos EUA existe a Academia Americana da Língua Espanhola, mas, claro é para os falantes deste idioma, obviamente.

Mas sim, o nome foi debatido, e sempre se pode discutir. Eu estou convencido de que há que falar de língua portuguesa. Já manifestei em 94 que tínhamos que ir renunciando pouco a pouco ao termo de língua galega.

Mesmo internamente, na Galiza?

Mesmo. Bom, internamente talvez se poderia permitir, mas pensa que o termo ‘língua galega’ é muito desorientador. Em primeiro lugar para os próprios galegos. Se se falar de língua portuguesa as pessoas vam pensar que nom vai com elas? Bom, se nom entenderem, explica-se-lhes, nom é? Olha, tu és galego mas falas português. Um português de determinadas características, todo o que quigeres, mas português. Se nom figermos assim, estamos a enganar, em primeiro lugar, os próprios utentes. Se tu lhe chamas de forma diferente é porque falas de entidades diferentes. Há um duplo sentido no termo.

Mas nom seria umha renuncia à batalha polo nome?...

Bom, o que eles defendem é outra cousa. Que é umha língua independente. Se nós falamos de umha língua portuguesa na Galiza estamos falando da nossa língua mas de umha perspectiva diferente. Nom enganaríamos ninguém. De outra forma (com o termo língua galega) enganaríamos em primeiro lugar os próprios galegos. Porque esse empenho no da língua galega, quando cada língua tem um único nome? O caso do espanhol e castelhano é umha excepçom, mas o normal é a unicidade do nome. A nossa é universalmente conhecida como português. Assim continuará a ser por muito que insistamos nós noutro nome específico.

Eu sempre lembro, a este respeito, o que aconteceu ao professor Carvalho Calero quando a princípios dos anos 70 publicou em Portugal um livro intitulado Problemas da Língua Galega. Fora a primeira publicaçom do professor em normativa reintegrada. A verdade é que esse livro tivo muito pouco êxito em Portugal. O mesmo Carvalho me comentava que estava convencido que nom era pola normativa, mas polo título. As pessoas diziam: Ah! da língua galega, que interessante! Mas aí ficava assim a cousa porque o tema era alheio. Nom era a sua língua.

E o reintegracionismo aceitaria plenamente o nome de Língua Portuguesa?

Eu acho que já o aceita maioritariamente. Nom há alternativas. Por exemplo, o nome de galego-português é demasiado longo e remete os portuguesas para a língua medieval.

Mas tu sabes que os movimentos juvenis, políticos e culturais, reintegracionistas normalmente ligados ao mundo do nacionalismo ou o independentismo utilizam quase exclusivamente o nome de língua galega para reforçar a ideia de língua nacional... por exemplo, vem-me agora à cabeça um livro de muito sucesso do professor Maurício Castro, que funciona como umha iniciaçom ao reintegracionismo para os jovens desse mundo: Manual de Iniciaçom à Língua Galega...

Em títulos como este, de um livro que está destinado a galegos e nom a portugueses, é razoável que se apresente assim. Mas sinceramente acho que o problema do nome da língua nom será importante. Haverá um certo choque ou debate intenso, mas este também será positivo porque dará ocasiom a informar e estender a ideia. Se falássemos de língua galega, o debate ficaria fechado logo no início, nom haveria nada a dizer já.

Isso leva-nos directamente à questom normativa. Se se defende o nome de Língua Portuguesa, poderia alguém pensar que na futura Academia grafar de outra forma que nom seja português padrom, será difícil. Como vês esta questom que em definitivo será fulcral, acho eu?

Carvalho Calero dizia claramente que nom se devia excluir umha certa autonomia normativa. Como há noutras línguas, nom é? O brasileiro tem características próprias. e nas demais línguas passa-se mais ou menos o mesmo. Eu acho que na questom da normativa há que desdramatizar muito. Nom devemos pôr-nos tam tensos. Na verdade, se analisarmos as variantes normativas que há dentro do reintegracionismo, desde a normativa da AGAL até o padrom, vemos que é muito mais unitária do que a oficial. Eles tenhem entre ‘comer o caldo’ e ‘comelo caldo’, entre ‘ao’ e ‘ó’, ‘bel’ e ‘ble’, etc., e isto, na prática, som muitíssimas diferenças.

Certo que haverá debate porque há muitas pessoas que querem manter umhas características específicas galegas do ponto de vista grafico. Lembro bem que o próprio Carvalho Calero, que escrevia numha norma que divergia claramente do português padrom, numha entrevista que lhe fijo Freixanes na TVG opinava que nom tinha dúvida que caminharíamos para umha unificaçom total na grafia. Em troca, admitia que onde se poderiam manter certas diferenças, tendo em conta a especificidade galega, era no aspecto morfológico ou léxico, como, por outra parte, acontece noutras línguas, claro. Se tu vês umha gramática que estudam as crianças espanholas nas escolas verás que nom aparecem sequer formas como “tenés”, do espanhol da argentina.

Mas trata-se de formas verbais, e se falamos de umha terminaçom como «-ão» ou «-om» que aparece constantemente na língua...

Mas repara que mesmo dentro dessa forma gráfica «-ão» pode incluir-se a pronúncia galega. Todo o norte de Portugal pronuncia assim, “à galega”, poderíamos dizer...

Parece-se interpretar das tuas palavras que se a futura Academia elaborar um dicionário o determinar umhas normas para a língua usaria-se as terminaçom «-ão».

Isto é avançar-se demasiado num tema polémico quando ainda nom está constituída a Academia, mas bom, há diversas alternativas: poderia defender como preferente «-ão» e admitir-se a outra , ou também dar como válida umha forma mínima a partir da qual se aceitaria a outra como mais avançada, seria precisamente um trabalho importante da Academia após constituída.

Como veriam esta opçom integradora os sectores que defendem a unificaçom total e criticam a norma AGAL por ser, em certa medida, ‘isolacionista’?.

Nom é justa esta atribuiçom de isolacionista à norma AGAL. AGAL defende claramente a unidade da língua mas aceita certas peculiaridades próprias que deveriam manter-se. Sei que este ponto que tu dizes será problemático, mas repara que é precisamente o único ponto de debate sério, porque o resto já se foi limando nestes anos. Pensa na evoluçom da própria normativa da AGAL desde os primeiros tempos até os actuais. Hoje já quase todo mundo escreve ‘uma’ ou aceita terminaçons em «-ões», A evoluçom nestes vinte ou 25 anos é manifesta dentro da própria norma AGAL. E , sim, o único debate intenso será o das famosas terminaçons «-ão»/«-om», polo simbólicas que elas som.

E o tema da ortofonia galega que sempre foi deixado de parte polo reintegracionismo, será tratado na Academia?

Bom, no campo da ortofonia é onde sempre há mais liberdade em todas as partes, e permite-se pronunciar de múltiplas formas.

Mas também é um campo onde a “contaminaçom do espanhol” será mais ampla, nom é? O ‘ceceio’...

Sim, mas está muito claro os elementos que nom som galegos. Aí nom haveria problema em identificá-los. A pronuncia é algo muito pessoal. No espanhol nom tem sentido, por exemplo, fazer falar um canário com pronúncia de Burgos. Seria tortura...

Deve entom a Academia propor umha ortofonia padrom galega ou nom?

Mais do que propor umha, eu acho que deveria indicar que pronúncias som incorrectas. É um pouco o que fazem as Academias, embora nom se metam muito no que som as pronúncias autorizadas. Centram-se mais no que é a língua escrita. Também é certo que se trata de casos onde as línguas estám normalizadas e o conflito com outras línguas nom é tam patente. Há muita diferença entre umhas zonas e outras mas determina-se que todas as pronúncias som correctas. Deveria entom a Academia centrar-se nas pronúncias que som incorrectas.

E o ‘ceceio’ por exemplo...

O ‘ceceio’ nom se pode explicar exclusivamente como castelhanismo. É possível que o facto de estarmos convivendo com o castelhano contribuísse para a sua manutençom. Mas isso nom explica tudo. Nós temos a palavra cedo, por exemplo, que nom existe no castelhano...

Mas é curioso sermos os únicos lusófonos que ‘ceceamos’, e em sequer todos os espanhóis da península...

Claro, porque na conservaçom sim influiu a presença do castelhano ao lado, mas nom nasceu por isso. Já existia. No norte de Portugal tinham umha espécie de ‘ceceio’, ainda que nom era exactamente igual ao que temos na Galiza, mas existia umha sorte de distinçom entre «s» e «c». Foi-se perdendo.

Deixemos temas tam profundos e voltemos ao projecto da Academia. Como serám escolhidos os seus membros? Qual seria o perfil dos integrantes?

Haveria que determinar uns critérios. Em princípio teríamos que criar umha espécie de Comissom Gestora ou promotora, diríamos, formada por dez ou doze pessoas que levem o projecto avante. Depois estabelecer os critérios para ingressarem membros. Em primeiro lugar, tratar do número de membros. A actual Academia agora tem trinta, mas também é certo que nom é de língua. Nem polo nome nem polos estatutos. Acho que menos de 40 membros nom deveria ter a nossa. Depois estariam também os chamados membros correspondentes, que estariam ligados à Academia, participando em certos trabalhos, enfim... com vinculaçom efectiva, como acontece com outras instituiçons semelhantes. Depois está claro que um critério básico terá que ser o de escolher pessoas que defendam claramente a unidade da língua galego-portuguesa.

Claramente... na teoria, com declaraçons reiteradas, ou na prática coerente?

Aí está o problema. Na teoria, felizmente há muitíssimas pessoas que defendem a unidade da língua, mas teríamos que ir directamente àquelas que a defendem na prática; que escrevem e divulgam nos seus trabalhos. Também seria interessante dar preferência a pessoas de maior idade, que estám a defender estas ideias desde há mais tempo, frente aos mais novos, que sempre teriam ocasiom posteriormente de formar parte dela. Há gente de sobra, pessoas que aliás estám sendo marginadas sempre longe dos meios de comunicaçom e ocultada pola oficialidade apesar de terem contribuído notavelmente à posta em valor do nosso património linguístico.

Escritores?

Normalmente o núcleo fundamental é sempre do ámbito linguístico, mas também tenhem presença pessoas destacadas de outros ámbitos sociais, algum informático, engenheiro, escritor...

E as relaçons com as universidades, departamentos de língua, professores de português...

No ambiente universitário há muitos professores que som reintegracionistas. Em diferentes ámbitos. Mas muitos estám marginados porque se os organismos oficiais necessitam dos seus serviços preferem solicitar-los a outros que estejam na sua órbita lingüística. Estám um pouco isolados e, nesse sentido, maltratados polo poder. A Academia deveria tratá-los com o respeito que merecem e solicitar a sua colaboraçom para as trabalhos que foram necessários desenvolver.

Achas que este projecto pode ser um elo de uniom entre os diversos sectores do reintegracionismo, que tenhem tido visons opostas mesmo no nível das relaçons pessoais no passado?

Pode contribuir. Mas nom penses que é tam importante esse confronto. Nom mais do que em qualquer lugar onde haja que lidar com diferenças. Em todo o caso nom mais do que os que tiveram lugar, por exemplo, entre o sector isolacionista na altura da reforma normativa. Mas bom, se se alcançar um acordo inicial, o convívio pode ser gerido melhor. Agradece-se, por exemplo, o comunicado que emitiu o MDL apoiando a iniciativa e vendo-a como umha esperança. Que gente nova como a desta organizaçom veja sem nenhum tipo de preconceito a ideia da Academia é importante para nós, porque assim é como se pode conseguir a unidade.

Também se pronunciou AGAL ao respeito? Porque... como é visto tudo isto na associaçom decana do reintegracionismo?

Nom se pronunciou ainda, mas acho que é porque ainda se está a estudar o projecto. Eu polo que levo visto, também apoia. A mesma CL de que eu fago parte vê-a com bons olhos... Pode haver pessoas que sejam contra qualquer Academia como instituiçom, ou outras que distingam no nome escolhido. Mas em geral acho que AGAL apoiará o projecto. E que há que ver a Academia como um elemento mais na recuperaçom da língua. Estará aí e serviremo-nos dele. Esse é o objectivo.

Mas que papel ficaria para a CL da AGAL?

Bom, nom digo que vaia ser o mesmo... mas repara nos papéis do ILG e a RAG... no campo do oficialismo. Eu acho que nom deveria de haver tensom entre as duas entidades do reintegracionismo. Deveriam colaborar, mesmo. Eu sou da AGAL, membro fundador, e levo com orgulho esta pertença... da mesma maneira que muitas mais pessoas que apoiam a Academia.

 Entrevista Novas da Galiza

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Galiza: Berço da Lusofonia

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Galiza: Berço da Lusofonia
Arcos OnLine comemora o Dia das Letras Galegas
com o lançamento das actas do V Colóquio Anual da Lusofonia

Arcos OnLine - Galiza: Berço da Lusofonia reúne a totalidade dos textos apresentados ao V Colóquio Anual da Lusofonia, que decorreu em Outubro de 2006, na cidade de Bragança, sob o título «Do Reino da Galiza até aos nossos dias: a língua portuguesa na Galiza». Os Colóquios Anuais da Lusofonia são a única realização regular, concreta e relevante em Portugal nos últimos cinco anos sobre a temática da Lusofonia.

A publicação apresenta em primeiro lugar o discurso inicial de Chrys Chrystello e o prólogo de Ângelo Cristóvão. A seguir figuram as 25 comunicações dos oradores, distribuídas por dois temas principais: Galiza e estudos de tradução. A primeira parte dá uma amostra das diferentes percepções sobre o Português da Galiza, estando representadas personalidades de diferentes associações culturais, como a Associaçom Galega da Língua (AGAL), Movimento Defesa da Língua e Associação de Amizade Galiza-Portugal. Na segunda parte, analisa-se a relevância e problemática das traduções nas suas diferentes vertentes.

Galiza: berço da Língua de Camões

A secção relativa à Galiza começa com Alexandre Banhos relatando pormenorizadamente o processo de oficialização do Galego nas últimas décadas. Seguidamente, António Gil apresenta uma análise de discurso que permite obter uma visão dos condicionamentos ideológicos da criação da Real Academia Galega, quase exactamente no centenário da sua constituição. Destaca-se ainda, pela sua relevância, a palestra (e debate posterior) do Prof. Doutor Martinho Montero, catedrático da Universidade de Vigo, que justificou e debateu a necessidade de criar a Academia Galega da Língua Portuguesa.

Numa linha diferente, Xosé Ramón Freixeiro, professor da Universidade da Corunha e membro da Asociación Sociopedagóxica Galega, ofereceu uma visão mais crítica a respeito da unidade da língua, insistindo em que «o português da Galiza deverá denominar-se galego, na mesma medida, pelo menos, em que o galego de Portugal e do Brasil se denomina português», contribuindo deste modo para mostrar a diversidade de perspectivas existentes na sociedade galega a respeito da questão da língua. Um panorama dos problemas para a edição e difusão dos media em português, e o seu valor para a normalização linguística da Galiza, pode obter-se das palestras de Gerardo Uz e Héctor Canto. Lino Moreira e António Bento, respectivamente, deram uma visão do problema da língua da Galiza de uma perspectiva portuguesa. Isaac Alonso deu a conhecer aos participantes um importante contributo lexicográfico galego de valor para toda a lusofonia: o Dicionário Electrónico Estraviz, que pode ser consultado online na página da internet da AGAL. A brasileira Zenóbia Cunha apresentou outra contribuição lexical, o Dicionário da Língua Portuguesa Arcaica, explicando o modo como podia ser proveitoso para a recuperação do galego.

De música, da sua universalidade e variedade falaram Rudesindo Soutelo e José Luís do Pico. O primeiro apresentou o Corpus Musicum Gallaeciae, colecção que recolhe alguns dos melhores autores de música culta galega, enquanto o segundo deu exemplos da unidade do folclore galego-português. Das diferentes propostas ortográficas existentes falou Luís Fontenla. Ainda, da promoção da língua portuguesa no sistema educativo da Comunidade Autónoma Galega, falou Carlos Figueiras. Da organização e actividades do Movimento Defesa da Língua tratou a palestra de Teresa Carro. Da Universidade da Corunha participaram Maria Vilarinho, que analisou aspectos da obra e tratamento de Rosalia de Castro; Marisa Moredo, que tratou «Os marcadores conversacionais como marca de cortesia no galego actual», e o professor Xosé Manuel Sánchez, que salientou a unidade da língua através do exemplo da língua do romanceiro transmontano.

Na sua diversidade, o volume publicado pela ArcosOnline representa assim um exemplo da colaboração entre personalidades e associações que, mantendo divergências a respeito de questões como a formalização gráfica da língua, compartilham um mesmo projecto nacional de normalização linguística na Galiza. Longe de perspectivas pessimistas ou saudosistas, os projectos e actividades representadas demonstram a vitalidade do movimento cultural lusófono.

Repensando a tradução e o ensino das línguas

No apartado de traduções a Prof. Adelaide Ferreira apresenta um texto contrastivo, O Schrifstella (sic!), Zé do Rock, que levanta a curiosidade pela diversidade, justificando com exemplos a conveniência de conhecermos outras línguas e culturas, como a alemã, para enriquecermos a nossa, não só no léxico, como também através de outras perspectivas. Anabela Mimoso apresenta experiências de edição bilingue, com exemplos de relacionamento lusogalaico. Barbara Terseglav, desde a experiência eslovena, fala-nos da distinção entre tradução e interpretação, além de demonstrar-nos como a tradução pode ser um «instrumento de preservação e revitalização linguística». Isabelle Oliveira salientou a importância do ensino das línguas estrangeiras no ensino, e as políticas europeias neste sentido. Kelson e Jacqueline Araújo apresentaram uma experiência brasileira de introdução dos aplicativos computadorizados como auxílio à tradução.

 Galiza: Berço da Lusofonia

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MDL apoia publicamente projeto da Academia Galega da Língua Portuguesa

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Dez anos do Movimento Defesa da Língua

Sai a lume o número 7 do boletim Em Movimento

PGL - O MDL acaba de editar o número 7 do seu boletim informativo Em Movimento, correspondente a Outubro-Novembro de 2006. Na capa do mesmo, grande destaque para o décimo aniversário dessa organização com um percurso pelas actividades realizadas.

Nas páginas a seguir, as actividades organizadas pelo MDL nos últimos tempos, o apoio público da associação à criação da Academia Galega da Língua Portuguesa e a magnífica secção «Outros Olhares» que desta vez nos leva a conhecer a situação linguística da Nova Guiné.

Finalmente, a secção «a palavra...», que encerra habitualmente as páginas de cada número do «Em Movimento», entrevista desta volta Luís F. Figueiroa, Responsável de Organização do MDL.

 Capa boletim Em Movimento nº 7

Descarregar boletim Em Movimento nº 7

Fonte original:

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