Info Atualidade

Com humildade e trabalho chegaremos longe

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Ângelo Cristóvão com a estátua de Fernando Pessoa no café "A Brasileira" em Lisboa

Ângelo Cristóvão

6 Dezembro 2007:

O jornal Público edita, na página 14, uma notícia sob o título: “Parlamento prepara conferência internacional sobre Língua Portuguesa”. Associação de editores e livreiros quer ser ouvida por deputados sobre acordo ortográfico.

Três galegos, que combinaram um jantar no restaurante A Brasileira do Porto, comentam a notícia. Coincidem na necessidade de fazer todos os esforços para conseguir que as associações lusófonas galegas participem, sem exclusões, nesse evento.

7 Abril 2008:

A sociedade civil galega, por meio das Associações Lusófonas, participa de forma coordenada na Conferência Internacional sobre a língua portuguesa realizada na Assembleia da República de Portugal. A representação da Galiza inclui 2 oradores e 8 professores convidados. No dia seguinte, é recebida oficialmente na Academia das Ciências de Lisboa.

8 Abril 2008:

Jornal Público, pág. 3: “Livreiros e linguistas contra. Brasileiros, timorenses, ex-exilados e galegos, pró”.

“Foi esmagador o apoio manifestado ao acordo. Não apenas, como se esperaria, da parte dos envolvidos directamente nas negociações, como Helena da Rocha Pereira, Fernando Cristóvão ou Malaca Casteleiro. Mas também de associações galegas de defesa da lusofonia (o jornal La Voz de Galicia enviou um repórter), de Timor (Luís Costa: “Se não houver unidade ortográfica a confusão será grande, pois temos professores portugueses e brasileiros no país”) e da parte de antigos exilados políticos portugueses no Brasil. Dois deles, integrando a associação Mares Navegados, e o terceiro –coronel Pedroso Marques, presidente da RTP- num apelo emocionado à ratificação do acordo”.

Diário de Notícias, pág. 5: Galiza numa encruzilhada. Convidados a participar na audiência parlamentar, os representantes da Galiza revelaram, por um lado, a satisfação com um acordo que irá facilitar a comunicação com a CPLP mas, por outro, a preocupação por a Galiza não poder ainda integrar esta comunidade. “Julgamos que existem as condições suficientes para dar os primeiros passos neste sentido”, afirmou Alexandre Banhos, presidente da Associaçom Galega da Língua, lembrando a influência da língua e cultura portuguesas naquela região de Espanha. “Apesar do indiscutível avanço nessa direcção, a comunidade linguística desenvolve-se ainda em condições difíceis do ponto de vista legal e social”.

10 Abril 2008:

PGL: O Parlamento aprovou ontem por unanimidade dirigir-se ao Governo espanhol para «no prazo mais imediato possível» lograr a recepçom das televisões portuguesas na Galiza.

Caros:

Neste momento, depois de ler tanto comentário positivo às notícias de Lisboa, só posso transmitir um sincero agradecimento a todas as pessoas que nos mostraram o seu apoio nestes dias, na internet, e a quem colaboraram magnificamente em Lisboa para este sucesso coletivo. É emocionante ver o seguimento realizado no PGL, e também dos amigos de Portugal, através do sinal institucional da Assembleia da República. Os parabéns são para todos, mas especialmente devem ir para o Presidente da AGAL, Alexandre Banhos Campo, pela forma como levou o processo, e o gesto de ter alargado a participação a todas as associações lusófonas, sem exclusão.

Por outro lado, desejo manifestar a minha adesão e satisfação do texto apresentado e lido por ele. No comunicado da Associação Pró AGLP indicamos que “explica a posição institucional das Entidades Lusófonas Galegas, de que somos co-partícipes”.

Julgo que estamos iniciando uma nova etapa cheia de possibilidades, mas estas só podem realizar-se se formos capazes de adquirir compromissos. Já começamos a ver os primeiros resultados desta dinâmica de unidade, e estou certo que teremos mais notícias positivas nos próximos meses e anos. Com humildade e trabalho chegaremos longe.

Muito obrigado a todos.

Fonte original:

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Transcrição da intervenção de Ângelo Cristóvão na Assembleia da República

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Ângelo Cristóvão na Assembleia da República

Ângelo Cristóvão, representante da Associação Pró Academia,
na Conferência Internacional/Audição Parlamentar sobre o AO

Ex.mo Sr. Presidente da Assembleia da República, Ex.mos Sres. Adriano Moreira, Presidente da Academia das Ciências de Lisboa, e Evanildo Bechara, representante da Academia Brasileira de Letras; Digníssimo representante do Governo de São Tomé e Príncipe, Digníssima representante da CPLP, Senhoras e Senhores deputados, prezados intervenientes nesta conferência sobre o Acordo Ortográfico,

Permitam-me em primeiro lugar agradecer, em nome da Associação Pró Academia Galega da Língua Portuguesa, o convite para esta Conferência Internacional, manifestar o meu respeito por todas as opiniões aqui apresentadas, e saudar a intervenção do meu compatriota Alexandre Banhos, que explica a posição institucional das Entidades Lusófonas Galegas, de que somos co-partícipes.

Na Galiza existe, há décadas, um movimento cívico e cultural de influência crescente conhecido como Reintegracionismo cujos integrantes trabalham, em diversos campos, por integrar as falas da Galiza no Português escrito universal. A produção escrita no português da Galiza aumenta sem pausa desde a década de 70, e está a atingir sucesso nos âmbitos literários, nos estudos da língua histórica ou da sociologia da linguagem, com autores como Martinho Montero, Gil Hernández, Xavier Vilhar ou Concha Rousia, entre outros galegos presentes nesta nobre sala. São contributos que merecem alguma atenção e que, apesar do seu reduzido número, nos permitem comparecer no espaço lusófono com conteúdos próprios.

Um forte sentimento e consciência cívica de pertença à lusofonia está a tornar-se geral no mundo da cultura da Galiza. Neste contexto, os galegos aspiramos a contar também com uma instituição congénere das Academias Portuguesa das Ciências e Brasileira de Letras.

Confiamos em que a Academia Galega da Língua Portuguesa realize a sessão constituinte nos próximos meses na capital da Galiza. Será entidade que assuma a mais longa e genuína tradição galega que representaram vultos como Manuel Murguia e Lugris Freire, Guerra da Cal e Carvalho Calero, Rodrigues Lapa e de Lindley Cintra, que consideravam as falas galegas e as portuguesas setentrionais fazerem parte dum “continuum” nortenho da língua portuguesa, reconhecível por traços caraterizadores face às outras variedades ortoépicas da língua comum.

A nossa Academia, que nasce por iniciativa da sociedade civil com vocação de serviço público, tenta ser uma instituição científica independente dos governos e das suas circunstâncias, que concentre os seus estudos na língua portuguesa da Galiza com critérios de rigor científico e vontade de abertura às diferentes sensibilidades existentes na sociedade. Nesta linha e, atendendo às circunstâncias históricas em que nos desenvolvemos, parece conveniente orientar os esforços dos primeiros anos num sentido mais prospectivo e divulgador do que normativo.

É sabido que as línguas mantêm a sua unidade, principalmente, através de uma ortografia, que permite a realização de diferentes ortofonias. Este é um valor que apreciamos especialmente na Galiza, onde temos o exemplo da língua castelhana, caso em que as decisões em matéria de norma linguística são adotadas conjuntamente por todas as academias da língua, e editadas em textos comuns. Belo exemplo digno de considerarmos. Portanto, a Academia Galega da Língua Portuguesa não deveria ter como objetivo constituir uma terceira norma para a escrita, depois da lusitana e a brasileira. O português galego reflete, em qualquer caso, os nossos traços caraterísticos, nomeadamente no léxico e na pronúncia, a cuja sigularidade deverão habituar-se os lusófonos em geral.

A decisão do governo português, o passado dia 6 de Março, ratificando o segundo protocolo modificativo, dá continuidade a um processo de unidade em que os galegos estivemos presentes já há 50 anos com o professor Guerra da Cal. A adesão da Galiza aos Acordos data de meados da década de 1980, por meio da Comissão Galega do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, cujo Presidente de Honra fora o próprio Guerra da Cal. Foi por intermédio do professor Isaac Estraviz e da ONG galega Irmandades da Fala da Galiza e Portugal que uma delegação observadora foi convidada às sessões de debate do Acordo no Rio de Janeiro em 1986 (da Ortografia Simplificada), e depois em Lisboa, em 1990 (da Ortografia Unificada). O comunicado que, em nome dos Estados lusófonos, anunciava o Acordo de 1990, citava: “... a participação de uma delegação de observadores da Galiza…” ; frase que se repetiu em 1991 na publicação no Diário da República.

O Acordo Ortográfico foi promovido e redigido em função dos parâmetros e condições do português como língua nacional, no sentido que adquiriu na Europa desde a Revolução Francesa.

A Base IV estabelece a «pronúncia culta» como único critério para a supressão ou manutenção da representação gráfica de algumas sequências consonânticas. Este critério é de difícil aplicação nos países em que o português se acha interferido por outra língua, onde não está conformada uma norma culta, como é o caso da Galiza, e em vários países africanos de expressão portuguesa, em que tem a condição de língua co-oficial.

Admitir o critério da pronúncia galega popular como culta seria muito questionável e, dado o emudecimento quase absoluto das consoantes referidas no português popular falado na Galiza, poderia levar-nos à sua supressão generalizada na escrita. Portanto, um segundo critério deve ser considerado.

Idealmente, optaríamos pela manutenção da etimologia. Na prática, entendemos que as soluções lusitanas resultam mais apropriadas, atendendo ao facto de a circulação de produtos culturais em língua portuguesa, na Galiza, estar a realizar-se com edições produzidas na República Portuguesa.

Quando a divulgação das mudanças ortográficas for generalizada na população, o que poderá acontecer em poucos anos, um segundo nível de atuação deveria receber a nossa atenção. Trata-se das divergências na terminologia técnico-científica entre o português do Brasil e o de Portugal, que deveria preocupar-nos a todos e ser objeto de uma política de língua de consenso.

Muito obrigado pela vossa atenção.

Intervenção de Ângelo Cristóvão

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"Talvez a Academia Galega da Língua Portuguesa tenha um efeito agora incalculado"

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Celso Álvarez Cáccamo

Entrevista a Celso Álvarez Cáccamo

A Esmorga / MDL / PGL - Na sequência das I Jornadas de Língua que estão a decorrer em Ourense, nesta quinta-feira, dia 3 de Abril, a sala 04 da Faculdade de Humanidades será palco de uma interessante conferência ministrada pelo professor Celso Álvarez Cáccamo, um dos poucos sócio-linguistas galegos que pode presentar unha formação académica como tal. De certeza, as suas análises radicais não vão deixar indiferente ninguém.

Subordinada ao título "A perda da Lingua, as clases e as formas de capital", a conferência estará virada para dissertar sobre a substituição linguística, consistente esta em que uma língua ou variedade, simplesmente, deixa de utilizar-se como primeiro idioma no seio da família e nos grupos de amigos, e outra língua ou variedade ocupa o seu lugar. Os factores de vários tipos que entram em jogo neste processo serão analisados em profundidade por Álvarez Cáccamo.

Ainda, a sua exposição também estará virada para as diferentes formas do capital e das suas propriedades dentro do mercado linguístico e social na sociedade de classes, com o objectivo de compreender a perda da língua na Galiza, e, portanto, de imaginar maneiras de intervir para a inversão deste processo desde basicamente, ora uma óptica reformista, ora uma óptica emancipadora.

Como estamos a fazer já habitual durante estes dias a respeito das jornadas ourensanas, o Celso respondeu algumas questões que lhe apresentamos, desta vez as reflexões sobre quatro citações suas que nos pareceram suficientemente significativas ou provocadoras, para nos introduzir mais no assunto...

"Nom gosto de me definir como reintegracionista. Sou simplesmente escritor galego em português. Pratico a unidade da língua portuguesa como pratico a unidade da língua inglesa, que também escrevo".

(Celso Alvarez Cáccamo. Entrevista no Novas da Galiza nº 56, Julho de 2007).

Qualquer auto-definição é quase sempre nociva. Amiúde, uma auto-definição situa a focagem, o enquadramento, onde o adversário ideológico (que sempre existe) quer, não onde um quer ou não quer. O "reintegracionismo" é simplesmente a normalidade duma língua, de qualquer língua. Para a saúde mental, é mais prudente deixar aos adversários (não a um próprio) o problema de se auto-definir. Mas neste meu rechaço (intermitente) da etiqueta não sou nada original: demorei anos em compreender, por exemplo, o sentido da não-auto-definição doutras pessoas, como o Mário Herrero.

Ora, eu compreendo também a utilidade pragmática do vocábulo "reintegracionista". Se o "reintegracionismo" existe como categoria social, embora deformada (qualquer embalagem deforma a realidade), os "reintegracionistas" podemos utilizar o posicionamento que nos fazem outros para interpelá-los, interrogar o seu enquadramento com perguntas figuradas deste tipo: "Tudo bem, como quiseres: serei 'reintegracionista'; serei 'lusista'; escreverei 'em português', não em galego. Mas, diz-me de vez, faço ou não faço cultura galega?".

Se a sua resposta é Não, o exercício da procurada exclusão é transparente, e portanto inquestionável. Se a sua resposta é Sim, claro, então desmembram-se as escusas. E se é Sim, talvez, mas..., esse "mas" que resume o conflito linguístico imposto requer, em lógica ética e democrática, ser detalhadamente explicado. Isso já seria bastante para nutrir a ilusão de diálogo..

"A ideia elementar é que a língua é sempre uma questão de classe, e que, enquanto houver classes, haverá sempre alguma questione della lingua. Que não se saiba isto é terrível sintoma da descerebralização maciça".

(Celso Alvarez Cáccamo. "Último texto sobre a língua", artigo no PGL e Vieiros, 24 de Agosto de 2005).

Negar a existência das classes ou reduzi-las a uma trivial diferença resultante da diversidade humana (de gostos, interesses, etc.) nivelada por uma relativa comodidade da renda é uma velha táctica ideológica e pseudo-sociológica para impedir a ré-união da gente. E, se as classes sociais, construíveis (construíveis) no princípio da posição estrutural (se produzes ou não produzes; se te produzem; o que produzes) existem, é apenas lógico que devem ter alguma ligação com um recurso simbólico tão poderoso como a Língua como padrão, como Standard (isto é, estandarte).

Onde se viu que os grupos desiguais possuam qualquer recurso em igual quantidade ou forma, ou em comparável natureza? Que não se aprenda isto nas escolas além do velho indoutrinamento de que "Sabendo o padrão da Língua chegas mais longe" é sintoma da secura mental que nos invade. A perícia na Língua, claro, sempre classifica: class-ifica. Como o faz é uma pergunta possível. Qual Língua ou quais Línguas o fazem é outra. Se nos interessa reproduzir a lógica da class-ificação social a meio da língua, só nos interessará abordar a segunda pergunta, e construiremos a questione della língua em torno dum resvaladiço conflito entre "o español" e "o português" ou "o galego".

Mas se nos interessa apontar elementos de debate para romper essa lógica, teremos de concluir que é melhor, embora duro, renunciar ao nosso étnico amor filial a uma destas línguas e compreender a terrível contradição de "fazer língua". Teremos que perguntar-nos outras cousas, como: como classifica a língua? E concluiremos cousas que talvez nos façam tremer se, por natureza, socialização ou adquirida comodidade, somos pessoas indefensas perante as contradições.

A maior parte das vezes, porém, fazemos as duas perguntas (e mais) simultaneamente, sem distingui-las; daí a confusão do activismo linguístico galego.

"Foi pessoa que sentenciou essa aberração de "a minha pátria é a língua portuguesa", não é? Substituamos "portuguesa" por "galega", ou "galego-portuguesa", e a aberração é comparável. O povo e as elites são as duas faces da pátria, e esse é o problema. Cada pátria imposta preexiste e é eterna: uma inescapável mácula mental".

(Celso Alvarez Cáccamo. "Último texto sobre a língua", artigo no PGL e Vieiros, 24 de Agosto de 2005).

A metade da resposta está na resposta anterior. A Pátria (não as pátrias miúdas que as pessoas, livremente, cultivam para exercerem a política poética ou sobrelevarem a anomia diária), isto é, a "Pátria imposta", sempre requer dous elementos complementares para funcionar como totalizador imaginário: as elites sociais reais, e o Povo a-social irreal construído polas elites reais. Então, acho que nessa Pátria absoluta não há História como tal, como trajecto: na concepção a-social das elites que se chamam patrióticas, o nascimento duma Pátria seria um evento auto-contraditório.

Portanto, por definição a Pátria preexiste ao tempo e ao universo (que até tem um momento inicial, uma singularidade) e, como Deus, tampouco pode morrer. Jamais um autêntico patriota desejará a morte da sua Pátria (enquanto, polo contrário, um autêntico socialista desejará a morte do socialismo para que nasça o comunismo, e um autêntico comunista a morte do comunismo para que nasça o anarquismo). De maneira que o patriotismo não parece uma ideologia política, mas uma posição político-poética cosmogónica alimentada sobre e contra o povo histórico por elites muito pouco patrióticas, o cultivo de cuja retórica ajuda muito a obter subsídios nacionalistas.

E quando a língua se converte em Pátria (isto é, quando se converte em Língua), a diferença linguística é um atentado terrorista e surgem as negociações político-poéticas (em duas frontes) como miragem. Não nos enganemos: qualquer Língua sempre vai querer matar-nos.

"Nom é o meu papel julgar as Academias, porque reconheço que nom me interessam. Em geral, as culturas geram instituiçons deste género para defenderem os seus interesses, e eu nom me sinto implicado com isto".

(Celso Alvarez Cáccamo. Entrevista no Novas da Galiza nº 56, Julho de 2007).

Eu julgo diariamente as academias na minha prática ideológica interna, mas não é o meu papel: não concebo que para a recuperação dum idioma agonizante, como o nosso, as Academias possam ser um projecto intelectual interessante. Mas esse é o meu escoramento próprio (cada um tem o seu, ou muitos). Ora bem, eu quisera chegar a aprender a respeitar bastante o direito de cada pessoa e grupo humano, de cada grupo activista, a fabricarem as suas íntimas maneiras de situar-se no mundo e, após muitos anos, acabarem a vida com a sensação de que não tudo o que fizeram entre os demais e com os demais foi inútil para paliarem o arrepiante devalo do projecto humano. Este é um objectivo modesto, como é obrigado.

Obviamente, incluo-me neste desejo de respeito aos meus escoramentos: também eu tenho as minhas maneiras, diárias, de pensar que as minhas práticas não são de todo inúteis, de que até parágrafos como estes podem ter um efeito de, polo menos, diferença (preferivelmente de confusão) na percepção das cousas da língua por alguma pessoa que os leia. Ignoramos o futuro, não é? Existem fenómenos de estranha mudança que os físicos chamam "transição de fase" polos quais um estado aparentemente estável, por acumulação de forças (por acumulação de vontades), pode dar passo num instante a um novo estado radicalmente diferente, como a água que ferve de súbito como se cada partícula fosse consciente da fruição das demais (a consciência é um contínuo, não um absoluto). E, se unimos a isto, por excrescência retórica, o chamado "princípio de incerteza", então complica-se-nos mais, proverbialmente, a tarefa de predizer qualquer cousa.

Por outras palavras: talvez a língua galega ferva logo na Galiza, quase sem nos decatarmos, antes do que suspeitávamos, para se tornar naquilo que a ideologia já diz que é: em língua portuguesa. Então, se isto acontecer, talvez a Academia Galega da Língua Portuguesa tenha tido um efeito agora incalculado. Em qualquer caso, como sempre diz sabiamente Ângelo Cristóvão, é melhor estarmos preparados para uma nova fase (como, por outra parte, já estamos preparados para a desaparição do galego), enquanto continuamos, na vida, a resistir qualquer tipo de exclusão e dominação por mor da nossa liberdade de letras. Das letras galegas.

Obrigado por esta entrevista.

Fonte original:

Pró-AGLP e Entidades Galegas na Conferência Internacional/Audição Parlamentar sobre o Acordo Ortográfico

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Ângelo Cristóvão e Alexandre Banhos na Assembleia da República

Ângelo Cristóvão e Alexandre Banhos na
Sala do Senado da Assembleia da República Portuguesa

A Conferência Internacional/Audição Parlamentar sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, organizada pela Comissão de Ética, Sociedade e Cultura da Assembleia da República, teve lugar ontem, dia 7 de abril de 2008, na Sala do Senado da Assembleia da República em Lisboa e contou com representantes de diversas instituições, entre as quais, uma delegação galega.

O presidente da Pró-AGLP, Ângelo Cristóvão, interveio neste dia histórico com um comunicado a respeito da posição galega e do papel da futura Academia Galega. Também interveio Alexandre Banhos, presidente da Associaçom Galega da Língua (AGAL), que apresentou uma posição conjunta das Entidades Lusófonas Galegas assinado pela própria AGAL, pela Associação de Amizade Galiza-Portugal (AAG-P), pela Associação Pró Academia Galega da Língua Portuguesa, pela Associação Sócio-pedagógica Galaico-portuguesa (ASPG-P) e pelo Movimento Defesa da Língua (MDL).

A delegação galega no seu conjunto esteve integrada pelo presidente da AGAL, Alexandre Banhos; pelo vice-presidente da AGAL, Isaac A. Estraviz, igualmente membro da Comissom Lingüística dessa entidade e da Comissão para a participação da Galiza no Acordo Ortográfico, entidade participante no Acordo; por Margarida Martins e Manuela Ribeira, integrantes do Conselho da AGAL; pela porta-voz do MDL, Teresa Carro; pelo presidente da Pró-AGLP, Ângelo Cristóvão; pela membro da AGAL e vice-presidenta da Pró-AGLP, Concha Rousia; por António Gil Hernández e Xavier Vilar Trilho, em representação também da Associção Pró-Academia Galega da Língua Portuguesa e da Associação Amizade Galiza-Portugal.

Intervenção de Ângelo Cristóvão

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Intervenção de Alexandre Banhos

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Associação Pró Academia apresentada nas Jornadas Somando Esforços pola Língua

  • Escrito por: AdminWeb
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Intervenção de Luís Gonçales Blasco
nas Jornadas Somando Esforços pola Língua

O passado sábado, 16 de fevereiro, tivérom lugar no Museu Verbum - Casa das Palavras, em Vigo, as Jornadas Somando Esforços pola Língua, organizadas pela Associaçom Galega da Língua. Na segunda das Mesas Redondas agendadas, sob o título "Soluções, propostas e actuações na defesa da língua da Galiza", interveio Luís Gonçales Blasco em representação da Associação Pró Academia Galega da Língua Portuguesa.

O professor Gonçales Blasco apresentou o projeto da Academia Galega da Língua Portuguesa e os seus objetivos, “umha instituição que não nasce contra ninguém”, passando a explicar a génese da mesma, a situação atual em que se encontra o processo de criação e as dificuldades que enfrenta. O professor deixou claro que este novo projeto nasce para realizar o seu labor de forma independente, contribuindo para a visibilização da Galiza como país lusófono em âmbitos académicos ou institucionais lusófonos.

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