Info Atualidade (440)

Transcrição da intervenção de Ângelo Cristóvão na Assembleia da República

Ângelo Cristóvão na Assembleia da República

Ângelo Cristóvão, representante da Associação Pró Academia,
na Conferência Internacional/Audição Parlamentar sobre o AO

Ex.mo Sr. Presidente da Assembleia da República, Ex.mos Sres. Adriano Moreira, Presidente da Academia das Ciências de Lisboa, e Evanildo Bechara, representante da Academia Brasileira de Letras; Digníssimo representante do Governo de São Tomé e Príncipe, Digníssima representante da CPLP, Senhoras e Senhores deputados, prezados intervenientes nesta conferência sobre o Acordo Ortográfico,

Permitam-me em primeiro lugar agradecer, em nome da Associação Pró Academia Galega da Língua Portuguesa, o convite para esta Conferência Internacional, manifestar o meu respeito por todas as opiniões aqui apresentadas, e saudar a intervenção do meu compatriota Alexandre Banhos, que explica a posição institucional das Entidades Lusófonas Galegas, de que somos co-partícipes.

Na Galiza existe, há décadas, um movimento cívico e cultural de influência crescente conhecido como Reintegracionismo cujos integrantes trabalham, em diversos campos, por integrar as falas da Galiza no Português escrito universal. A produção escrita no português da Galiza aumenta sem pausa desde a década de 70, e está a atingir sucesso nos âmbitos literários, nos estudos da língua histórica ou da sociologia da linguagem, com autores como Martinho Montero, Gil Hernández, Xavier Vilhar ou Concha Rousia, entre outros galegos presentes nesta nobre sala. São contributos que merecem alguma atenção e que, apesar do seu reduzido número, nos permitem comparecer no espaço lusófono com conteúdos próprios.

Um forte sentimento e consciência cívica de pertença à lusofonia está a tornar-se geral no mundo da cultura da Galiza. Neste contexto, os galegos aspiramos a contar também com uma instituição congénere das Academias Portuguesa das Ciências e Brasileira de Letras.

Confiamos em que a Academia Galega da Língua Portuguesa realize a sessão constituinte nos próximos meses na capital da Galiza. Será entidade que assuma a mais longa e genuína tradição galega que representaram vultos como Manuel Murguia e Lugris Freire, Guerra da Cal e Carvalho Calero, Rodrigues Lapa e de Lindley Cintra, que consideravam as falas galegas e as portuguesas setentrionais fazerem parte dum “continuum” nortenho da língua portuguesa, reconhecível por traços caraterizadores face às outras variedades ortoépicas da língua comum.

A nossa Academia, que nasce por iniciativa da sociedade civil com vocação de serviço público, tenta ser uma instituição científica independente dos governos e das suas circunstâncias, que concentre os seus estudos na língua portuguesa da Galiza com critérios de rigor científico e vontade de abertura às diferentes sensibilidades existentes na sociedade. Nesta linha e, atendendo às circunstâncias históricas em que nos desenvolvemos, parece conveniente orientar os esforços dos primeiros anos num sentido mais prospectivo e divulgador do que normativo.

É sabido que as línguas mantêm a sua unidade, principalmente, através de uma ortografia, que permite a realização de diferentes ortofonias. Este é um valor que apreciamos especialmente na Galiza, onde temos o exemplo da língua castelhana, caso em que as decisões em matéria de norma linguística são adotadas conjuntamente por todas as academias da língua, e editadas em textos comuns. Belo exemplo digno de considerarmos. Portanto, a Academia Galega da Língua Portuguesa não deveria ter como objetivo constituir uma terceira norma para a escrita, depois da lusitana e a brasileira. O português galego reflete, em qualquer caso, os nossos traços caraterísticos, nomeadamente no léxico e na pronúncia, a cuja sigularidade deverão habituar-se os lusófonos em geral.

A decisão do governo português, o passado dia 6 de Março, ratificando o segundo protocolo modificativo, dá continuidade a um processo de unidade em que os galegos estivemos presentes já há 50 anos com o professor Guerra da Cal. A adesão da Galiza aos Acordos data de meados da década de 1980, por meio da Comissão Galega do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, cujo Presidente de Honra fora o próprio Guerra da Cal. Foi por intermédio do professor Isaac Estraviz e da ONG galega Irmandades da Fala da Galiza e Portugal que uma delegação observadora foi convidada às sessões de debate do Acordo no Rio de Janeiro em 1986 (da Ortografia Simplificada), e depois em Lisboa, em 1990 (da Ortografia Unificada). O comunicado que, em nome dos Estados lusófonos, anunciava o Acordo de 1990, citava: “... a participação de uma delegação de observadores da Galiza…” ; frase que se repetiu em 1991 na publicação no Diário da República.

O Acordo Ortográfico foi promovido e redigido em função dos parâmetros e condições do português como língua nacional, no sentido que adquiriu na Europa desde a Revolução Francesa.

A Base IV estabelece a «pronúncia culta» como único critério para a supressão ou manutenção da representação gráfica de algumas sequências consonânticas. Este critério é de difícil aplicação nos países em que o português se acha interferido por outra língua, onde não está conformada uma norma culta, como é o caso da Galiza, e em vários países africanos de expressão portuguesa, em que tem a condição de língua co-oficial.

Admitir o critério da pronúncia galega popular como culta seria muito questionável e, dado o emudecimento quase absoluto das consoantes referidas no português popular falado na Galiza, poderia levar-nos à sua supressão generalizada na escrita. Portanto, um segundo critério deve ser considerado.

Idealmente, optaríamos pela manutenção da etimologia. Na prática, entendemos que as soluções lusitanas resultam mais apropriadas, atendendo ao facto de a circulação de produtos culturais em língua portuguesa, na Galiza, estar a realizar-se com edições produzidas na República Portuguesa.

Quando a divulgação das mudanças ortográficas for generalizada na população, o que poderá acontecer em poucos anos, um segundo nível de atuação deveria receber a nossa atenção. Trata-se das divergências na terminologia técnico-científica entre o português do Brasil e o de Portugal, que deveria preocupar-nos a todos e ser objeto de uma política de língua de consenso.

Muito obrigado pela vossa atenção.

Intervenção de Ângelo Cristóvão

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Pró-AGLP e Entidades Galegas na Conferência Internacional/Audição Parlamentar sobre o Acordo Ortográfico

Ângelo Cristóvão e Alexandre Banhos na Assembleia da República

Ângelo Cristóvão e Alexandre Banhos na
Sala do Senado da Assembleia da República Portuguesa

A Conferência Internacional/Audição Parlamentar sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, organizada pela Comissão de Ética, Sociedade e Cultura da Assembleia da República, teve lugar ontem, dia 7 de abril de 2008, na Sala do Senado da Assembleia da República em Lisboa e contou com representantes de diversas instituições, entre as quais, uma delegação galega.

O presidente da Pró-AGLP, Ângelo Cristóvão, interveio neste dia histórico com um comunicado a respeito da posição galega e do papel da futura Academia Galega. Também interveio Alexandre Banhos, presidente da Associaçom Galega da Língua (AGAL), que apresentou uma posição conjunta das Entidades Lusófonas Galegas assinado pela própria AGAL, pela Associação de Amizade Galiza-Portugal (AAG-P), pela Associação Pró Academia Galega da Língua Portuguesa, pela Associação Sócio-pedagógica Galaico-portuguesa (ASPG-P) e pelo Movimento Defesa da Língua (MDL).

A delegação galega no seu conjunto esteve integrada pelo presidente da AGAL, Alexandre Banhos; pelo vice-presidente da AGAL, Isaac A. Estraviz, igualmente membro da Comissom Lingüística dessa entidade e da Comissão para a participação da Galiza no Acordo Ortográfico, entidade participante no Acordo; por Margarida Martins e Manuela Ribeira, integrantes do Conselho da AGAL; pela porta-voz do MDL, Teresa Carro; pelo presidente da Pró-AGLP, Ângelo Cristóvão; pela membro da AGAL e vice-presidenta da Pró-AGLP, Concha Rousia; por António Gil Hernández e Xavier Vilar Trilho, em representação também da Associção Pró-Academia Galega da Língua Portuguesa e da Associação Amizade Galiza-Portugal.

Intervenção de Ângelo Cristóvão

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Intervenção de Alexandre Banhos

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Publicação da concessão da Marca Academia Galega da Língua Portuguesa

Registada oficialmente nos estados espanhol e português

Ângelo Cristóvão - O Boletín Oficial de la Propiedad Industrial (Oficina Española de Patentes y Marcas), publica na edição de 16 de Novembro de 2007, a concessão para a Espanha da Marca M 2728546: Academia Galega da Língua Portuguesa. A "resolución" tem data de 4 de Outubro.

Os dados podem ver-se no BOPI nº 2871, página 30732: «concesión con limitación o modificación para las clases y productos/servicios siguientes: 41. Publicación de libros y revistas impresos. Publicaciones electrónicas de libros, revistas, periódicos». Nos próximos dias, os promotores da Academia receberemos o título de propriedade.

Em Portugal está registada como Marca Nacional M406914, concedido o registo para a Classe 41. Iniciou-se a tramitação em 4 de Outubro de 2006 no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Estado actual: concessão definitiva com data 30 de Abril de 2007.

O registo da marca é uma condição prévia para podermos agir com segurança jurídica. Nas próximas semanas e meses começaremos a trabalhar na organização da Academia

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Martinho Montero fala da Academia Galega da Língua Portuguesa para o Novas da Galiza

José-Martinho Montero Santalha"O reintegracionismo identificará-se com a Academia Galega da Língua Portuguesa"

PGL -  A proposta de criaçom de umha Academia Galega da Língua Portuguesa recuperou para o reintegracionismo velhos debates, mas colocando-os na prudente palestra da proposta concreta, da estratégia argumentada. Com ela, também pudemos voltar a saborear extensivamente o verbo do professor José Martinho Montero Santalha, que é sempre lufada de ar despoluído nas terras do debate aceso. O jornal Novas da Galiza publicou no número 48 umha interessante entrevista ao professor ortegano, que solicitamos para este Portal na versom ampliada. Nela, o jornalista Alonso Vidal analisa com o investigador o momento presente do reintegracionismo lingüístico e da sua proposta de Academia.  

"Se analisarmos as variantes que há no reintegracionismo, da AGAL ao padrom, vemos que é mais unitário do que o oficialismo"

Alonso Vidal - O Professor José Martinho Montero Santalha é o “homem tranquilo” do reintegracionismo galego. Com as formas pausadas e falar envolvente que também caracteriza outros fundadores da AGAL, este discípulo de Carvalho Calero, professor universitário, investigador especialista em cantigas medievais e escritor de romances premiados internacionalmente, leva às suas costas dezenas de anos de trabalho constante a favor da língua, sempre apropriadamente distante do ruído estridente dos foros internáuticos. Mas agora aparece com toda a intensidade, para liderar o grande projecto pendente da elite reintegracionista galega: a Academia da Língua.

Muito se tinha falado deste projecto. Porquê agora, Martinho?

Nom é tanto o momento concreto mas a necessidade de fazê-lo. Nom se trata de que se esteja no melhor momento possível, mas na necessidade de abordar este projecto porque o tempo vai passando. Certo que a ideia já vem de antigo. Eu já falara disto com Carvalho Calero. Visto que a Academia galega actual, sem pretender predizer o futuro, está constituída por umha clara maioria de membros que som profundamente anti-reintegracionistas, que além disso funciona de forma que se escolhem os membros uns aos outros, todos da mesma corda, está claro que nom vam admitir a presença de alguém que defenda a concepçom unitária da língua. Carvalho Calero tinha claro que haveria que fazer umha academia de carácter abertamente reintegracionista. Morreu no ano 90, portanto, esta ideia tem polo menos mais de quinze anos. Com essa ideia como base, eu já publicara um artigo no ano 94, que apareceu num tomo de homenagem a Guerra da Cal onde entre as tarefas pendentes do reintegracionismo incluía a criaçom do que chamava umha Academia Galega da Língua Portuguesa. Durante todo este tempo estava à espera de que alguém se pugesse um bocado à frente deste projecto porque eu já me sinto um bocado velho. Mas o tempo foi passando... Recentemente, em entrevistas publicadas em diversos meios reintegracionistas, tanto o próprio Estraviz, como António Gil voltaram a falar da ideia abertamente. Mesmo dentro da Comissom Linguística da AGAL, há pessoas a favor deste novo impulso. Embora eu nom me sinta com as forças de quando era novo, na época da fundaçom da AGAL, vimos que haveria que empenhar-se nesta obra com a máxima esperança. Sabes que eu ando muito mais metido no mundo da investigaçom e isso das reunions preparatórias, arranjar papéis e demais questons burocráticas som muito complexas e cansativas...

Mas para muitos reintegracionistas o papel académico estava-o a desempenhar a AGAL, ou a sua Comissom Lingüística (CL). Qual seria o contributo da Academia?

Actualmente a CL funciona de outra maneira diferente ao que pode ser umha ‘academia’ no sentido tradicional do termo. No seio da própria Comissom já há polo menos dous anos que se tratou este assunto de reformular a CL para que desempenhasse um verdadeiro papel de Academia. Houvo um projecto interessante do Carlos Garrido, que contemplava a modificaçom parcial do funcionamento da CL, com actos públicos, discursos de ingressos de novos membros, etc. De facto, seria umha hipótese interessante. Mas penso que a Academia deveria integrar plenamente todas as sensibilidades do reintegracionismo e como há o problema actual de tantos debates de carácter normativo, seria interessante que, naturalmente contando com a AGAL, pois seria absurdo nom contar com ela num assunto destes, nom se visse como algo prórpio também da AGAL, em que toda a gente poda participar mais abertamente.

Mas criar umha Academia nom é ir contra a história? Nom som instituiçons caducas e ressessas, incapazes de acompanhar o uso vivo social da Língua?

Nom se pode pedir a umha Academia o que ela nom pode dar. Mas fai-se-lhes caso, vaia se se lhes fai caso. De facto, a actual normativa galega oficial está baseada na opinom da Real Academia Galega. Todos e todas estamos a ‘sofrer’ a Academia. Todas as crianças galegas estám a estudar umha normativa que é responsabilidade total da RAG. Repara bem nisso. Se ao lado desta actual, houvesse outra com outra concepçom da língua, naturalmente o futuro apresentaria-se-nos dumha outra maneira. Mesmo do ponto de vista jurídico e legal; imagina que um futuro governo galego nom concordasse com o rumo da Academia actual ou com a deriva que a língua tomasse, que pensasse que este rumo nos leva à morte do idioma e nom podemos permiti-lo, pretende mudar de caminho e se pergunte: que normativa escolhemos? Um governo deveria basear-se numha instituiçom que tivesse um status um pouco mais formal e nom numha ‘associaçom’, por muito prestigio que ela tenha, como é o caso da AGAL.

Mas esse carácter formal deveria ser reconhecido oficialmente polas instituiçons... como pode chegar a acontecer isso?

Bom, o primeiro passo burocrático e o de reservar o nome escolhido, Academia da Língua Portuguesa, que já está concedido. Isso está regulado pola Lei de associaçons. Mas, a mim, preocupa-me mais a questom da sede, para além de outros como e eleiçom de membros, etc. Porque nom se pode dar um simples apartado dos correios como endereço. Está também a necessidade de um boletim de carácter mais ou menos científico, ainda que isso seria menos problemático porque felizmente no mundo do reintegracionismo há pessoas que estám mais do que capacitadas para essa tarefa. Mas o da sede sim, porque teria que ser numha cidade galega e para mim o ideal seria que algumha instituiçom pública, cámara municipal ou a própria Junta cedesse um lugar para que seja ocupado pola Academia, sem que isto implicasse umha renúncia a propriedade, com a certeza de que o serviço ao País que prestasse a Academia bem pagaria a cedência do local.

Mas para além do reconhecimento legal, precisa-se do reconhecimento político e social pola parte das instituiçons governamentais. E isso parece mais difícil, embora um partido nacionalista co-governe a Junta, nom é?

Olha, primeiro estamos com a construçom do projecto. Reconhecimento social? Há de chegar. Acho que dentro do reintegracionismo será referente e o reconhecimento dará-se. Polo menos da mesma maneira em que a outra academia é reconhecida, com críticas e discrepáncias pontuais nalgum aspecto. Acho que é o caminho a seguir: conseguir a identificaçom do reintegracionismo social com esta nova instituiçom lingüística, para além de mínimas discrepáncias que serám pontuais e nom afectarám a credibilidade e o rigor da própria academia. Mas nom perdas de vista que os mesmos defensores da actual academia a criticam nalguns aspectos, nomeadamente a suposta, ao seu entender, deriva para o português da última reforma ortográfica; inclusive até chegar a nem sequer segui-la nos seus escritos.

E a relaçom com o mundo lusófono será um dos objectivos principais...

Será, claro. Sempre se pensou com certa razom que os reintegracionismo nom recebia grande solidariedade do mundo lusófono. Falta-nos um maior apoio ou entusiasmo pola sua parte na ideia de a Galiza ser um país lusófono. Isto é obviamente produto da falta de informaçom ou de informaçom parcial e ou interessada a partir dos canais de informaçom oficial. As instituiçons oficiais portuguesas ou brasileiras nom tenhem com quem contar na Galiza. Pensa na falta de representaçom oficial ou melhor, institucional, do nosso país na altura da negociaçom dos acordos ortográficos da língua portuguesa. Daquela, esta carência fora paliada por umha representaçom galega de índole quase privada. A nossa Academia está chamada a desempenhar aqui um papel fulcral de relacionamento. As instituiçons lusófonas saberiam a quem acudir como interlocutor, obviando a actual academia isolacionista que nom compartilha a visom de unidade da língua portuguesa. Está mesmo a hipótese de a Galiza poder contar com um estatuto de observador, como no caso do Timor na CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), ideia que, já agora, é apoiada por alguns membros significados do actual Governo galego. Nesse sentido, a existência da nossa Academia também seria muito útil.

Mas falemos claro: verdadeiramente nom contas com a mais que possível marginalizaçom pola parte dos poderes públicos? Ao reintegracionismo, nem pam nem água...

Os contactos serám inevitáveis. Há que ir dialogando e explicando o projecto aos organismos oficiais. Algo disso já se está a fazer. A própria AGAL tem tendido pontes de diálogo. Mas certamente será difícil, porque estas pessoas tenhem em geral umha atitude contrária. E por outra parte cabe esperar que o outro sector ligado à Academia actual nom deixará que se interfira no que eles acham é o seu domínio e área de influência. Haverá que trabalhar bem duro neste sentido, porque há muitas calunias que se estám a fazer circular para fomentar umha interessada má imagem do reintegracionismo...

Mesmo pola parte do nacionalismo?

Eu acho que aí estám os ‘piores’. Infelizmente os piores inimigos do reintegracionismo som alguns membros significados do BNG e do nacionalismo em geral.

E nom poderia chegar a ser, paradoxalmente, aplaudida a criaçom desta Academia polos sectores oficialistas por significar, de algumha maneira, a renúncia à batalha pola ‘língua galega’? O próprio nome da Academia poderia sugeri-lo.

Tenho que reconhecer que o nome escolhido, Academia Galega da Língua Portuguesa, foi na prática o único elemento que levantou alguns reparos. O tema nom é fácil, é certo. Mas sejamos sérios. As academias fam-se para a língua do País. Nom para línguas estrangeiras. Outra cousa nom tem sentido. Homem, nos EUA existe a Academia Americana da Língua Espanhola, mas, claro é para os falantes deste idioma, obviamente.

Mas sim, o nome foi debatido, e sempre se pode discutir. Eu estou convencido de que há que falar de língua portuguesa. Já manifestei em 94 que tínhamos que ir renunciando pouco a pouco ao termo de língua galega.

Mesmo internamente, na Galiza?

Mesmo. Bom, internamente talvez se poderia permitir, mas pensa que o termo ‘língua galega’ é muito desorientador. Em primeiro lugar para os próprios galegos. Se se falar de língua portuguesa as pessoas vam pensar que nom vai com elas? Bom, se nom entenderem, explica-se-lhes, nom é? Olha, tu és galego mas falas português. Um português de determinadas características, todo o que quigeres, mas português. Se nom figermos assim, estamos a enganar, em primeiro lugar, os próprios utentes. Se tu lhe chamas de forma diferente é porque falas de entidades diferentes. Há um duplo sentido no termo.

Mas nom seria umha renuncia à batalha polo nome?...

Bom, o que eles defendem é outra cousa. Que é umha língua independente. Se nós falamos de umha língua portuguesa na Galiza estamos falando da nossa língua mas de umha perspectiva diferente. Nom enganaríamos ninguém. De outra forma (com o termo língua galega) enganaríamos em primeiro lugar os próprios galegos. Porque esse empenho no da língua galega, quando cada língua tem um único nome? O caso do espanhol e castelhano é umha excepçom, mas o normal é a unicidade do nome. A nossa é universalmente conhecida como português. Assim continuará a ser por muito que insistamos nós noutro nome específico.

Eu sempre lembro, a este respeito, o que aconteceu ao professor Carvalho Calero quando a princípios dos anos 70 publicou em Portugal um livro intitulado Problemas da Língua Galega. Fora a primeira publicaçom do professor em normativa reintegrada. A verdade é que esse livro tivo muito pouco êxito em Portugal. O mesmo Carvalho me comentava que estava convencido que nom era pola normativa, mas polo título. As pessoas diziam: Ah! da língua galega, que interessante! Mas aí ficava assim a cousa porque o tema era alheio. Nom era a sua língua.

E o reintegracionismo aceitaria plenamente o nome de Língua Portuguesa?

Eu acho que já o aceita maioritariamente. Nom há alternativas. Por exemplo, o nome de galego-português é demasiado longo e remete os portuguesas para a língua medieval.

Mas tu sabes que os movimentos juvenis, políticos e culturais, reintegracionistas normalmente ligados ao mundo do nacionalismo ou o independentismo utilizam quase exclusivamente o nome de língua galega para reforçar a ideia de língua nacional... por exemplo, vem-me agora à cabeça um livro de muito sucesso do professor Maurício Castro, que funciona como umha iniciaçom ao reintegracionismo para os jovens desse mundo: Manual de Iniciaçom à Língua Galega...

Em títulos como este, de um livro que está destinado a galegos e nom a portugueses, é razoável que se apresente assim. Mas sinceramente acho que o problema do nome da língua nom será importante. Haverá um certo choque ou debate intenso, mas este também será positivo porque dará ocasiom a informar e estender a ideia. Se falássemos de língua galega, o debate ficaria fechado logo no início, nom haveria nada a dizer já.

Isso leva-nos directamente à questom normativa. Se se defende o nome de Língua Portuguesa, poderia alguém pensar que na futura Academia grafar de outra forma que nom seja português padrom, será difícil. Como vês esta questom que em definitivo será fulcral, acho eu?

Carvalho Calero dizia claramente que nom se devia excluir umha certa autonomia normativa. Como há noutras línguas, nom é? O brasileiro tem características próprias. e nas demais línguas passa-se mais ou menos o mesmo. Eu acho que na questom da normativa há que desdramatizar muito. Nom devemos pôr-nos tam tensos. Na verdade, se analisarmos as variantes normativas que há dentro do reintegracionismo, desde a normativa da AGAL até o padrom, vemos que é muito mais unitária do que a oficial. Eles tenhem entre ‘comer o caldo’ e ‘comelo caldo’, entre ‘ao’ e ‘ó’, ‘bel’ e ‘ble’, etc., e isto, na prática, som muitíssimas diferenças.

Certo que haverá debate porque há muitas pessoas que querem manter umhas características específicas galegas do ponto de vista grafico. Lembro bem que o próprio Carvalho Calero, que escrevia numha norma que divergia claramente do português padrom, numha entrevista que lhe fijo Freixanes na TVG opinava que nom tinha dúvida que caminharíamos para umha unificaçom total na grafia. Em troca, admitia que onde se poderiam manter certas diferenças, tendo em conta a especificidade galega, era no aspecto morfológico ou léxico, como, por outra parte, acontece noutras línguas, claro. Se tu vês umha gramática que estudam as crianças espanholas nas escolas verás que nom aparecem sequer formas como “tenés”, do espanhol da argentina.

Mas trata-se de formas verbais, e se falamos de umha terminaçom como «-ão» ou «-om» que aparece constantemente na língua...

Mas repara que mesmo dentro dessa forma gráfica «-ão» pode incluir-se a pronúncia galega. Todo o norte de Portugal pronuncia assim, “à galega”, poderíamos dizer...

Parece-se interpretar das tuas palavras que se a futura Academia elaborar um dicionário o determinar umhas normas para a língua usaria-se as terminaçom «-ão».

Isto é avançar-se demasiado num tema polémico quando ainda nom está constituída a Academia, mas bom, há diversas alternativas: poderia defender como preferente «-ão» e admitir-se a outra , ou também dar como válida umha forma mínima a partir da qual se aceitaria a outra como mais avançada, seria precisamente um trabalho importante da Academia após constituída.

Como veriam esta opçom integradora os sectores que defendem a unificaçom total e criticam a norma AGAL por ser, em certa medida, ‘isolacionista’?.

Nom é justa esta atribuiçom de isolacionista à norma AGAL. AGAL defende claramente a unidade da língua mas aceita certas peculiaridades próprias que deveriam manter-se. Sei que este ponto que tu dizes será problemático, mas repara que é precisamente o único ponto de debate sério, porque o resto já se foi limando nestes anos. Pensa na evoluçom da própria normativa da AGAL desde os primeiros tempos até os actuais. Hoje já quase todo mundo escreve ‘uma’ ou aceita terminaçons em «-ões», A evoluçom nestes vinte ou 25 anos é manifesta dentro da própria norma AGAL. E , sim, o único debate intenso será o das famosas terminaçons «-ão»/«-om», polo simbólicas que elas som.

E o tema da ortofonia galega que sempre foi deixado de parte polo reintegracionismo, será tratado na Academia?

Bom, no campo da ortofonia é onde sempre há mais liberdade em todas as partes, e permite-se pronunciar de múltiplas formas.

Mas também é um campo onde a “contaminaçom do espanhol” será mais ampla, nom é? O ‘ceceio’...

Sim, mas está muito claro os elementos que nom som galegos. Aí nom haveria problema em identificá-los. A pronuncia é algo muito pessoal. No espanhol nom tem sentido, por exemplo, fazer falar um canário com pronúncia de Burgos. Seria tortura...

Deve entom a Academia propor umha ortofonia padrom galega ou nom?

Mais do que propor umha, eu acho que deveria indicar que pronúncias som incorrectas. É um pouco o que fazem as Academias, embora nom se metam muito no que som as pronúncias autorizadas. Centram-se mais no que é a língua escrita. Também é certo que se trata de casos onde as línguas estám normalizadas e o conflito com outras línguas nom é tam patente. Há muita diferença entre umhas zonas e outras mas determina-se que todas as pronúncias som correctas. Deveria entom a Academia centrar-se nas pronúncias que som incorrectas.

E o ‘ceceio’ por exemplo...

O ‘ceceio’ nom se pode explicar exclusivamente como castelhanismo. É possível que o facto de estarmos convivendo com o castelhano contribuísse para a sua manutençom. Mas isso nom explica tudo. Nós temos a palavra cedo, por exemplo, que nom existe no castelhano...

Mas é curioso sermos os únicos lusófonos que ‘ceceamos’, e em sequer todos os espanhóis da península...

Claro, porque na conservaçom sim influiu a presença do castelhano ao lado, mas nom nasceu por isso. Já existia. No norte de Portugal tinham umha espécie de ‘ceceio’, ainda que nom era exactamente igual ao que temos na Galiza, mas existia umha sorte de distinçom entre «s» e «c». Foi-se perdendo.

Deixemos temas tam profundos e voltemos ao projecto da Academia. Como serám escolhidos os seus membros? Qual seria o perfil dos integrantes?

Haveria que determinar uns critérios. Em princípio teríamos que criar umha espécie de Comissom Gestora ou promotora, diríamos, formada por dez ou doze pessoas que levem o projecto avante. Depois estabelecer os critérios para ingressarem membros. Em primeiro lugar, tratar do número de membros. A actual Academia agora tem trinta, mas também é certo que nom é de língua. Nem polo nome nem polos estatutos. Acho que menos de 40 membros nom deveria ter a nossa. Depois estariam também os chamados membros correspondentes, que estariam ligados à Academia, participando em certos trabalhos, enfim... com vinculaçom efectiva, como acontece com outras instituiçons semelhantes. Depois está claro que um critério básico terá que ser o de escolher pessoas que defendam claramente a unidade da língua galego-portuguesa.

Claramente... na teoria, com declaraçons reiteradas, ou na prática coerente?

Aí está o problema. Na teoria, felizmente há muitíssimas pessoas que defendem a unidade da língua, mas teríamos que ir directamente àquelas que a defendem na prática; que escrevem e divulgam nos seus trabalhos. Também seria interessante dar preferência a pessoas de maior idade, que estám a defender estas ideias desde há mais tempo, frente aos mais novos, que sempre teriam ocasiom posteriormente de formar parte dela. Há gente de sobra, pessoas que aliás estám sendo marginadas sempre longe dos meios de comunicaçom e ocultada pola oficialidade apesar de terem contribuído notavelmente à posta em valor do nosso património linguístico.

Escritores?

Normalmente o núcleo fundamental é sempre do ámbito linguístico, mas também tenhem presença pessoas destacadas de outros ámbitos sociais, algum informático, engenheiro, escritor...

E as relaçons com as universidades, departamentos de língua, professores de português...

No ambiente universitário há muitos professores que som reintegracionistas. Em diferentes ámbitos. Mas muitos estám marginados porque se os organismos oficiais necessitam dos seus serviços preferem solicitar-los a outros que estejam na sua órbita lingüística. Estám um pouco isolados e, nesse sentido, maltratados polo poder. A Academia deveria tratá-los com o respeito que merecem e solicitar a sua colaboraçom para as trabalhos que foram necessários desenvolver.

Achas que este projecto pode ser um elo de uniom entre os diversos sectores do reintegracionismo, que tenhem tido visons opostas mesmo no nível das relaçons pessoais no passado?

Pode contribuir. Mas nom penses que é tam importante esse confronto. Nom mais do que em qualquer lugar onde haja que lidar com diferenças. Em todo o caso nom mais do que os que tiveram lugar, por exemplo, entre o sector isolacionista na altura da reforma normativa. Mas bom, se se alcançar um acordo inicial, o convívio pode ser gerido melhor. Agradece-se, por exemplo, o comunicado que emitiu o MDL apoiando a iniciativa e vendo-a como umha esperança. Que gente nova como a desta organizaçom veja sem nenhum tipo de preconceito a ideia da Academia é importante para nós, porque assim é como se pode conseguir a unidade.

Também se pronunciou AGAL ao respeito? Porque... como é visto tudo isto na associaçom decana do reintegracionismo?

Nom se pronunciou ainda, mas acho que é porque ainda se está a estudar o projecto. Eu polo que levo visto, também apoia. A mesma CL de que eu fago parte vê-a com bons olhos... Pode haver pessoas que sejam contra qualquer Academia como instituiçom, ou outras que distingam no nome escolhido. Mas em geral acho que AGAL apoiará o projecto. E que há que ver a Academia como um elemento mais na recuperaçom da língua. Estará aí e serviremo-nos dele. Esse é o objectivo.

Mas que papel ficaria para a CL da AGAL?

Bom, nom digo que vaia ser o mesmo... mas repara nos papéis do ILG e a RAG... no campo do oficialismo. Eu acho que nom deveria de haver tensom entre as duas entidades do reintegracionismo. Deveriam colaborar, mesmo. Eu sou da AGAL, membro fundador, e levo com orgulho esta pertença... da mesma maneira que muitas mais pessoas que apoiam a Academia.

 Entrevista Novas da Galiza

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Fonte original:

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António Gil Hernández: «Considero necessário constituir uma Academia Galega da Língua Portuguesa»

António Gil Hernández; desenho de Carmen Novoa Diz (Ginzo de Límia, 1951- Acrunha, 2002) III Seminário de Políticas Linguísticas, a decorrer de 26 a 28 de Março, divulga obra do professor António Gil Hernández e a análise da situação sociolinguística galega actual

PGL - É uma das pessoas chave do impusionamento, em seu dia, do reintegracionismo organizado. Co-fundador da AGAL, o seu muito trabalho dedicado a defesa, promoção e luta pela dignidade do português da Galiza será alvo de estudo, análise e divulgação no III Seminário de Políticas Linguísticas, agendado de 26 a 28 de Março na Faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Santiago e organizado pela Associação Amizade Galiza-Portugal. Do PGL quisemos conhecer em primeira mão alguma das opiniões do Prof. Gil Hernández, que amavelmente nos atendeu.

Após três decadas de trabalho sociolinguístico na Galiza, resta-lhe um algo por fazer ou por oferecer a respeito?

Permito-me avisar que o meu trabalho não é estritamente sociolinguístico nem propriamente sociológico; talvez nem seja trabalho... Eu fui fazendo nos âmbitos do reintegracionismo um jeito de atividades diversas que nem sei como denominar: de IDEAÇÃO?, de ORGANIZAÇÃO? de AÇÃO? Pode ser. Na realidade os meus textos contêm uma mistura desses três aspetos, nem sempre equilibrada. Ousaria afirmar que todos eles se ajustam ao que digo na nota inicial do livro Temas de Linguística Política:

Apenas me aventuro a comentar faces da situação idiomática galega antes por mim ignoradas (ou quase). Exponho-as com o intuito de que outros, cientistas, sábios ou teorizadores, investiguem (e completem) dados, discutam teorias (quase nem esboçadas neste texto), compartilhem (ou não) opiniões e o que houver de saberes: destarte talvez logrem fazer ciência a partir do que nem alcança o rango de experiência arrazoada.

Bom, ao caso: Acho que não me "resta" muito a fazer (depois do feito); talvez me "some" e me "sume" demais. Quero dizer que (pela minha "culpa") estou metido aparentemente num beco sem saída, num enguedelho fatal que, como a droga, cria dependência, embora, a teor da "racionalidade" nacionalista espanhola, careça de futuro. Contudo, é justamente isso que o torna mais aliciante. Pelo menos para mim.

Seja como for, o verso inicial do poema "Penélope", de Díaz Castro, parece ser, para grande parte dos notáveis galegos e dos menos notáveis, o guia das suas atuações: "Um passo adiante e dous atrás, Galiza." Essa, para alguns, teima, mas para mim incitamento e alicerce de racionalização, acompanha-se doutra teima-incitamento, que se compendia no consenso arredor de silêncios sobre pessoas e, mormente, sobre assuntos vitais, que parecem envolver esta Terra.

A AGAL comemora neste 2006 25 anos da sua criação. O que é o mais gratificante para você nos 25 anos de reintegracionismo organizado?

A pergunta, como todas, é inocente, mas a resposta não o será. Vejamos. Enquanto co-fundador [sic] da AGAL, vou aos cornos do touro como forcado, forçado, e respondo:

1.- Satisfaz-me a difusão do reintegracionismo. Tenho na mente protagonistas certos: Pessoas galegas, nadas nesta Terra ou noutras, a julgarem necessário que a Galiza alcance existência digna, como conjunto humano, como sociedade organizada. Um dos meios para o conseguir, a meu ver elementar, é a língua, mas como no mundo das ciências sociais e da política se entende (e funciona): como LÍNGUA NACIONAL.

Cada vez mais pessoas, acho, entendem que a dignidade da Galiza alicerça na dignificação da sua língua e da correlativa rede comunicacional, fazendo com que aquela se torne em LÍNGUA NACIONAL, a começar pela forma (a ultrapasar a ortografia simples).

2.- Porém, não me satisfaz o facto de a concepção reintegracionista, lusofónica, ainda carecer de práticas extensas. De atrás venho dizendo que, se na Galiza houvesse vinte ou trinta pessoas (notáveis) que praticassem consequentemente a Lusofonia, já estaria refreada a "guerra normativa" (que lhe dizem). Portanto, não me agrada que os notáveis (essas possíveis trinta pessoas...) não queiram aproveitar o facto de os países da Lusofonia terem admitido a Galiza nos ACORDOS do Rio (1986) e de Lisboa (1990) a meio da representação de Organizações Não Governamentais. (E não só porque eu estivesse no de Lisboa...)

Nos últimos anos, no entanto, deu a baixa da AGAL. O que é que não gosta da actual linha dessa associação?

Antes de mais nada hei-de dizer que não dei nenhum passo para me retirar da AGAL. Sim reconheço que, como já o tenho explicado em mensagens ao PGL, estou longe bastante dos atuais critérios do Conselho e da Comissom Linguística, de que fiz parte.

Não discuto nem discutirei atividades realizadas ou por realizar; não são essas as que me afastam da AGAL.

Porém, discuto o encravamento, esse ficar detido, como se algum Ente paralisasse a Associaçom e a impedisse aproximar-se do português comum, sob o pretexto de não ser forma adequada às falas galegas. Discuto-o porque os reticentes a essa aproximação (como hispanófonos que também são) têm constância da propriedade do castelhano comum relativamente aos diversos e mesmo divergentes castelhanos que pelo mundo adiante há.

Quando bastantes membros da AGAL singularmente deram o passo às formas comuns e, mormente, quando na Lusofonia está a avançar, apesar de tudo, a assunção do Acordo de Lisboa, que necessitadamente será cumprido num prazo relativamente curto, carece de todo o sentido esse teimar em construir uma norma gráfica galega, face (ou contra) a portuguesa e brasileira.

A meu ver, o trabalho dos notáveis galegos lusófonos deve visar dous pontos, fulcrais:

a) A ORTOFONIA galega. Acho que não é objetivo menor, sobretudo porque o isolacionismo imperante (em que estamos envolvidos) está a "fixar" uma fonia nada galega, descerradamente castelhana, mas castelhana de Castela, nem sequer andaluza ou canária, que em grande medida desvirtuariam menos o sotaque galego (refiro-me ao "sesseio" e à pronúncia apical do S, como é habitual na Costa da Morte). Seja dito pelo direito, sem reviravoltas.

b) O LÉXICO galego (a incluir, por exemplo, preferências sufixais). Bastaria tomar como base e ponto de partida os dicionários Estraviz (galego), Houaiss (brasileiro) e Malaca (português).

Por sinal, vê hipôtese de uma [necessária] unidade de acção do movimento reintegracionista galego? É possível?

Essa unidade foi conseguida em diferentes ocasiões. Deveras a unidade de ação é necessária, como necessária é a diversificação de atividades: Não podem nem devem fazer todos o mesmo; sobejam mais explicações, acho. A unidade de ação deve evidenciar-se nas ações ad extra, para fora da "Comunidad Autónoma de Galicia", face à Galiza "exterior" espanhola (as Astúrias, o Berzo) e face à "Galiza portuguesa", face ao Brasil e os PALOPes e, mormente, face às instituições, como as "Cortes" espanholas ou o Parlamento europeu.

Todavia, há uma unidade prévia, ainda a conseguir, como apontei acima: Deve ser ultrapassado o polimorfismo na escrita, que deve ser comum. Hoje constituir uma norma gráfica galega, simétrica da portuguesa e da brasileira (segundo cá costuma presumir-se) nem para dentro nem para fora tem sentido, porque essas são, apesar de tudo, variedades da norma gráfica comum, enquanto a norma gráfica galega que a AGAL promove não pode ser considerada (a meu ver) simples variedade de aquelas.

Insisto: Faça a Comissom Linguística da AGAL o seu labor, depois de assumir que a Galiza fez parte nos Acordos do Rio e de Lisboa, e forneça ao reintegracionismo todo a ORTOFONIA e o LÉXICO galegos dentro da norma gráfica comum.

Ainda mais: Considero necessário constituir uma ACADEMIA GALEGA DA LÍNGUA PORTUGESA, velha proposta e aspiração do amigo Martinho, que o "Reino de España" dificilmente permitirá, mas que na República portuguesa pode ser legalizada com relativa facilidade. O reintegracionismo galego teria então uma referência comum, para além de associações e mesmo de atividades diversificadas, que contribuiria eficazmente a criar a consciência de universalidade, de que tanto precisam a Galiza e os seus notáveis.

Montero Santalha, de um par de anos para cá, está a divulgar um dado esmagador: Nos dias de hoje apenas 5,3% das crianças se instalam em galego (ou português da Galiza). Quais as causas para termos chegado a essa situação e quais os remédios para revertê-la?

Curiosa e nada paradoxalmente essas causas (e motivações) são re-conhecidas e até compartilhadas por isolacionistas e não isolacionistas. Mas que é o que acontece? Uns refugiam-se sob as instituições espanholas, depois de as declararem "normalizadoras" natas do "galego normativo". Outros (a grande maioria), perante tal razoamento "democrático", caem num estado de catatonia social e idiomática. Por fim bastantes progredimos como podemos... e como nos deixam todos eles.

Opino que do "Reino de España" apenas deve esperar-se (e exigir-se) que, se for estado democrático, cumpra o "Título I" da sua Constitución (1978) e não estorve aos cidadãos espanhóis (que somos) o exercício dos direitos fundamentais. Dos artigos desse Título, acho que os fundamentais são o 10.º § 2 e o 14.º. Vou permitir-me citá-los:

"Las normas relativas a los derechos fundamentales y a las libertades que la Constitución reconoce se interpretarán de conformidad con la Declaración Universal de Derechos Humanos y los tratados y acuerdos internacionales sobre las mismas materias ratificados por España" e "Los españoles son iguales ante la ley, sin que pueda prevalecer discriminación alguna por razón de nacimiento, raza, sexo, religión, opinión o cualquier otra condición o circunstancia personal o social."

Há esperança, porém, para a sobrevivência da língua na Galiza? O reintegracionismo, como proposta e como movimento, pode ainda ser peça-chave?

Se dissesse que não há esperança, seria o mais miserável dos humanos (apesar de tudo, existem castelhanos humanos...). Há esperança enquanto há vida. Contudo, para responder a pergunta, acudo a um critério prático, que enuncio assim:

"Enquanto o "Reino de España" dedique dinheiros e entidades suas (RAGa, ILGa, JdGa, ...) a "normalizar" o "galego normativo", há esperança de o Galego ou português galego poder alcançar, contra esses dinheiros e entidades, a normalidade, prévia à naturalização dos novos utentes."

Por outras palavras: Quando não haja possibilidade de recuo na incorporação de utentes de Galego —falantes e/ou escreventes—, desde esse momento o "Reino de España" deixará de executar [sic] ações "normalizadoras" do seu "galego normativo". Aduzirá "razões" "democráticas", que mais ou menos soarão: "Como la mayoría ya no quiere hablar gallego, no podemos obligar a que se use masivamente. Por lo tanto, dejamos de dar subvenciones y otras ayudas."

De facto assim vem procedendo: Quando nega subsídios porque não é utilizado o "galego normativo". Quando na distribuição de "axudas" não atende à qualidade do texto, mas à obediente fugida de "todo o alleo ó galego". Quando são alternativamente premiados os bons servidores do Reino (o júri de hoje é amanhã objeto de prémio), etc.

Aliás, passaram a reduzir o uso de "galego normativo" nos média ou a enredá-lo com a "copla española" e com visitantes egrégios hispanófonos... É certo que por vezes aparece nas ondas algum lusófono, mas quando, quanto e em que condições?

Seja como for, o Reino está a dedicar dinheiros excessivos e muitas entidades (com gentes que recebem os dinheiros) a "normalizar" o "galego normativo"... Portanto, como acima digo, há esperança para o português galego, para a Lusofonia galaica.

Qual é o papel do reintegracionismo em todo esse processo? Básico e "altúrico". Se os reintegracionistas não tivessem agido e agitado na Galiza, haveria tempo que o processo aniquilador do português galego (e do "galego normativo"!) estaria muito avançado, muito mais avançado do que hoje está. O reintegracionismo, acho, é a base e a altura do processo normalizador da sociedade galega e do consequente processo naturalizador da sua LÍNGUA NACIONAL.

Fonte original:

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Pessoas de diferentes colectivos constituem Associação Pró-Academia

Associação Pró Academia Galega da Língua Portuguesa A nova associação nasce para dar apoio a uma futura Academia Galega da Língua Portuguesa

Luís F. Figueroa - Não é uma novidade a proposta de criação duma Academia galega lusófona, ideia recorrente no movimento reintegracionista desde os anos 80, e finalmente relançada em Outubro de 2006 pelo catedrático da Universidade de Vigo, o professor Martinho Monteiro, durante o V Colóquio Anual da Lusofonia, em Bragança.

Também em 8 de Outubro de 2007 a Comissão Promotora da AGLP realizou uma apresentação da proposta na Faculdade de Filologia da USC, como os académicos Evanildo Bechara e Malaca Casteleiro.

Mas este sábado aconteceu algo de diferente porquanto se deu um processo de Assembleia Constituinte. A data escolhida, 1 de Dezembro, dia da Restauração da Independência e aniversário do primeiro acto público de Nunca Mais, simboliza à perfeição a conjunção das diferentes sensibilidades e posicionamentos sobre a língua das pessoas presentes.

Foi nesta data que cerca de 20 pessoas de diferentes âmbitos e organizações de defesa da língua (entre os quais destacados membros da Associaçom Galega da Língua, Associação de Amizade Galiza-Portugal e Movimento Defesa da Língua) se reuniram na cidade de Compostela com um objectivo comum: apoiar a criação duma Academia Galega da Língua Portuguesa.

Após um intenso e frutífero debate decidiu-se constituir a "Associação Cultural Pró-Academia Galega da Língua Portuguesa" para o qual se aprovaram uns estatutos e uma Junta Directiva composta de 10 membros, prova evidente do compromisso das pessoas assistentes com o projecto. A Associação nascente tem como fim principal colaborar e contribuir para a criação da tão desejada Academia, e realizará todo o trabalho necessário para a sua constituição.

A Comissão Promotora conseguiu reunir neste encontro diferentes pessoas representativas das sensibilidades existentes no reintegracionismo muitas das quais, conscientes do passo à frente que o projecto implica, e da necessidade social de união arredor da defesa da nossa língua nacional, decidiram fazer parte da Junta Directiva desta nova associação, que ficou integrada pelas seguintes pessoas:

  • Presidente: Ângelo Cristóvão
  • Vice-Presidenta: Concha Rousia
  • Tesouraria: Isabel Rei
  • Secretário: António Gil
  • Vogais: Martinho Monteiro, Luís Gonçales Blasco "Foz", Ernesto Vázquez Souza, Francisco Paradelo, Rudesindo Soutelo, Luís F. Figueiroa

Além disso nesta reunião foi apresentado o DVD das Conferências realizadas na Faculdade de Filologia e a sua transcrição, DVD que será enviado gratuitamente a Universidades e centros de investigação lusófonos, Associações Culturais e comunicação social, na próxima semana.

Criação da Associação Cultural Pró-Academia Galega da Língua Portuguesa
1 de Dezembro de 2007

Mais info:

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Catedrático José-Martinho Montero Santalha defendeu em Bragança criação da Academia Galega da Língua Portuguesa

José-Martinho Montero Santalha

Instituição estaria já em processo de constituição
e visaria facilitar a incorporação da Galiza à Lusofonia

Ângelo Cristóvão - O V Colóquio Anual da Lusofonia, que teve por título "Do Reino da Galiza aos nossos dias: a Língua Portuguesa na Galiza", foi o lugar escolhido pelo professor José-Martinho Montero Santalha, catedrático da Universidade de Vigo, para expor e defender a ideia da criação da Academia Galega da Língua Portuguesa.

Foi a Quarta-feira, 4 de Outubro, aos 100 anos da criação da Real Academia Galega, que Martinho Montero Santalha lançou a ideia da constituição de uma academia galega da língua que facilite a incorporação da Galiza à lusofonia.

Entre os motivos expostos pelo professor para esta iniciativa, indica dois principais: a impossibilidade de colaboração com a Real Academia Galega – que, no seu endender, nas últimas décadas adoptou um modelo castelhanizante para o galego –, e a necessidade de a Galiza ter uma instituição capaz de a representar na CPLP e noutros organismos internacionais.

Não esqueceu o professor tratar os possíveis «obstáculos para uma iniciativa deste tipo», como os relativos a questões legais e organizativas. Contudo, considera que podem ser ultrapassados se houver vontade e compromisso com o projecto. Neste sentido fez um chamamento à participação, sem exclusões.

O debate registou nove intervenções do público, a maior parte a favor da iniciativa, enquanto outras, como a do professor Xosé Ramón Freixeiro Mato, apresentaram reticências. A questão mais discutida foi a pertinência do nome da instituição. A respeito disto salientamos algumas respostas de Montero Santalha:

«Continuar a falar de galego é um dos grandes problemas, eu creio que é um dos grandes erros continuar a chamar ao galego língua galega, porque nada ganhamos com isso e perdemos muitíssimo. Quer dizer, chamar-lhe galego por que? Por manter o nosso orgulho? Tiveram o mesmo problema os brasileiros, que utilizaram durante algum tempo no nome língua nacional, por não chamar-lhe língua portuguesa. Todo o mundo lhe chama língua portuguesa».

«A palavra tem uma força terrível, quero dizer, as palavras. Então, chamar-lhe língua galega ao que é língua portuguesa da Galiza para todo o âmbito lusófono é uma maneira de enganá-los, porque é uma maneira de fazer-lhes ver que isso não tem nada a ver com eles. Porque não se chama língua brasileira: chama-se língua portuguesa do Brasil. De modo que esta é uma das causas... Temos que ter uma instituição que para o resto do mundo lusófono seja claramente lusófona: língua portuguesa da Galiza, não língua galega. Esta é precisamente uma das causas de fazer-se [a Academia]».

A gravação do som pode ouvir-se na página web Versão Original, que também disponibiliza a comunicação do professor galego, mais uma transcrição da palestra, que inclui a «exposição de motivos» mais o interessante debate produzido.

Pequena Biografia de José-Martinho Montero Santalha

José-Martinho Montero Santalha nasceu em Cerdido (Galiza) em 1941. Frequentou o Seminário de Mondonhedo e, em Itália, realizou estudos de Teologia e Filosofia (Universidade Gregoriana de Roma). Doutorou-se em Filologia com uma tese sobre as rimas da poesia trovadoresca (em 2000, Universidade da Corunha). Muito cedo aderiu aos movimentos a prol da reintegração linguística, convertendo-se num dos principais promotores.

Durante a sua estadia em Roma (1965-1974) participou no grupo “Os Irmandinhos”, preocupados pela recuperação do galego na liturgia e na sociedade em geral. Nessa altura foi um dos assinantes do “Manifesto para a supervivência da cultura galega”, publicado na revista Seara Nova (dirigida por Rodrigues Lapa) em Setembro de 1974.

A começos da década de 80 participou na fundação de diversas associações culturais galegas, como as Irmandades da Fala, Associaçom Galega da Língua e Associação de Amizade Galiza-Portugal.

Tem publicado numerosos estudos em diversas revistas e congressos internacionais, sendo um dos autores mais prolíficos e respeitados da Galiza lusófona. Actualmente é catedrático de Língua e Literatura galega na Universidade de Vigo (Campus de Ponte Vedra). Alguns dos seus textos mais representativos são:

  • Directrices para a reintegración lingüística galego-portuguesa. Ferrol, 1979.
  • Método Prático de Língua Galego-Portuguesa. Ourense: Galiza Editora, 1983.
  • Carvalho Calero e a sua obra. Santiago de Compostela: Edicións Laiovento, 1993.
  • "A lusofonia e a língua portuguesa da Galiza: dificuldades do presente e tarefas para o futuro". Temas de O Ensino de Linguística, Sociolinguística e Literatura, Ponte Vedra-Braga, Vol. VII-IV, núms. 27-38 (1991-1994), pp. 137-149.
  • Oxalá voltassem tempos idos! Memórias de Filipe de Amância, pajem de Dom Merlim. Santiago de Compostela: Edicións Laiovento, 1994.
  • As rimas da poesia trovadoresca galego-portuguesa: catálogo e análise. Corunha: Universidade da Corunha, Faculdade de Filologia, 2000, 3 volumes, 1796 pp. (Tese de Doutoramento).

Mais info sobre o V Colóquio Anual da Lusofonia:

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"Marinhas del Valle e a Lusofonia na sua obra poética"

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Palestra do professor António Gil Hernández no contexto do ciclo
Língua, Literatura e Naçom
, organizado pela AC 'O Facho'

O vindouro dia 25 de janeiro, terça-feira, o ensaísta e professor António Gil Hernández, falará dentro do ciclo Língua, Literatura e Naçom, organizado pela Agrupaçom Cultural 'O Facho'. A sua palestra terá lugar às 20h00 na Fundación Caixa Galícia (Cantão Grande – Corunha) e versará sobre "Marinhas del Valle e a Lusofonia na sua obra poética".

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Publicada a "Suite Rianjeira" da académica Isabel Rei

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José Luís do Pico Orjais assina artigo no Anuário Barbantia 2010

Acaba de sair a lume o Anuário Barbantia 2010, publicação que todos os anos edita a associação do mesmo nome nas terras da comarca de Barbança. Entre os seus artigos destacamos o assinado por José Luís do Pico Orjais, músico tradicional e diretor do C.E.P. Xosé María Brea Segade de Taragonha (Rianjo), sob o título de "A Suite Rianjeira de Isabel Rei Sanmartim".

Tal e como explica do Pico Orjais, a Suite foi fruto do pedido realizado à professora Rei Sanmartim com motivo da inauguração do Museo Pedagóxico Castelao no C.E.P. Xosé María Brea Segade. Dessarte, no dia 14 de dezembro de 2007 foram abertas as portas do museu e estreada a Suite Rianjeira, sob a direção e guitarra da própria Isabel Rei, acompanhada na voz por Xurxo Varela Díaz e na flauta e adufe polo assinante do artigo.

A Suite Rianjeira resultou da harmonização e instrumentalização de seis peças dos cancioneiros galegos que apareceram recolhidas em Rianjo. Tal e como assinala do Pico Orjais, "apesar de contar com a intervenção ocasional de instrumentos tais como a voz, a flauta ou o adufe, a Suite Rianjeira é uma obra fundamentalmente guitarrística".

"Em certo modo -continua-, a obra resulta uma reivindicação da guitarra de concerto como um meio de expressão ótimo para a música patrimonial do nosso país".

O artigo publica na íntegra, na parte final, as partituras das seis peças que compõem a Suite Rianjeira: Como queres que navegue (alalá), Foliada rianjeira, Todos dizem que me caso (pandeirada), Alalá, Moinheira e Marinheiro de Rianjo.

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O Acordo Ortográfico, 1990-2010

«Na ordem de prioridades da comunidade lusófona deveriam estar em primeiro lugar Timor-Leste e a Galiza»

Ângelo Cristóvão (*) - Duas resoluções adotadas nos últimos dias em Portugal assinalam a culminação do processo de integração institucional do Acordo Ortográfico, que demorou 20 anos a ser completado. Uma é decisão governamental de aplicação das novas regras da escrita no sistema educativo a partir de 1 de janeiro de 2012. A segunda, a votação da Assembleia da República, em 15 de dezembro de 2010, aprovando por unanimidade a proposta do seu presidente, Jaime Gama, para usar o Acordo Ortográfico no Parlamento a partir da mesma data. Isto implica que todas as publicações oficiais e textos escolares irão reger-se pelos mesmos critérios, na República Portuguesa. E acarreta também a criação de novos instrumentos de apoio, como prontuários e dicionários.

Assinado em 12 outubro de 1990 pela Academia das Ciências de Lisboa, Academia Brasileira de Letras e delegações de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, com a adesão da Delegação de Observadores da Galiza, entrará plenamente em vigor depois de importantes órgãos da comunicação social, como os do Grupo Impresa, terem levado à prática progressivamente as novas regras, e de as mais importantes editoras terem publicado dicionários e vocabulários ortográficos conforme ao Acordo, como os da Texto Editora, Priberam informática - com o seu recente FLiP-8 - e a Porto Editora, empresa que acaba de lançar ao mercado a nova edição do Grande Dicionário da Língua Portuguesa.

Estamos observando, portanto, os últimos passos de um processo de decisão política cujas parálises e hesitações chegaram a pôr em questão a capacidade da comunidade lusófona de reunir vontades na questão da língua. No caminho, o texto foi alvo de dificuldades de diversa ordem.

As primeiras estiveram situadas no plano legal. A CPLP aprovou até dous protocolos modificativos do Acordo de 1990. O primeiro, na Praia, em 1998. O segundo, em São Tomé, em 2004, permitindo a adesão de Timor Leste, e a entrada em vigor logo que o terceiro país depositasse os instrumentos de ratificação do Acordo ante o governo de Lisboa. Destarte, em teoria, está em vigor em todos os países assinantes desde o 13 de maio de 2009. Mas governo e parlamento portugueses estabeleceram em março de 2008 um período de transição entre as velhas e as novas regras da escrita, até 2014.

O segundo tipo de dificuldades veio dos movimentos contra o Acordo Ortográfico, nomeadamente em Portugal, chefiados por alguns líderes políticos e mediáticos que, com ampla repercussão na comunicação social, se fizeram ouvir, reunindo até 100.000 assinaturas, o que só conseguiu demorar o processo por breve espaço de tempo.

Uma terceira ordem de questões referiu-se à coordenação no seio da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), onde uma diversidade de circunstâncias políticas e económicas dificultaram o consenso necessário para que a defesa da língua e da sua unidade fizessem parte central das suas políticas. Felizmente, nos últimos anos algumas dúvidas foram sendo esclarecidas, especialmente nos países africanos. A recente tomada de posse na presidência do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), pelo professor brasileiro Gilvan Muller de Oliveira, pode abrir uma nova etapa nessa instituição.

No entanto, restam ainda outros âmbitos de atuação de não menor relevância, como o referido à construção de instrumentos que permitam fomentar e tornar patente a unidade do português, onde até agora eram reconhecidas duas normas para a escrita. A prevista elaboração do Vocabulário Ortográfico Comum será uma primeira prova de capacidade, tanto se for referida aos âmbitos científico e técnico, como entendida na abrangência da língua comum, pois ambas as leituras foram realizadas do texto do Acordo. Para este projeto o presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa, Professor José-Martinho Montero Santalha, já apresentou o contributo galego em sessão conjunta com a Academia Brasileira de Letras e a Academia das Ciências de Lisboa, na capital portuguesa, a 7 de abril de 2009.

Outro foco de atenção é o referido aos espaços em que o português se acha numa situação mais fraca. Na ordem de prioridades deveriam estar em primeiro lugar Timor-Leste e a Galiza. Deixando à margem os percursos históricos e os condicionamentos políticos por que se distinguem ambos os territórios, uma cabal compreensão da questão deveria levar a uma maior atenção e a uma posição mais ativa.

(*) Secretário da Academia Galega da Língua Portuguesa.

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